Ouvindo...

Car-T Cell: entenda como funciona tratamento revolucionário contra o câncer desenvolvido no Brasil

Até agora, 14 pacientes receberam o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os pesquisadores pretendem tratar mais 75 no próximo semestre

Técnica foi desenvolvida por cientistas brasileiros na Faculdade de Medicina da USP

Nesta segunda-feira (29), foi divulgado que um brasileiro com câncer em estágio avançado teve remissão completa após passar por um tratamento inovador do SUS, o Car-T Cell. Este tratamento foi desenvolvido e patenteado pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.

Até o momento, 14 pessoas já passaram pelo tratamento, e todas elas tiveram, pelo menos, 60% de remissão do câncer. Segundo Dimas Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, a técnica é revolucionário porque utiliza células de defesa do corpo do próprio paciente para combater a doença.

“É um autotratamento, podemos dizer assim. O paciente tem a sua célula T do sistema imunológico retirada, elas vão para o laboratório, onde são modificadas geneticamente. Lá, fazemos uma modificação no DNA das células desses pacientes e agora são células que tem um poder de encontrar o tumor e destruí-lo”.

O tratamento com o CAR-T Cell até possui alguns efeitos colaterais e, por isso, ao menos na fase inicial é preciso que o paciente esteja em uma unidade de terapia intensiva (UTI) ou em uma unidade de transplante de medula óssea. Entretanto, Dias Covas explica que os efeitos não são tão ruins quanto os sentidos com a químio e radioterapia.

“Em quatro semanas, no máximo, esses pacientes tem o câncer destruído. A fase inicial é uma fase mais crítica do tratamento e tem que ser feita em uma UTI ou unidade de transplante de medula óssea, mas não tem nada comparado, por exemplo, com as reações graves da quimioterapia, em que o paciente passar muito mal. Esta é uma terapia com as próprias células do paciente, e por isso muito melhor a tolerada”.

Primeiro caso de remissão completa do câncer

O publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, lutava contra o câncer há 13 anos. Sem resposta para os tratamentos comumente utilizados, o paciente entraria em breve na fase de cuidados paliativos. Porém, em abril deste ano, Paulo foi selecionado para ser uma das 14 pessoas a receberem o tratamento com o CAR-T Cell.

Em apenas um mês, o publicitário teve a remissão completa do seu linfoma. Paulo teve alta do Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo, no último domingo (28). As imagens do Pet Scan (tomografia que identifica tumores cancerígenos) revelou uma melhora impressionante.

Antes, o único caminho oferecido para Paulo seria o dos cuidados paliativos. Sem expectativa de cura, a alternativa dos médicos seria dar conforto ao publicitário. Em contrapartida, o exame após o tratamento mostrou um Paulo livre dos tumores e da doença.

Ampliação do estudo

Antes de disponibilizar a técnica para todos os pacientes do SUS, os pesquisadores precisam realizar mais estudos e planejam tratar 75 pessoas com a tecnologia no segundo semestre. Porém, o estudo clínico ainda depende de uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Caso aprovado, o tratamento será disponibilizado na rede pública gratuitamente. Hoje, o procedimento só está disponível na rede privada e custa cerca de R$ 2 milhões.

A inovação tem como alvo três tipos de câncer: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. Para ampliar a tecnologia para o SUS, entretanto, Dimas Covas explica que é preciso mais investimento financeiro.

“Nós precisamos ampliar este estudo clínico e precisamos de algum apoio financeiro, seja do governo federal ou estadual. Até então, nós fizemos estes tratamentos com verba de pesquisa cientifica, e agora precisamos evoluir para este estudo clínico, e só assim ampliar o produto para ser introduzido no SUS. No futuro, quando o produto estiver disponível, será feito em hospitais com capacidade para implantar este tratamento. São hospitais com UTI e experiencia com transplante de medula óssea”.