Influenciador Hytalo Santos e marido viram réus por exploração de menores e tráfico de pessoas

Justiça do Trabalho aceita denúncia que aponta que o influenciador submetia menores a isolamento, controlava rigidamente a rotina deles e os mantinha sem qualquer remuneração

Influenciador Hytalo Santos e o marido Israel Natan foram presos

O influenciador Hytalo Santos e o marido dele, Israel Nata Vicente, conhecido como Euro, agora são réus por tráfico de pessoas, exploração sexual e submissão de crianças e adolescentes a trabalho análogo à escravidão, após o Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciar o casal. A informação foi divulgada pelo portal “G1".

A ação trabalhista abre uma nova frente contra Hytalo, que já é investigado criminalmente por produzir conteúdos envolvendo exploração sexual de adolescentes.

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Controle

De acordo com o MPT, crianças e adolescentes de famílias de baixa renda em Cajazeiras (PB) eram aliciados pelo casal e levados para viver na casa deles em João Pessoa. O órgão descreve a situação como uma tentativa de montar um “arranjo familiar clandestino”, sem qualquer base legal.

Uma vez instalados na residência, os jovens teriam sido submetidos a um conjunto de práticas que, somadas, configuram condição degradante:

  • afastamento da família e do círculo social;
  • retirada de celulares e meios de contato externo;
  • impedimento de circular livremente;
  • vigilância constante sobre horários, rotina e comportamento;
  • gravações diárias até a exaustão, com relatos de privação de sono;
  • falta de pagamento pelas atividades realizadas;
  • manipulação emocional e ameaças veladas;
  • interferência até mesmo na identidade de gênero e orientação sexual dos adolescentes.

Além do controle rígido, o MPT afirma que meninas foram expostas de forma sexualizada nas redes sociais, levadas a festas e a ambientes impróprios para menores e submetidas a procedimentos estéticos destinados a aumentar o apelo sexual de suas imagens.

O órgão ressalta que qualquer alegação de consentimento, (seja dos adolescentes, seja de seus pais) não tem validade jurídica. Para o MPT, os menores não têm maturidade suficiente para compreender o tipo de violência sofrida, e alguns responsáveis teriam aceitado auxílio financeiro, presentes e favores oferecidos pelo influenciador, o que fragiliza ainda mais a relação de poder.

Participação dos pais

O Ministério Público afirma que pais e mães também contribuíram para o cenário de vulnerabilidade. Ao autorizarem a mudança dos filhos para outro estado e abrirem mão da supervisão escolar, social e médica, muitos responsáveis “se afastaram da missão de proteger e educar”, permitindo que as crianças fossem submetidas às práticas denunciadas.

Embora reconheça a responsabilidade, o MPT optou por não incluí-los como réus patrimoniais na ação trabalhista. Entretanto, o órgão pede que a Justiça imponha regras claras aos responsáveis, como:

  • proibição de participação de menores em conteúdos sexualizados;
  • vedação de qualquer forma de exploração sexual;
  • impedimento de envolvimento em atividades enquadradas entre as piores formas de trabalho infantil.

Em caso de descumprimento, o MPT solicita que haja multa.

Bloqueio de bens e atendimento

Para garantir eventual pagamento de indenizações, a Justiça do Trabalho já determinou o bloqueio de bens, valores e empresas ligados ao casal, podendo chegar a R$ 20 milhões.

Também foram enviados ofícios a órgãos de proteção para que as vítimas recebam imediatamente assistência médica, psicológica e social.

Indenizações pedidas pelo MPT

O Ministério Público do Trabalho requer que Hytalo e Euro paguem:

  • R$ 12 milhões por danos morais coletivos;
  • indenizações individuais entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões para cada criança ou adolescente vítima de exploração.

Para menores de idade, o MPT pede que os valores sejam colocados em poupança bloqueada, liberada apenas quando completarem 18 anos.

Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.

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