Mais de 17 horas de julgamento, imagens de um crime cometido ao vivo nas redes sociais, dez testemunhas ouvidas e uma sentença de absolvição que causou revolta na família da vítima. Assim foi o julgamento de Jorge Marra, 62 anos, irmão do prefeito de Patrocínio, no Alto Paranaíba, que matou a tiros o vereador Cássio Remis dos Santos, de 38, em setembro de 2020. No momento do crime, o parlamentar fazia uma live para denunciar supostas irregularidades em obras da prefeitura.
Os jurados aceitaram a tese da defesa do acusado, de que teria agido por legítima defesa. No entanto, imagens da live de Cássio mostram que Jorge Marra saiu de um carro, tomou o celular da vítima e voltou ao veículo. Remis procurou Jorge na secretaria de obras para pegar o telefone de volta, mas o irmão do prefeito atirou e fugiu correndo. A fuga foi registrada por câmeras de segurança.
A reportagem da Itatiaia acompanhou o julgamento e registrou as reações no plenário. Do lado do acusado, comemoração. Entre os parentes da vítima, muita revolta.
“Cássio não morreu, né? Vou voltar pra minha casa e ele vai estar lá me esperando. Acho que vai estar lá de braços abertos para me esperar, porque ele não morreu. Foi provado aqui, os jurados confirmaram que ele não está morto, que ele não levou tiros na cabeça. Então, provavelmente, devo chegar lá na minha casa agora e devo encontrar, segundo os jurados, com o meu marido em casa”, afirmou Nayara Remis, esposa da vítima, em tom irônico. “Estou extremamente decepcionada com a decisão”, completou.
O advogado que representa a família da vítima, Márcio Grossi, assistente da acusação, informou que o Ministério Público recorreu da sentença. “Já recorremos. Agora, vamos apresentar as razões no Tribunal de Justiça, conforme estabelece a lei”, acrescentou.
A reportagem tentou contato com os familiares do secretário absolvido, mas todos saíram rapidamente do fórum sem falar com a imprensa.
Os advogados de Marra sustentaram que ele cometeu o crime para se defender. “Os jurados absolveram Jorge Marra pois entenderam que ele agiu em legítima defesa. Como foram encontradas armas em seu poder, ele foi condenado pelo porte de arma a uma pena de dois anos, que no entanto já tinha já tinha sido cumprida. O juiz expediu, imediatamente, o alvará de soltura”, explicou Sérgio Leonardo, advogado do ex-secretário.
Condenado por porte de arma
Jorge Marra, que estava preso na Penitenciária Deputado Expedito de Faria Tavares desde 2020, foi acusado por homicídio qualificado - por motivo torpe e uso de meio que impossibilitou a defesa da vítima - além de porte ilegal de arma de fogo.
Por estar armado, foi condenado por porte ilegal de arma de fogo a dois anos no regime semiaberto - período que já foi cumprido por ter aguardado o julgamento preso.