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Biomédica deve responder por homicídio após morte de paciente que fez lipoaspiração em Divinópolis (MG)

Policiais afirmam que cirurgia era de “médio a grande porte” e local não possuía os equipamentos necessários; depoimento da biomédica “não convenceu” investigadores

Biomédica deve responder por homícidio doloso após morte de paciente

A biomédica responsável pela lipoaspiração de Íris Nascimento, que morreu horas após o procedimento em Divinópolis (MG), deve responder por homicídio doloso. A informação foi confirmada pela Polícia Civil durante coletiva de imprensa nesta terça-feira (9).

Segundo o delegado Marcelo Nunes Júnior, um dos responsáveis pelo caso, foram identificadas “inconsistências” durante o depoimento inicial da profissional médica, o que levou os investigadores a autuarem a suspeita por homicídio com dolo eventual. A enfermeira que participou da lipoaspiração manteve o silêncio durante o depoimento.

“Ela não quis matar a paciente, mas vai responder pelo fato que ocorreu. A versão dela não me convenceu. Mas a investigação continua, estamos analisando documentos e pedimos acesso às câmeras da clínica e da região. Vamos apurar se ela, como biomédica, poderia fazer esse procedimento.”

O médico-legista Lucas Henrique Oliveira Amaral deu detalhes sobre o caso. Ele classifica a intervenção realizada na clínica como “cirurgia de médio a grande porte”, que deveria ser realizada em um Centro de Terapia Intensiva (CTI). O perito encontrou grandes quantidades de sangue e gás na camada logo abaixo da pele.

“É uma concentração significativa de sangue, vários hematomas. Isso aponta que houve uma manipulação significativa em uma grande área do corpo da vítima, no tecido subcutâneo”.

Segundo a Polícia Civil, uma cirurgia como essa precisa da presença de um médico e também de um anestesiologista, além de equipamentos para avaliar a saúde do paciente em tempo real. No local, não foi encontrado monitor cardíaco, o que levou os investigadores a afirmarem que “aquele não era o local adequado para uma cirurgia desse porte”. Os policiais afirmam, inclusive, que não encontraram o local preservado.

Outro equipamento que não estava no local era o aparelho de laser, divulgado nas propagandas da biomédica pelas redes sociais. A profissional divulgava que os procedimentos eram feitos sem corte justamente por conta desta máquina. Segundo a investigação, a cirurgia começou enquanto o equipamento estava a caminho. No momento em que a paciente começou a passar mal, o aparelho foi dispensado e, por isso, nem chegou à clínica.

De acordo com os investigadores, a paciente Íris Nascimento teve uma parada cardiorrespiratória que foi revertida após 25 minutos de ressuscitação. Pouco depois, ela sofreu outra parada. O Samu foi acionado e a paciente foi levada para o Hospital São João de Deus durante a manhã de segunda (8), dando entrada em estado gravíssimo com perda significativa de sangue. Íris morreu durante a noite de segunda.

Irregularidades

A clínica da biomédica responsável pela cirurgia coleciona denúncias por suposto uso do registro médico de terceiros, omissão de socorro e até uso de medicamentos proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A instituição chegou a ser interditada em 2021, recebendo autorização para realizar apenas procedimentos pouco invasivos. O espaço foi novamente fiscalizado em novembro de 2022, quando foi emitida a renovação do alvará sanitário.

Entenda o caso

Íris Dorotea Nascimento Martins, de 46 anos, morreu nesta segunda-feira (8) após passar por um procedimento estético em uma clínica em Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. A cirurgia foi feita por uma biomédica de 33 anos, sem nenhum tipo de exame prévio.

De acordo com o boletim de ocorrência, a mulher teria fechado o acordo para a lipoaspiração por R$ 12 mil. O marido da vítima relatou aos policiais que a suposta médica não pediu risco cirúrgico para o procedimento e nem outros exames.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.