A rede hoteleira de Belo Horizonte encolheu 23% desde o fim da copa de 2014, com o fechamento de um a cada quatro estabelecimentos do setor na cidade. O dado integra um levantamento exclusivo feito a pedido da Itatiaia pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas. A entidade é categórica ao afirmar que o setor vive a pior crise da história na cidade ao observar o número de hotéis cair de 173 para 133.
O fechamento de mais de quarenta estabelecimentos leva a cidade ao mesmo patamar observado antes da Copa do Mundo, há quase dez anos. E o cenário de encolhimento da rede pode se intensificar a partir do próximo ano.
“A lei da Copa do Mundo, a lei de incentivo impôs aos novos hotéis a permanência no mercado por dez anos. Daqui a um ano, vence esse prazo. Então alguns desses hotéis terão o direito legal de deixar de ser hotéis, se quiserem. Obviamente, a Copa do Mundo durou só 30 dias. Foi um período muito bom para hotelaria, mas 30 dias não é nada diante da vida útil de um hotel — que é de, no mínimo vinte, 25 anos”, explicou o consultor hoteleiro da associação, Maarten Van Sluys.
Reflexos no comércio
Dos 43 hotéis que fecharam as portas nos últimos dez anos em BH, 17 estão completamente parados sem nenhuma atividade ou destinação futura. São mais de 1.300 quartos ociosos. Nessa lista, está o icônico Othon Palace, na avenida Afonso Pena, no Centro da cidade, que encerrou as atividades em 2018 após quarenta anos em operação.
Desde então, a economia da região perdeu força com a demandada de clientes. É o que expõe a operadora de caixa de uma loja que fica ao lado do antigo hotel. “As vendas caíram após fechamento porque vinham muitos turistas, muita gente de fora. Vendias muito”, disse Emily Caroline.
O Jadson Júnior dos Santos é cabeleireiro e tem um salão na galeria do antigo hotel há dezoito anos. Após o fechamento do Othon, a luta de quem trabalha no local para manter o negócio de pé ficou mais difícil. “Quando o hotel estava aberto, a gente conseguia atender, em média, 10 ou 12 clientes por dia. Hoje, a gente atende quatro, cinco. Tem semana que a gente trabalha bem e tem dia que a gente não trabalha”, lembrou.
Falta de incentivos
Além da pandemia da covid-19, que desaqueceu o setor, e de uma rede de hotéis maior que o necessário, entidades criticam a burocracia e a falta de políticas públicas que ajudem a promover a capital mineira como um destino turístico e de negócios,
Para o vice-presidente da Associação Brasileira da indústria de hotéis de Minas, Rodrigo Cançado, se os governantes não se aproximarem do setor para buscar uma solução, outras unidades serão fechadas.
“A hotelaria de Belo Horizonte está mais pobre do que era. Mas, eu entendo que, se a gente conseguir juntar o privado com o público, nós temos chance de ter uma Belo Horizonte cada dia melhor. Se não tiver uma volta mais forte do turismo de negócio, a gente pode registrar perdas de hotéis”, explicou.
Para sobreviver alguns estabelecimentos mudaram o formato do negócio e passaram a alugar os quartos por temporada ou como mini apartamentos. Os hotéis de Belo Horizonte tem atualmente 14.153, apartamentos ativos. Estudos do setor apontam que com 10 mil quartos seria possível atender toda a demanda.