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Desnutrição: entenda o que é e suas principais causas

Apenas em 2023, Belo Horizonte já registrou 5 casos de crianças abaixo de 5 anos internadas pro desnutrição

Em 2022 no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 2022, 33 milhões de indivíduos estavam em insegurança alimentar

Na última década, o Brasil vem acendendo alertas para o aumento da desnutrição infantil e suas consequências. Entre 2013 e 2022, em Belo Horizonte, o número de hospitalizações de crianças abaixo de 1 ano por desnutrição aumentou em 682,35%. Mas o que é a desnutrição e como identificá-la?

Segundo a presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Isabel Suano, a desnutrição é um desvio do que é considerado uma nutrição adequada pela medicina. O termo pode significar tanto uma alimentação em falta quanto exagerada, mas, segundo ela, no Brasil o mais comum é casos de pessoas que ingerem poucos alimentos.

“No Brasil a palavra desnutrição, historicamente, cursa com o indivíduo que tem uma baixa nutrição, um comprometimento ao ingerir poucos alimentos e, com isso, para de ganhar peso e consome as suas reservas corporais. Seriam indivíduos que consomem menos do que o seu organismo precisaria para manter seu funcionamento, crescimento e desenvolvimento adequados”, explica a médica.

Ela reforça, ainda, que uma criança desnutrida não necessariamente aparenta ser muito magra, como se imagina normalmente. A primeira fase a ser avaliada é se a criança está recebendo alimentação suficiente e de qualidade. Nesta etapa, a criança pode, inclusive, apresentar o peso adequado, mas ainda assim suas reservas estão sendo consumidas.

“A criança para de crescer e de ganhar peso e, nos estágios mais graves, que são esses que levam a internação, ela aparenta estar desnutrida, com os bracinhos e perninhas desaparecendo, sem músculo e gordura, a pele ficando enrugada. Algumas vezes, inclusive, o aparecimento de inchaço de edema, alteração de cabelo e lesões de pele demonstram um quadro de desnutrição”.

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Fome oculta

A obesidade, segundo Isabel Suano, também é um tipo de desnutrição que ocorre entre as famílias mais vulneráveis socialmente. Isso porque o excesso de peso não significa que a pessoa está se alimentando muito, mas que a alimentação é pobre de nutrientes.

“A criança obesa está comendo esses alimentos industrializados e ultraprocessados como base da sua alimentação, não só por uma escolha, mas porque é o que é possível sua família adquirir. Essa criança evolui com anemia e deficiência de alguns nutrientes, como as vitaminas e os minerais. Ela não parece desnutrida, mas ela tem um quadro de fome oculta, que é quando a qualidade da alimentação dela é ruim. A obesidade aumenta os riscos de infecções e de agravos para sua saúde em curto e longo prazo”.

Apoio do SUS

Isabel Suano explica que não é possível dar dicas para famílias vulneráveis driblarem a desnutrição, uma vez que a principal causa da doença é a pobreza e desigualdade social. Entretanto, ela relembra que o Sistema Único de Saúde disponibiliza atenção básica, moderada e complexa às famílias, além de medicamentos e vitaminas.

“Não tem dica para família superar nutrição, já que a desnutrição é um conjunto de fatores complexos e geralmente está associada a desassistência. Há uma falha de todos os mecanismos de promoção de saúde e inclusive de cidadania, que culmina com a desnutrição, então a família é vítima do processo. Para manter uma alimentação saudável é importante que a família prevaleça, dentro do que é possível, o consumo de alimentos do nosso dia a dia, como arroz, feijão, frutas, verduras e carnes. Além de reduzir o consumo dos alimentos industrializados e ultraprocessados, por mais que eles pareçam mais atrativos e baratos, nutricionalmente eles são muito inferiores”.