Ouvindo...

Belo Horizonte ganha fábrica de abelhas sem ferrão; entenda

Espaço no Parque das Mangabeiras tem o objetivo de ajudar na polinização da vegetação do entorno e na educação ambiental de jovens e crianças

Detalhe do Melipoinário no Parque das Mangabeiras

O Parque das Mangabeiras - na região Centro Sul de Belo Horizonte - agora tem, oficialmente, um meliponário, local apropriado para hospedar ninhos de abelhas sem ferrão em caixas. A inauguração foi feita hoje (7) pelo prefeito Fuad Noman (PSD) que surpreendeu-se com a proximidade e passividade dos insetos. O novo espaço integra um amplo projeto de incentivo à criação desses insetos em áreas urbanas e também de educação ambiental de crianças e adolescentes da rede pública de ensino da capital. Outro objetivo é ensinar as pessoas a criarem essas espécies em casa, favorecendo a polinização de mais áreas verdes e hortas. “Tenho 76 anos e não sabia que havia a possibilidade de conviver pacificamente com as abelhas. Sempre soube que elas produziam mel e ferrão. Estou encantado com o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Meio Ambiente”, falou.

Desde 2021, graças à parceria com a Smed, alunos de escolas da rede municipal de ensino de Belo Horizonte têm visitado o parque, percorrendo trilhas onde estão instaladas as colmeias das abelhas sem ferrão. Divididas em oito colônias espalhadas pelo parque, elas são monitoradas por uma equipe técnica que observa o desenvolvimento dos espécimes, faz as manutenções necessárias e previne o ataque das pragas às colmeias. “Espero que as pessoas possam multiplicar essa experiência em suas casas e sítios por aí", disse o prefeito.

O Meliponário Biofábrica, como foi batizado o novo espaço, faz parte do projeto Poliniza BH, que também pretende realizar a destinação correta de colônias de abelhas nativas em unidades de conservação, promovendo a recuperação de áreas degradadas. Outro Meliponário será instalado no Centro de Educação Ambiental do Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha (CEA PROPAM). A segunda unidade funcionará na Rua Radialista Ubaldo Ferreira, 20, no bairro Castelo.

No meliponário do CEA PROPAM há oito caixas, abrigando quatro espécies de abelhas sem ferrão: Miriam-preguiça, Mandaçaia, Marmelada-amarela e Jataí. Neste momento, as caixas de abelha Jataí estão na Biofábrica, no Parque das Mangabeiras, para manejo específico, e deverá retornar ao CEA PROPAM na última semana de novembro. A expectativa é de que elas aumentem progressivamente à medida em que as colônias evoluam e sejam levadas para o CEA PROPAM.

De acordo com Thiago dos Santos, responsável técnico pelo Meliponário Biofábrica dentro da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a ideia de investir na construção e instalação desses espaços na capital partiu da constatação de que eles podem ser uma ferramenta crucial para a sobrevivência dos ecossistemas. “Quase 90% de todas as espécies selvagens de flores e outras plantas dependem totalmente, ou em parte, da polinização animal, ao lado de mais de 75% de todas as plantações de alimentos do mundo, além de 35% da terra agricultável do planeta. Diante desse cenário, vem a necessidade de se preservar e ensinar o porquê dessa importância para o cidadão”, explica Thiago dos Santos.

Segundo ele, a disseminação de meliponários pela cidade contribuirá para a melhoria da produção das hortas comunitárias e pomares, além de conscientizar a população da necessidade de conhecer e preservar essas espécies. A criação de abelhas sem ferrão permite a reprodução de quase todas as espécies nativas de plantas do nosso país. E também possibilita a obtenção de um mel totalmente brasileiro e saudável, além de incrementar a produção agrícola em até 70%.

“Inicialmente, os enxames serão mantidos com o objetivo de estimular sua reprodução e multiplicação. Na medida em que o aumento das colônias for significativo, haverá destinação para outros meliponários da capital”, disse Thiago.

As várias espécies de abelhas

Existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão no Brasil. No Meliponário Biofábrica, são criadas sete espécies de abelhas sem ferrão: mirim-preguiça (Friesella schrottkyi), marmelada amarela (Frieseomelitta varia), moçinha-branca (Frieseomelitta doederleini), moçinha-preta (Frieseomelitta languida), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), uruçu amarela (Melipona mondury) e jataí (Tetragonisca angustula). Elas atuam na polinização tanto da horta e dos jardins, quanto nas áreas florestadas do Parque das Mangabeiras. Também no Parque das Mangabeiras já existe uma outra biofábrica, a de Joaninhas e Crisopídeos, insetos que podem combater, de forma natural, populações de organismos indesejáveis em hortas, jardins, pomares e arborizações.

Iscas-pet

Um dos atrativos para os visitantes serão as oficinas, que ensinarão a fazer as “iscas-pet”, ferramentas para a captura natural de enxames de abelhas sem ferrão. Dessa forma, os participantes poderão criar os próprios enxames em casa. Desde que o entorno da residência tenha alguma área preservada ou parque bem arborizado, todos podem criar essas abelhas sem qualquer restrição de segurança. Afinal, são espécies que não representam riscos para a população. Para participar das oficinas de “iscas-pet”, os interessados devem entrar em contato com a Biofábrica através do e-mail biofabrica@pbh.gov.br, agendando a participação.

Nessa oficina, também será explicado sobre quais iscas devem ser fabricadas e quais as espécies são interessantes para se iniciar na meliponicultura.

Polinização é mais importante que o mel e o própolis

O engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa, membro do Conselho Científico da Abelha e da Academia Brasileira de Ciências Agrárias, Décio Luiz Gazzoni, disse à Itatiaia que a iniciativa é extremamente louvável e que, em Curitiba, já há um projeto semelhante e bastante bem sucedido. Na opinião dele, a polinização é um serviço ecossistêmico prestado pelas abelhas mais importante até do que os próprios produtos tangíveis que elas nos oferecem como o mel, o própolis e a cera, por garantir a reprodução da vegetação e, especialmente, das espécies cultivadas para a alimentação humana e animal.

Outro aspecto importante, lembrado pelo professor, foi a questão da educação ambiental. As abelhas e, especialmente, as sem ferrão são excelentes modelos para educação ambiental, para transmitir para as novas gerações, para nossas crianças e jovens, a ideia da necessidade de preservarmos, protegermos e conservarmos o meio ambiente, seja ele urbano ou rural.

“Por serem bonitinhas, interessantes, charmosas e produzirem o mel que é gostoso… as abelhas despertam curiosidade e atraem os jovens, facilitando a compreensão da função que elas exercem no meio ambiente e a ideia de integração, da importância de as protegermos. Cumprimento a Secretaria Municipal do Meio Ambiente pela iniciativa” .

Meliponário Biofábrica Endereço: Parque das Mangabeiras Maurício Campos Rua Caraça, 900 – Serra Funcionamento: de terça a domingo, das 8h às 17h Agendamentos e informações: biofabrica@pbh.gov.br

Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades. Comanda o PodTudo, programa de debate aos domingos à noite na Itatiaia.
Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.