O botijão de gás é um dos itens mais importantes para a população brasileira e, ao mesmo tempo, um dos que mais pesa no bolso do consumidor, consumindo mais de 10% do salário mínimo. A redução no preço do botijão, confirmada nesta terça-feira (16) pela Petrobras, animou muitas pessoas, mas o consumidor pode demorar a sentir alívio no bolso.
A economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, afirma que a população precisa entender que a redução de 21,3% do gás é nas refinarias. Como o botijão passa por várias mãos até chegar ao consumidor final, o preço de venda pode cair menos do que o esperado ou até mesmo se manter o mesmo.
“O preço final é afetado por muitas variáveis. A redução de 21,3% na refinaria não significa que o botijão vai cair 21,3% no distribuidor de bairros. Se o revendedor de gás não fizer essa transferência e decidir absorver a diferença como lucro, você vai pagar o mesmo preço final que paga hoje. Depende de muitas coisas.”
Além dos custos da cadeia de distribuição e da própria estratégia comercial, o estoque dos revendedores também deve ser levado em conta.
“Às vezes o revendedor não tem concorrência ou está em uma situação que permite que ele não reduza o preço. Além disso, a queda vale para os botijões vendidos a partir desta semana, então quem já tem gás no estoque continua vendendo com base no preço que pagou antes.”
Fim da paridade de preços
Junto com a redução da gasolina, diesel e gás de cozinha, a Petrobras confirmou o fim da polêmica Política de Paridade Internacional (PPI), adotada em 2016 pelo Governo Temer. A professora Carla Beni explica que o sistema levava em conta o preço do petróleo no mercado internacional.
“Petróleo é um produto de necessidade mundial, por isso é considerado uma commodity que é cotada internacionalmente, em dólar. A PPI levava em conta essas oscilações, custos de transporte e também portuários.”
Agora, o novo sistema da estatal “usa referências de mercado como o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação; e o valor marginal para a Petrobras”. A especialista explica que a nova política não é clara e que a estatal vai precisar se explicar.
“A cotação internacional segue sendo usada, mas não será prioridade. Há esse valor marginal, que une produção, importação e exportação feitas pela estatal, e também o custo alternativo, mas esses itens ainda estão muito subjetivos.”