Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) publicaram uma carta na seção Cartas ao Editor do World Journal of Psychiatry alertando para o aumento do consumo de álcool, maconha, analgésicos, tranquilizantes e outros medicamentos entre idosos. O fenômeno foi classificado pelo Painel Internacional de Controle de Narcóticos (INCB/2021) como uma “epidemia silenciosa”.
O texto, assinado pelo psicólogo e pesquisador Kae Leopoldo, do Instituto de Psicologia da USP e do Instituto Perdizes do Hospital das Clínicas (HC), e pelo psiquiatra João Maurício Castaldelli Maia, também da USP, defende o fortalecimento de políticas públicas voltadas à “literacia em dependência química”, a capacidade de compreender riscos e tomar decisões seguras sobre o uso de substâncias.
Os pesquisadores analisaram artigos internacionais sobre dependência química em pessoas acima de 60 anos. O levantamento abordou impactos físicos e mentais, o papel da alfabetização em saúde e o aumento do consumo de drogas nessa faixa etária.
Segundo Leopoldo, há urgência em políticas voltadas à conscientização:
“Os idosos são um grupo de risco para diversos problemas de saúde, e o aumento do consumo de drogas nessa faixa etária já é considerado uma epidemia mundial”, disse ele em entrevista à USP.
Um dos estudos citados, realizado por pesquisadores da Universidade de Huzhou, na China, aponta que o isolamento social pode agravar o sofrimento psicológico entre idosos, aumentando o risco do uso de substâncias. O levantamento com 254 participantes mostrou que a falta de alfabetização em saúde está associada a maior vulnerabilidade emocional e defende o investimento em ações educativas e de fortalecimento social.
Outro destaque é sobre o crescimento do uso de cannabis entre pessoas com mais de 60 anos, analisado em uma revisão de 134 estudos feita por pesquisadores canadenses. Segundo o artigo, a legalização da substância em alguns países impulsionou o consumo entre idosos, mas seus efeitos terapêuticos ainda são inconsistentes.
“Embora muitas vezes utilizada para aliviar dor ou insônia, a substância pode agravar problemas de saúde, sobretudo quando associada a outros medicamentos”, alertou Leopoldo.
Os efeitos adversos mais comuns incluem depressão, ansiedade, déficit cognitivo, acidentes e maior procura por serviços de saúde. Os pesquisadores reforçam que a falta de informação sobre riscos torna os idosos mais vulneráveis.
Entre as medidas sugeridas estão campanhas educativas em centros comunitários e unidades de saúde, além de ações digitais voltadas à terceira idade. As iniciativas devem abordar o uso seguro de medicamentos, os riscos de misturar substâncias e a importância da abstinência em muitos casos, além de promover espaços de diálogo sem preconceitos.
“Fortalecer a literacia em dependência química pode ajudar os idosos a buscar apoio adequado e tomar decisões mais seguras sobre o uso de substâncias”, concluiu Leopoldo.