A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou, na terça (27), em Bruxelas, uma petição junto à Comissão Europeia para que o órgão investigue os varejistas franceses que, em novembro do ano passado, deram declarações contra a carne brasileira e pediram boicote aos produtos vindos do Brasil e dos países do Mercosul.
O vice-presidente de Relações Internacionais (RI) da CNA, Gedeão Pereira, a senadora Tereza Cristina, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), e a diretora de RI, Sueme Mori, estiveram em Bruxelas para acertar os últimos detalhes da petição encaminhada à Comissão. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, também esteve presente.
Para Gedeão Pereira, o Brasil, como uma potência agrícola mundial, precisa estar cada vez mais presente nos mercados internacionais, oferecendo produtos de alta qualidade. “Temos um produto de qualidade e continuamos mantendo esse padrão”, afirmou. “Estamos confiantes e na expectativa de que a Comissão, dentro dos regulamentos comerciais que regem o mercado europeu, tome as medidas cabíveis”, disse Gedeão.
“Nós viemos protocolar esse pedido de investigação sobre as quatro empresas francesas que difamaram a carne brasileira”, disse a senadora Tereza Cristina. “Quem falar mal da nossa carne vai responder por isso”, completou.
Pedido de investigação
No documento em defesa dos produtores rurais, da carne do Brasil e do sistema sanitário brasileiro, a CNA pede que a Comissão Europeia investigue as consequências das manifestações infundadas do Carrefour, Les Mousquetairs, E. Leclerc e Coopérativve U contra a carne do Brasil e de outros países do Mercosul. Os varejistas controlam 75% do mercado na França.
Na petição, a CNA alega que os anúncios coordenados dos varejistas franceses buscaram atacar os produtos do Brasil e do Mercosul e levantaram preocupações infundadas sobre a qualidade e a segurança da carne brasileira, mesmo que toda carne importada pela UE cumpra integralmente os padrões europeus de segurança alimentar. Para a CNA, as alegações dos varejistas colocam em risco a reputação dos produtos brasileiros e desencorajam outros varejistas e consumidores a adquiri-los.
No documento estão contidas as declarações públicas feitas pelas lideranças dos supermercados franceses, no qual pedem engajamento no boicote por todo setor agroalimentar, indo além das cadeias varejistas. O CNA considera que os varejistas agiram em oposição ao Acordo Mercosul-União Europeia, minando o papel da Comissão Europeia como única negociadora e representante dos interesses da União Europeia.
A Confederação lembra que o Brasil é líder global na produção e exportação de commodities agrícolas, especialmente carne bovina, suína e de aves. E que a União Europeia é um mercado estratégico devido ao alto poder de compra dos consumidores e ao seu papel de referência regulatória que influencia outros mercados globais.
Na petição, a CNA solicita a abertura pela Comissão Europeia de uma “investigação formal” sobre as práticas dos grupos de varejo da França. A Confederação pede ainda o fim de boicotes, retratações de alegações depreciativas contra os produtos do Mercosul e a imposição de uma multa aos grupos de varejo que seja proporcional às infrações constatadas.
Histórico
A polêmica com os grupos varejistas da França começou em novembro do ano passado com uma declaração publicada pelo presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, em uma rede social.
Na publicação, ele colocou em dúvida a sanidade das carnes produzidas nos países do Mercosul que, segundo ele, não atenderiam “às exigências e normas” da França, e prometeu que os supermercados da rede não venderiam mais o produto. Outras redes varejistas francesas foram na mesma linha.
A reação dos grupos da França ocorreu quando haviam sido intensificadas as discussões para o acordo de livre comércio entre o Mercosul e no qual a União Europeia e os produtores franceses faziam pressão com medo de perder mercado. Em dezembro, as negociações entre os dois blocos foram concluídas.
A CNA, as Federações de agricultura e pecuária dos Estados, entidades, as Frentes Parlamentares ligadas ao setor, políticos e autoridades reagiram imediatamente repudiando as declarações infundadas.