São 10 anos do incêndio na boate kisse, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e a dor ainda arrasa famílias das vítimas da tragédia que matou 242 pessoas, sendo boa parte jovens universitários.
Uma das vítimas que perderam a vida foi Rafael Carvalho. Ele comemorava o aniversário na boate, já que tinha completado 32 anos dois dias antes daquele 27 de janeiro de 2013. Rafael era de São Paulo e tinha muitos amigos em Santa Maria, que conheceu num intercâmbio na Nova Zelândia.
O pai de Rafael, Paulo Carvalho, disse que a dor da perda é sem fim. “Nós vivemos isso todos os dias. Essa dor vai ficando um pouco mais calma, embora, sempre vá existir. É como se tivessem tirado um pedaço da gente”, lamentou
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Paulo Carvalho não se conforma com a injustiça no caso, principalmente, porque o julgamento que condenou quatro acusados em dezembro de 2021 foi anulado e não tem data para acontecer.
“A gente esperava que a investigação fosse muito bem feita dada a magnitude do que aconteceu, a forma como aconteceu, da quantidade de vítimas, uma das piores tragédias do mundo… Infelizmente, não foi. Depois de tanto tempo, com tantos elementos, o maior processo que já houve no Brasil, anular um julgamento por detalhes burocráticos? Essa situação que nós vivemos hoje e que nós estamos denunciando nesses 10 anos”, disse.
Paulo avisa que não vai desistir de querer Justiça para os responsáveis pela tragédia. “Esperamos que essa Justiça acabe sendo feita de fato e que os agentes públicos sejam devidamente julgados pelo tribunal. Nós nunca vamos desistir dessa luta”, completou.
Jacqueline Malezan é outra que ainda está com a vida dilacerada mesmo 10 anos após a tragédia da Boate Kiss. Ela perdeu o filho de apenas 18 anos, Augusto Malezan Almeida Gomes. Ele chegou a escapar do fogo, mas morreu ao voltar para dentro do local para tentar salvar cinco pessoas.
Emocionada, a mãe conta que chegou a ter uma informação errada de que o filho tinha sobrevivido. “Eu estava fora da cidade, quando recebi um telefonema às 5 horas da manhã da minha filha. Ela me disse que tinha acontecido um incêndio na boate Kiss e que o Augusto estava lá. Eu falei para ela: ’não o Augusto, na verdade, tinha me dito que ia em outra festa’. E aí eu desliguei. Ela ligou de novo e disse que ele tinha decidido ir à boate”, contou.
“E então eu liguei para ele. Liguei, liguei, liguei. Acho que liguei mil vezes no telefone e não atendi e eu vim para Santa Maria. Falei com um médico amigo nosso e ele disse que o Augusto se queimou, mas foi ao hospital e está medicado e bem. Fui para a porta do hospital e fiquei aguardando 12h quando a minha filha ligou e disse que Augusto estava no Centro Esportivo para o reconhecimento do corpo”, lamentou.
Jaqueline disse que perdeu as esperanças de que os réus sejam presos. “Não tem esperança, nem que vá para a cadeia, nem que o julgamento aconteça outro julgamento. Acho que vai demorar muito tempo, isso se acontecer”, afirmou “O sentimento é de impunidade. Eu acho que foi muito desrespeitoso conosco. A justiça é falha”, completou.