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Mãe acusa hospital em SP de negligência após a morte de gêmeo: “foi puro abandono”

Mulher alega que bebê morreu asfixiado ao engasgar com o leite; MP investiga o caso

Os pais de um bebê que morreu dois dias após o nascimento acusam a Maternidade Santa Joana, em São Paulo, de negligência médica. A criança era gêmea e nasceu saudável. Segundo a mãe, que é médica otorrinolaringologista, as crianças foram levadas para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal logo após o parto. Marília Panontin alega que os filhos ficavam longos períodos sem supervisão e assistência médica.

Os gêmeos Davi e Lara nasceram no dia 1º de julho deste ano. Segundo a equipe médica, as crianças precisavam ir para a UTI para receber uma monitoração contínua, já que nasceram prematuras. No dia seguinte, Marília conta que o boletim médico informava que as crianças estavam bem e estáveis.

No dia 3 de julho, por volta das 4h, a mãe foi acordada pelo marido, que estava abalado e chorando, e duas médicas. As mulheres informaram que Davi havia sofrido uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

A mãe alega que o bebê morreu asfixiado, após se engasgar com o leite. Segundo ela, o hospital teria forjado a causa da morte. A unidade de saúde afirma que não detectou qualquer descumprimento de protocolos assistenciais. A Promotoria de Justiça de Direitos Humanos (Saúde Pública), do Ministério Público de São Paulo, investiga o caso.

Equipe médica alegou ‘problema cardíaco’

Horas antes de o bebê morrer, Marília conta que foi até a UTI e estava tudo bem. Ao ser informada da morte de Davi, ela se perguntou o que poderia ter acontecido. “Comecei a questionar e a gritar o ‘por quê, o que havia acontecido?’, uma vez que tínhamos visto o nosso filho poucas horas antes. Questionamos a demora em nos acionar. Se a parada cardíaca teria se dado por volta das 2h, qual o motivo de só termos sido chamados praticamente às 4h?”, disse Marília.

“O corpo do meu filho já estava com a pele bem pálida, arroxeada, e com o corpo frio. Estava claro que não havia acabado de falecer! Fiquei destruída com aquela cena! Mesmo aos prantos, voltei a perguntar por que eu nem tive a chance de pegar meu filho no colo quando ele ainda estava quente”, desabafou.

A mãe disse que insistiu com as médicas para entender a causa da morte. Segundo ela, as profissionais reafirmaram que o bebê teria morrido por morte súbita. Elas teriam dito que Davi poderia ter um problema cardíaco que ocasionou uma arritmia.

“Eu disse a elas que aquela alegação não fazia o menor sentido. Que eu havia realizado, inclusive, ecocardiograma fetal durante a gestação, naquela mesma maternidade, cujo laudo havia demonstrado a normalidade das condições cardíacas de Davi, sem quaisquer anomalias no coração”, contou a mãe.

Prontuário revela broncoaspiração

A mãe conta que assim que soube da morte do filho, pediu para ver as folhas de controle da UTI. Segundo ela, havia a descrição de engasgo e anotações incompatíveis com a história contada pelas médicas. “Se meu filho havia entrado em parada cardíaca às 2h, como poderia haver anotações de que, neste mesmo horário, ele estava com sinais vitais normais?”, questionou.

Após receber o prontuário médico, no dia 5 de julho, Marília pediu a opinião de diferentes profissionais de saúde. Ela conta que todos encontraram indícios de negligência médica, fraudes e ocultação da causa da morte. “Davi sofreu um quadro de engasgo e faleceu em decorrência de uma asfixia por broncoaspiração”, alega.

O fim de um sonho

A gravidez dos gêmeos era a realização de um sonho do casal. Marília fez mais de 35 ultrassons na unidade e esperava ansiosa pela chegada de Davi e Lara. “Eu queria muito esses bebês. Vocês não têm ideia do quanto eu queria esses bebês. Ele não era um bebê não planejado, não querido, não amado”, afirma. “Eu preferia que isso tivesse sido feito comigo. Agora, ele não teve o direito de viver”.

“Foi puro abandono, além de fraude. Na hora que aconteceu, eu estava tão frágil, chorando, que começaram a me chamar de louca, que isso nunca aconteceria. Me fez esquecer quem era. Você esquece quem você é, não importa se é médica, delegado. Na hora, você não é nada”, contou.

(Sob supervisão de Marina Dias)

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.
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