No Dia Mundial do Queijo - comemorado hoje (20), fomos conhecer o Centro de Referência do Queijo Minas Artesanal (CRQA). O espaço, inaugurado há cerca de um ano em Belo Horizonte, se propõe a ser um local de valorização da cozinha mineira, com foco no queijo Minas Artesanal. Quem aparecer por lá, vai ter acesso a uma exposição com fotos e objetos relacionados ao modo de fazer do queijo e uma aula sobre como surgiu essa iguaria, os desafios, preconceitos e barreiras enfrentadas (ele chegou a ser proibido no início dos anos 2000, por ser considerado insalubre ) até chegar nos dias de hoje. O local também abriga uma escola de gastronomia para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
A diretora executiva e fundadora Sarah Rocha conta que a ideia de criar o espaço surgiu de um antigo sonho de sua mãe, a pedagoga Carmem Rocha, que era criar uma escola de gastronomia destinada a jovens em risco social. “A vida inteira ela trabalhou com isso. Adora cozinhar e sabe que a comida é uma das expressões mais representativas da cultura mineira. Cozinhar é um ato de amor e pode ser ferramenta para a promoção do desenvolvimento. Neste contexto, um Centro de Referência que se constitui a partir do queijo, que representa a alma do mineiro, faz todo sentido”, explica Sarah.
Arquitetura inspirada nas serras de Minas
Salão tem instalações que descem do teto e contam a história do queijo
O CRQA fica no Shopping Espaço 356, no bairro Olhos D’Água, com projeto do arquiteto português José Lourenço. O enorme salão, que tem curvas inspiradas nas serras de Minas e instalações que descem do teto, mantém uma exposição permanente que conta a história da produção queijeira do estado; uma sala de aula com cozinha didática, a primeira biblioteca especializada na cultura e gastronomia de Minas e uma loja colaborativa de produtos mineiros como doces em compota, cachaças, licores, artesanato e, claro, queijos artesanais.
Grupos de estudantes, idosos ou escolas que queiram aprender um pouco mais sobre a iguaria podem agendar visitas. “Reunimos especialistas e produtores de queijos artesanais para estimular a produção e fomentar ainda mais o mercado da gastronomia em Minas”, conta Sarah.
Sucesso de público
Em menos de um ano de funcionamento, o local já recebeu mais de 1.500 pessoas em eventos e mais de 1.000 crianças e adolescentes em visitas guiadas com direito à história e explicações lúdico-didáticas a respeito da importância do queijo. “2023 superou todas as nossas expectativas e, em 2024 pretendemos ampliar nossas atividades com as escolas e nossas ações de promoção do queijo”, disse Sarah.
Produto tem grande importância econômica
Espaço conta com lojinha colaborativa com outros produtos mineiros, incluindo o artesanato
Minas Gerais é o maior produtor de leite do país, e consequentemente, o maior produtor de queijo. Sobre sua relevância para Minas e para o mundo, o médico veterinário, historiador, especialista em queijo artesanal de leite cru e consultor do Centro de Referência, Elmer Almeida, lembra que não podemos esquecer a grande importância econômica e social para o estado. “Temos cerca de 8 mil famílias que se envolvem na produção do queijo artesanal de leite cru e isso movimenta recursos financeiros em vários municípios em todas as regiões. Sabe-se que na região da Canastra, municípios como Medeiros vivem em função do queijo, assim como na região do Serro, a cidade de Materlândia é outro local onde o queijo tem uma expressão econômica muito forte. Socialmente, os produtores se agrupam em associações e isso faz com que haja um grande movimento das pessoas na produção e comercialização do queijo”, disse Elmer.
Técnica Portuguesa
A técnica de fabricação do queijo Minas Artesanal foi trazida por portugueses, mas os produtores mineiros aprimoraram e desenvolveram métodos únicos de produção, criando um queijo de qualidade incomparável. Atualmente, são 15 regiões reconhecidas em Minas, pelo modo de fazer do Queijo Minas Artesanal. Em 2008, o produto foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Candidato a Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco
A candidatura dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco foi oficializada em 2022 e reforçada no ano passado pelo Governo de Minas. Se a chancela for conquistada, este será o primeiro produto da cultura alimentar do Brasil a ter o título.
O Centro de Referência do Queijo Artesanal e o Instituto de Hospitalidade e Artes Culinárias - INHAC contam com patrocínio da Gerdau, Instituto Unimed, Claro, Cemig, Ventana Serra, Grupo EPO, Macom, CBMM, Espaço 356, JAM Engenharia de Ar Condicionado, GEOSOL, Cook Cozinhas e Ambientes, Infinito Vidros, SDS Siderúrgica. A realização é do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Anexo ao Centro de Referência do Queijo Artesanal, Inhac será comandado por Leo Paixão
Anexo ao Centro, funciona o Instituto de Hospitalidade e Artes Culinárias (Inhac). Liderado pelo chef Leo Paixão, a escola oferece cursos gastronômicos para jovens em situação de vulnerabilidade com o objetivo de formar novos profissionais na área.
Anualmente, são ofertadas 80 vagas gratuitas para o curso profissionalizante de 960 horas/aula, reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação. O projeto didático inclui desde prática e técnicas de gastronomia internacional, até a história dos queijos e produtos de excelência de Minas, antropologia da alimentação e gestão de negócios.