As ladeiras e morros presentes em praticamente todos os cantos de Belo Horizonte são um desafio no fornecimento de serviços essenciais à população e transporte. No trânsito, as descidas íngremes representam risco, principalmente, para caminhoneiros. No mercado imobiliário, alguns imóveis perdem valor só devido à localização.
“A cidade foi projetada dentro da avenida do Contorno. Então, não se imaginava que um dia essa cidade poderia chegar ao ponto em que chegou. Naquela época, nem caminhão tinha. Foi feito tudo na base da carroça. A elevação se torna uma questão para os caminhoneiros que precisam subir com material de construção ou passar com minério”, disse o presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros José Nathan.
De acordo com ele, a capital mineira tem lugares “extremamente perigosos” para a categoria. “Por exemplo, o Buritis. Lá, liberaram construção em um ponto terrível para chegar. É muito perigoso.”
Ele também destacou os riscos da descida do Anel Rodoviário. “O sentido Brasília foi projetado para descer a 40 km, mas libera para descer a 60 km”, acrescentou.
Segundo José Nathan, a situação piorou nos últimos tempos de GPS. A ferramente pode ajudar muito, mas pode também jogar os caminhoneiros em uma cilada. “A maioria dos caminhoneiros chegava na cidade e pegava o ‘chapa’, que o levava no caminho certo, passando pelo lugar menos perigoso”, disse.
As ladeiras mais fortes da cidade impactam até no valor de alguns imóveis, como conta o gerente administrador da Situa Net Imóveis, Carlos Augusto Braga.
“Quando o cliente tem informação de que é o imóvel fica em uma rua acentuada, ele acaba desistindo da compra. As pessoas preferem ruas planas, arborizadas, largas, próximas de comércios”, contou.
BH tem uma topografia desafiadora. O professor do departamento de cartografia e do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Nóbrega, que auxiliou na elaboração de um mapa inédito de declividade da cidade, explica que há vários desafios a mais para se viver em uma cidade como a capital mineira.
“A gente pode dividir o cotidiano urbano na perspectiva do deslocamento, do transporte e da atividade de saneamento básico. São três perspectivas técnicas que sofrem quando a topografia foge dos valores típicos”, explicou.
Carlos Augusto lembra que nem tudo é problema. “A gente tem os benefícios nesse imóvel mais alto que, geralmente, possui vista melhor e preço baixo. Isso se tornam oportunidade de compra para alguns clientes específicos”, explica. “Clientes mais jovens, por exemplo, não ligam de os imóveis estarem em ruas acentuadas, porque a maioria já faz compras online e não tem muito problema de locomoção”, finalizou.