Instituições representativas do produtor de leite como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e outras 17 entidades, em conjunto com a Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite, reuniram-se, essa semana, em Brasília com representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Ministério da Agricultura e Pecuária para reivindicar a adoção de medidas emergenciais em relação às importações de produtos lácteos do Mercosul.
Por que importamos tanto?
Para se ter uma ideia, a importação de leite em pó cresceu mais de 300% em comparação com o mesmo período de 2022, resultado do custo de produção no Brasil e da desvalorização da moeda argentina. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, de janeiro a abril desse ano, o país importou 59 milhões de quilos de leite em pó. A importação de queijo também aumentou: de 7 para 12 milhões de quilos. A maior parte dos produtos importados vem da Argentina e eles chegam nas gôndolas dos supermercados mais baratos que os produtos nacionais. As consequências no campo, de acordo com especialistas ouvidos pela Itatiaia, são de volumes represados e prejuízos.
Comissão mostrou “quadro alarmante”
O 1º vice-presidente da Comissão Nacional de Leite da CNA e presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite, Jônadan Ma, contou que a comitiva apresentou ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, “o quadro alarmante das importações de leite que acontecem de forma agressiva e desequilibrada desde agosto de 2022, bem como a gravidade da situação que os produtores de leite, notadamente os pequenos e médios, vêm sofrendo com a concorrência desleal do produto importado. “Além de desestimular a produção nacional, pode provocar o encolhimento da cadeia e, em médio prazo, até mesmo o desabastecimento”, alertou.
Medidas estão sendo elaboradas
Nesse sentido, três medidas estruturantes com o objetivo de amenizar esse quadro a médio e longo prazo, serão encaminhadas aos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura e Pecuária e Indústria e Comércio e também à Câmera de Comércio Exterior (CAMEX). Jônadan explica que, por enquanto, tais medidas não podem ser divulgadas por serem consideradas estratégicas. “Tem um outro lado que quer manter a importação, jogando mais pesado que a gente.”, disse à Itatiaia.
A dança do ‘sobe’ e ‘desce’
A ampliação das importações e/ou diminuição das exportações, aumentam a oferta de leite no mercado interno, o que diminui os preços praticados pelo produto. A diminuição das importações e/ou aumento das exportações, por sua vez, diminuem a quantidade de leite disponível no país, o que tende a levar a maiores valores nas negociações pelo produto.
Questão é histórica e recorrente
O ex-vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faemg), Rodrigo Alvim - que presidiu a Comissão Nacional de Leite da CNA por 3 anos e a Câmara Setorial do Leite do Mapa, por 18 anos - lembra que a questão da importação do leite em pó, no Brasil, é recorrente e sempre econômica. “Por motivos diversos o preço lá fora é quase sempre menor, seja pela eficiência dos produtores, ou pela superioridade genética, pela qualidade da alimentação (Nova Zelândia, Argentina) ou principalmente pelo subsídio oferecido pelos países da Europa, que distorcem os preços e são consideradas práticas desleais de comércio. Fato é que sempre que o preço interno sobe muito, como recentemente, aumenta a tendência das importações”.