Dados divulgados nesta quinta-feira (20) pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, enquanto o Brasil teve uma queda no número de homicídios em 2022, o número de estupros foi o maior da história. Segundo os dados, foram cerca de 6,2 mil casos registrados por mês, ou 205 por dia, o que representa um aumento de 8,2% em comparação a 2021.
O número de registros de feminicídio também cresceram 6,1% quando se compara 2021 e 2022. O último ano teve cerca de 1.437 casos registrados de feminicídio no país. Já quanto aos dados de violência doméstica, o número saltou de cerca de 238 mil registrou em 2021 para 246 mil em 2022.
Ao mesmo tempo, a taxa de mortes violentas caiu 2,4% no país em 2022 na comparação com 2021, passando de 24 a cada 100 mil habitantes para 23,4. Em números absolutos, 2022 registrou 47.508 homicídios violentos. Essa é a menor taxa desde 2011, o primeiro ano da série histórica.
Então, por que o país registrou recorde de casos de estupro, mas o menor número de homicídios violentos?
A Itatiaia conversou com o sociólogo especialista em segurança pública, Luis Flávio Sapori para tentar entender. O especialista acredita que os dados não mostram que houve um aumento no número de estupros, mas um aumento no número de registros e, consequentemente, a diminuição da subnotificação do crime.
“Quase 80% dos estupros hoje no Brasil envolvem pessoas conhecidas das vítimas, no ambiente doméstico, e quase 70% das vítimas são menores de 14 anos, nós estamos falando do estupro de vulnerável. Eu diria que nós estamos tendo hoje uma noção mais precisa da magnitude do fenômeno, e eu não estou convencido de que está crescendo, mas eu diria que o fenômeno, que ficou muito tempo escondido e camuflado, está vindo à tona”.
Aumento da violência contra a mulher
Quanto ao aumento de feminicídios e violência doméstica, Luis Flávio Sapori acredita que tenha relação com a mudança nas relações entre homens e mulheres nos últimos anos.
“Eu ousaria dizer que esse crime está, sim, aumentando no Brasil, como em outros países mundo afora, e a principal explicação é o fortalecimento da consciência feminina, a crescente consciência da mulher, da sua independência, da sua autonomia, dos seus direitos, da sua liberdade sexual, e muitos homens, infelizmente não dão conta disso e não dão conta dessa nova mulher. A agressão física em casa e o assassinato dessa nova mulher tem levado ao fenômeno. Precisamos de políticas preventivas e repressivas contra a violência contra mulher, contra o feminicídio”, comenta o sociólogo e especialista em segurança pública.
Em Minas Gerais, houve um aumento de quase 10% no número de casos de feminicídio, com 171 registrou em 2022. Também houve aumento de medidas protetivas de urgência concedidas em 5,7%.
Por que homicídios caíram e violência contra mulher aumentou?
Para Luis Flávio Sapori, não é uma contradição que o país tenha registrado o menor número de homicídios desde o início da série história, enquanto bateu recorde de casos de estupro. O especialista explica que o Brasil tem reduzido a incidência de tráfico de drogas, o principal contribuinte para assassinato violento no país. Por outro lado, o feminicídio tem relação ao gênero, e o aumento dos registros está ligado à conscientização contra a violência doméstica.
“O tráfico de drogas está matando menos e o assassinato de jovens está diminuindo no Brasil. Os outros tipos de homicídios, como os relacionados ao trânsito, homicídios ou briga com vizinhança estão relativamente estáveis, e o que tá crescendo é o homicídio relacionado à questão de gênero. Essa motivação é que tá descolando das outras realidades dos assassinatos no Brasil. Não é uma contradição porque o homicídio tem características diversas, são diversas motivações, algumas são diminuindo como o tráfico de drogas, outras estão crescendo como feminicídio”.