Já está disponível no mercado a BRS Carmela primeiro híbrido de cenoura, próprio para o plantio no verão e na primavera. Mas o melhor é que ela é resistente à bactéria e aos fungos causadores da queima-das-folhas, a principal doença foliar que ataca a cultura, causando o desfolhamento e até a perda total da lavoura. A nova cultivar foi desenvolvida pela Embrapa, em parceria com a empresa Isla Sementes e é recomendada para todas as regiões brasileiras, com exceção da região Norte.
Patógenos causam infecções múltiplas 🦠
A queima-das-folhas é causada por um complexo de patógenos que pode envolver dois fungos, Alternaria dauci e Cercospora carotae, e uma bactéria, Xanthomonas hortorum pv. carotae, cujas predominâncias variam em função da região e da estação de cultivo. Os patógenos podem ser encontrados em infecções múltiplas no mesmo plantio, planta ou lesão.
O pesquisador da área de melhoramento genético de cenoura da Embrapa Hortaliças (DF), Agnaldo de Carvalho, responsável pelo desenvolvimento da nova cultivar, explica que a BRS Carmela é capaz de chegar ao fim do ciclo sem nenhum controle químico de doenças foliares. Já os híbridos de verão que estão no mercado são apenas tolerantes. Isso significa que os produtores que usam esses híbridos precisam fazer o manejo integrado com agroquímicos para finalizar o ciclo de produção.
Menor custo e agressão ao meio ambiente 🌱
Com a BRS Carmela, o produtor diminuirá o custo de produção e ainda contribuirá com a preservação do meio ambiente”, esclarece Carvalho. A nova cultivar também apresenta tolerância ao nematoide-das-galhas, característica que, agregada à resistência à queima-das-folhas, possibilita o cultivo do híbrido em regiões onde as temperaturas são mais elevadas.
Ideia é fazer outras combinações híbridas 🪴
A nova cultivar é um dos resultados da cooperação técnica formalizada em 2014 entre a Embrapa e a Isla. Recentemente, a parceria foi estendida até dezembro de 2026. O objetivo é dar continuidade ao trabalho de combinações híbridas da cenoura para consumo in natura com raízes cilíndricas, lisas e cor alaranjada intensa.
A presidente da Isla Sementes, Diana Werner, diz que essa parceria possibilita atender à amplitude da produção de cenouras de verão no Brasil. “Vemos a BRS Carmela como um marco histórico na consagração de uma pesquisa fundamental para o contínuo desenvolvimento da horticultura brasileira”, ressalta.
Será possível semear e colher durante todo o ano 🥕🥕🥕
O novo híbrido possibilita o plantio nas estações de primavera e verão nas condições climáticas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Para o plantio no Nordeste não há restrição de mês ou de estação. Para Carvalho, esse complemento entre cultivares de verão e de inverno permite semear e colher a hortaliça durante todo o ano. Isso explica porque a cenoura está disponível nos doze meses e, na maioria das vezes, com preços acessíveis aos consumidores. Do lado do produtor, colheitas contínuas possibilitam o fluxo de caixa para manter as despesas diárias sob controle.
Híbridos são diferenciados, mas precisam de ‘condições ideais’ 🌦️
O pesquisador reforça que os híbridos de verão são materiais diferenciados e responsáveis por incrementar a produtividade das raízes mais desejadas pelo mercado, quando cultivados em condições ideais. “Vale destacar que os híbridos só são vantajosos quando aliados a outras tecnologias durante o cultivo. Caso contrário, não apresentam vantagem competitiva em relação às cultivares de polinização aberta”, ressalta.
Outro fator favorável da utilização do híbrido é a uniformidade que se manifesta desde a germinação até a colheita, facilitando também o manejo nas fases de cultivo e de colheita. O resultado são raízes mais uniformes e com proporção de tamanhos mais valorizadas pelo mercado.
Alto desempenho em todas as regiões produtoras 🥕🥕
A nova cultivar foi testada em condições de cultivo nas principais áreas produtoras de cenoura do país e mostrou-se competitiva em relação aos híbridos disponíveis no mercado. Seu rendimento superou 60 toneladas por hectare (t/ha) de raízes comercializáveis.
O período indicado para plantio da BRS Carmela é de outubro a março. A colheita tem início 85 dias após a semeadura e estende-se até 115 dias. Ela apresenta porte ereto, folhas verdes intensas e a altura da planta alcança cerca de 45 centímetros (cm). “O porte ereto favorece o arejamento das plantas, criando uma condição desfavorável para o surgimento de doenças foliares”, detalha Carvalho.
Já as raízes apresentam diâmetro próximo a 3,5 cm e comprimento entre 16 cm e 22 cm, tamanho desejado comercialmente. A recomendação é cultivar 500 mil plantas por hectare para favorecer a formação de diâmetros e comprimentos adequados à comercialização. As raízes do híbrido têm cor alaranjada intensa, sabor adocicado, formato cilíndrico e liso – características que atendem ao gosto dos consumidores brasileiros.
Possibilita produção mesmo com chuva e altas temperaturas 🌞🌞
O pesquisador conta que foram necessários dez anos de pesquisas para desenvolver a cultivar e comparar o seu desempenho entre diversos materiais até alcançar um híbrido com as características desejáveis:
- manter o rendimento em meio às altas temperaturas do verão brasileiro,
- ser resistente às principais doenças que afetam o desenvolvimento das raízes.
Minas é o maior produtor 🥕🥕🥕🥕
A cenoura está entre as hortaliças mais consumidas pelo brasileiro. O estado que mais se destaca na produção é Minas Gerais, seguido por Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Bahia. A área comercial semeada anualmente é de, aproximadamente, 18 mil hectares, com produção nacional de cerca de 480 mil toneladas por ano. Isso representa uma produtividade média estimada em 26 t/ha e valor de produção de mais de 300 milhões de reais, segundo dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Vitaminas no Prato 🍽️
A cor alaranjada indica que a cenoura é uma das principais fontes naturais de betacaroteno, pigmento antioxidante e precursor da vitamina A. Além dessa característica, a cenoura fornece fibras e minerais como cálcio, sódio e potássio. Ralada ou fatiada, as raízes são consumidas cruas ou cozidas em saladas. Ela também entra como ingrediente de bolos, sopas, pães, tortas e doces. A raiz é muito usada como matéria-prima da indústria alimentícia para produção de minicenouras ou processadas em seleta de legumes, iogurtes e papinhas.
(*) Com informações da Embrapa.