A motorista de aplicativos Mariana Domingues Fidelis, de 27 anos, foi verbalmente agredida por um passageiro na madrugada deste domingo, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Um vídeo obtido pela Itatiaia mostra as ofensas, proferidas por Rodrigo Palhares Araújo, de 25 anos . Em outras imagens, Mariana aparece machucada e atribui as agressões ao homem que transportava e, também, a Anna Clara Neres Silva, de 22 anos, companheira dele. A motorista disse ter sido alvo de pontapés e puxões de cabelo.
Segundo a condutora, os ataques verbais começaram após os passageiros perceberem que ela ouvia canções religiosas no som do veículo.
Os envolvidos no caso foram a uma delegacia da Polícia Civil prestar informações a respeito do caso. Mariana recebeu atendimento médico na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) JK. Ela encerrou a corrida no local, ao ver que os passageiros estavam exaltados.
A dupla embarcou no veículo no Bairro Glória, na Região Noroeste de BH. O destino era o Bairro Novo Eldorado, em solo contagense.
De acordo com a motorista, a mulher aparentava sinais de embriaguez e entrou no carro portando um copo com bebida. Ela relatou, inclusive, que o conteúdo do recipiente foi derramado no interior do veículo.
Palavrão
No vídeo conseguido pela Itatiaia, o homem xinga Mariana com um palavrão. As imagens vão ao encontro do relato feito por ela à reportagem.
“Vendo que eu estava ouvindo louvor no som do carro, e ela começou a falar da religião cristã, e que crente não prestava. Como ela estava alterada, desliguei o som e perguntei se queria continuar a corrida. Ela disse que sim e continuou a proferir palavras (como) ‘vagabunda’. Eu já estava me sentindo ameaçada e insegura. Procurei um local mais seguro para parar”, disse.
Mariana contou ter caído por causa das agressões físicas. Segundo ela, o ataque só cessou após a intervenção de um guarda municipal. Outro homem, que passava pelo local, a ajudou a se recompor.
“Tive de tomar soro com medicação. Meu olho está todo inchado e estou com o corpo todo dolorido pelas agressões que sofri. Estou totalmente com medo e traumatizada”, contou.
Acusados se posicionam
Segundo Anna Clara, as críticas de cunho religioso não foram direcionadas a Mariana, mas a um amigo do casal, que, segundo a acusada, “se diz cristão, mas não segue aquilo que o cristianismo diz”. O casal afirmou que, a princípio, se recusou a descer antes do destino final.
“Falamos que não íamos descer. Foi quando ela desceu do carro e começou a filmar a gente”, contou Anna Clara. “Todo mundo se alterou, mas em momento nenhum o Rodrigo encostou o dedo nela”, completou.
Ainda conforme Anna Clara, a motorista “bateu” em seu celular. "É a hora em que eu e ela caímos no chão. Eu a agredi e ela me agrediu. Estou machucada, como dá para ver em minha mão. Meus joelhos estão machucados. Minha bolsa, ela rasgou; meu celular, ela quebrou”, falou.
A companheira de Rodrigo disse que, na porta da casa do companheiro, há motoristas de aplicativo protestando contra ele. O rapaz passou a defender o cancelamento da corrida após as proporções do entrevero aumentarem. “Me alterei, mas me alterei com palavras. O vídeo que ela gravou mostra eu xingando ela. Só queria ir embora para a casa e que ela cancelasse a corrida”, falou.
O que diz a 99?
A Itatiaia solicitou um posicionamento à 99, empresa responsável pelo aplicativo que intermediou a corrida. Segundo a companhia, o passageiro teve a conta no app “bloqueada temporariamente” até o fim das investigações.
“O app possui uma política de tolerância zero em relação a qualquer forma de discriminação. A empresa esclarece que irá colaborar com as autoridades. A 99 ressalta ainda que respeito e tolerância são indispensáveis para a permanência na plataforma e toma todas as medidas cabíveis se esses preceitos não forem cumpridos. Além do bloqueio de agressores, a companhia investe proativamente e continuamente em educação e conscientização de motoristas e passageiros. Isso é realizado por meio de treinamentos, mensagens, campanhas educativas e por meio do Guia da Comunidade da 99", lê-se em nota enviada à reportagem.