‘A favela precisa perceber que ela é importante para a economia’, diz Celso Athayde

Quase 18 milhões de brasileiros moram em favelas e comunidades e e mais de 40% deles possuem um negócio próprio, segundo dados do último Data Favela. Mas apesar de tantos moradores de periferia empreenderem, eles não se veem como empreendedores. É o que diz Celso Athayde, empresário, fundador da Central Única das Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding, conjunto de empresas e startups de periferia.

Em entrevista exclusiva à Itatiaia, Celso Athayde exaltou a potência e a resistência dos empreendedores de favela, mas explicou que a imprensa e os “empreendedores do asfalto” precisam entender o que essa população está fazendo.

“Às vezes, a favela espera o asfalto ‘revelar’, valorizar o que ela faz para perceber que o que ela faz é importante. Nosso objetivo é a construção de parcerias, reunir pessoas para falar de negócios e não para falar de cesta básica. Acho que essa mudança de paradigma é o ‘start’ de um novo processo de massificação da ideia de que as pessoas são potentes e que elas precisam ter a sua produção revelada.”

O Data Favela também revelou que as maiores dificuldades enfrentadas pelos empreendedores são a informalidade, a falta de capital e problemas na gestão. Celso Athayde acredita que a qualificação desses empresários pode ser a chave para o crescimento.

“Na medida em que você estuda melhor aquilo que você faz, você abre os teus olhares e passa a ter um olhar para além da favela. Então se você é um empreendedor da favela que vende somente para aquele lugar, hoje a globalização te permite pensar para além da tua rua, do teu espaço físico.”

“Se existe um conselho que eu posso dar para esses empreendedores de favela é: estudem, se formem, se qualifiquem e construam a maior quantidade possível de informações. É a partir disso que você vai mudar o seu negócio, vai construir o seu negócio e vai, possivelmente, reconstruir a sua favela.”

Expo Favela Minas 2023

Celso esteve em Belo Horizonte nesta quinta-feira (3) para fazer o lançamento da Expo Favela Minas, edição regional do evento lançado por ele em 2022, em São Paulo. Além de 150 expositores, a feira de negócios vai contar com rodadas de negócio, palestras, workshops, exposições, debates, cursos, desfiles e shows musicais. Celso espera que o evento “conecte o morro com o asfalto”.

“A gente também sabe que existem muitos fundos de investimentos que querem apostar em ideias. Então é preciso que a gente conecte essas pessoas, que sequer sabem o que é um fundo de investimentos. Eles só vão poder ascender socialmente e economicamente à medida em que eles tiverem informações. A democratização dessas informações é o que vai fazer com que esses empreendedores tenham uma performance melhor.”