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Consumo de álcool cai no Brasil, mas abuso entre mulheres e adolescentes preocupa

Levantamento aponta queda no número de pessoas que bebem, mas consumo pesado e precoce cresce em parte da população

Consumo de álcool cai no Brasil, mas abuso entre mulheres e adolescentes preocupa

O Brasil registrou queda no número de pessoas que consomem bebidas alcoólicas, mas entre quem bebe, o consumo continua elevado. Segundo a 3ª edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), a média semanal é de 5,3 doses por ocasião de consumo entre adultos, indicando padrões nocivos em parte significativa da população.

O estudo, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), foi divulgado nessa quarta-feira (24). Conforme a pesquisa, a proporção de brasileiros que bebem caiu de 47,7% em 2012 para 42,5% em 2023. Cerca de 25,5 milhões de pessoas deixaram de consumir álcool, tornando-se ex-bebedores.

Mulheres e adolescentes em destaque

Entre as mulheres, o consumo de álcool cresceu de 31,2% em 2012 para 47% em 2023, aproximando-se do índice observado entre homens.

Entre adolescentes de 14 a 17 anos, mesmo com a proibição da venda para menores de 18 anos, os índices são elevados, com meninas superando os meninos em todas as faixas de consumo:

Consumo na vida - 25,8% dos meninos x 29,5% das meninas;
No último ano - 16,7% dos meninos x 21,6% das meninas;
No último mês - 8,5% dos meninos x 12,4% das meninas.

Segundo a secretária nacional de Políticas sobre Drogas, Marta Machado, os dados são preocupantes, principalmente devido à cultura permissiva em relação ao álcool. “Os números mostram aumento do consumo pesado e iniciação precoce, especialmente entre adolescentes e mulheres. Pesquisas são fundamentais para desenhar políticas públicas eficazes”, afirmou.

A pesquisadora e coordenadora do Lenad, Clarice Madruga, alertou sobre os riscos do consumo precoce entre jovens. “O álcool pode afetar o cérebro em desenvolvimento, gerar consequências permanentes e aumentar o risco de transtornos ao longo da vida. Meninas já apresentam taxas de consumo superiores às de meninos, muitas fazendo uso abusivo. É necessária a implementação de políticas públicas específicas”, disse.

Informação e monitoramento

Durante o lançamento do Lenad, a diretora de Pesquisa, Avaliação e Gestão da Senad, Bárbara Caballero, apresentou a página 'Álcool na Política sobre Drogas do Obid’. A ferramenta reúne os principais indicadores sobre o consumo de álcool, permitindo que pesquisadores, gestores e a sociedade acessem informações atualizadas e baseadas em evidências.

Políticas de preço e taxação

Durante a divulgação da pesquisa também foi lançado o ‘Caderno de Debates’ - Políticas de Preço de Bebidas Alcoólicas, elaborado pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em parceria com a Senad. A pesquisadora Lísia von Diemen reforçou que a redução da disponibilidade e do preço do álcool, restrição à publicidade e medidas contra a direção sob efeito da bebida são estratégias fundamentais para reduzir o consumo.

“Políticas isoladas não têm impacto suficiente. É preciso atuar em todas as frentes, do preço à prevenção, da educação à intervenção precoce, garantindo que o consumo de risco seja detectado e tratado antes que evolua para transtornos”, afirmou Lísia, destacando o aumento da exposição de jovens, principalmente mulheres e adolescentes, com novos modos de acesso como delivery.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.