Pessoas não se vacinaram contra a Covid-19 têm sete vezes mais chance de não vacinarem seus cães, conforme indica uma pesquisa feita pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que investigou o movimento antivacina no âmbito da saúde animal.
O estudo partiu de um questionário online compartilhado em grupos de WhatsApp, Telegram e nas redes sociais, coletando respostas de mais de mil pessoas. Além de indagar aos tutores sobre práticas referentes à saúde — como se receberam a vacina da Covid-19 e se vacinam seus animais com frequência, as perguntas davam conta, também, da situação financeira e da escolaridade deles.
“Classificamos as pessoas por faixas de renda e escolaridade. Questionamos se elas vacinavam os cães, além da frequência que levavam ao veterinário, se usavam homeopatia e se castraram ou não seus cães… Conforme o que a pessoa respondia, ela ia sendo direcionadas a outras perguntas”, explica o professor da UFMG e médico veterinário, Rodrigo Otávio Silva.
Além de concluir que o movimento antivacina atinge também o universo animal, a pesquisa chegou a outras conclusões que ajudam a entender este movimento.
Onde encontrar informações confiáveis
Uma das principais descobertas feitas a partir do questionário aplicado foi a forma com que os tutores de cães se informam. Com o direcionamento das perguntas, os pesquisadores descobriram que quem vacina o pet de forma sistemática costuma se informar com médicos veterinários. Já os tutores que optam por não vacinar os animais tendem a confiar mais em mensagens recebidas nas redes sociais.
“A mídia social é uma fonte de muita desinformação, e esse tipo de perfil dá uma ideia de saúde contrária às redes de produtores de vacina. Elas [redes sociais] vendem muito bem essa ideia contra a indústria farmacêutica. Para a gente lutar contra o movimento anti-vacina, a gente precisa divulgar informação”, comenta Rodrigo Silva.
Falta de confiança na ciência
A pesquisa da Escola de Veterinária da UFMG também conseguiu relacionar o movimento antivacina com práticas sem comprovação científica, como o uso da homeopatia e a recusa em castrar os animais.
O veterinário Rodrigo Silva explica que a homeopatia é uma prática amplamente utilizada, mas que não teve comprovações da sua eficácia no meio científico. Desta forma, o questionário mostrou que pessoas que se recusam a se vacinar e a vacinar seus cães, também tendem a seguir outras práticas que não são incentivadas pela ciência.
“O questionário mostra, então, que duas práticas que não são recomendadas do ponto de vista científico estão caminhando juntas. Outro achado interessante é que as pessoas que não vacinam seus cães têm uma tendência oito vezes maior de não castrá-los, mostrando novamente uma menor aderência a uma prática científica. A castração é recomenda e traz uma série de benefícios ao cão”.
Motivos que levam tutores a não vacinarem seus cães
Um dos resultados mais importantes do questionário foi entender a motivação dos tutores a não vacinarem seus cães. Segundo o médico veterinário, o principal motivo é a falta de crença no custo-benefício do imunizante.
Isso porque 60% dos entrevistados responderam que não aplicam as vacinas por questões financeiras, mas o questionário não demonstrou nenhuma relação entre renda e a prática antivacina. Ou seja, entre quem respondeu que não vacina seus animais, existiam tutores com boa e má condição financeira.
“Entre diversas opções, 60% dos tutores que relataram não vacinar seus cães afirmaram que não fazia por uma questão de custo. Ou seja, inicialmente pensei que isso tinha uma relação com a renda, que tutores tinham uma dificuldade financeira para pagar aquelas vacinas. Mas, quando a gente avaliou a relação entre a renda e a ocorrência da não vacinação, a gente percebeu que não havia ligação nenhuma”, explica o médico veterinário.
Qual vacina é essencial para o pet?
Duas vacinas são indispensáveis no calendário animal, conforme detalha o médico veterinário Rodrigo Silva: raiva e múltipla — que protege contra doenças como cinomose, parvovirose e leptospirose. Entre elas, apenas a antirrábica é ofertada gratuitamente pelo município.
Anualmente, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) organiza a vacinação em massa para animais — gatos e cães.
“A vacina contra raiva é essencial porque pode ser transmitida para humanos. Passamos muito tempo sem casos, mas, foram recentemente registrados alguns casos de raiva em Minas Gerais”, cita o médico veterinário.
Além da aplicação das vacinas, outras práticas são essenciais para garantir a saúde dos animais. Uma delas é o uso de repelentes ou de coleiras inseticidas, que evitam que cães sejam picados pelo mosquito-palha, transmissor da
“A medicina baseada em evidências mostra que a vacinação recorrente é muito benéfica para a saúde do animal e segura. As redes sociais vendem algumas ideias de saúde que, na verdade, não têm respaldo científico nenhum. Eu não tenho dúvida de movimento anti vacina chegou e vai crescer em pequenos animais, e eu acho que a gente vai ter muito problema”.