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Silvicultores iniciam beneficiamento do mogno africano

Espécie é considerada alternativa ao mogno brasileiro, ameaçado de extinção; além disso, oferece retorno rápido estando pronta para o corte em 12 ou 15 anos

No momento em que a sustentabilidade é a palavra de ordem mundial, uma espécie de árvore desponta como opção ambientalmente correta para a silvicultura brasileira: é o mogno africano. Para quem não sabe, Silvicultura é o cultivo de florestas através do manejo agrícola, a fim de produzir madeiras e outros derivados atendendo às necessidades do mercado

O mogno africano foi plantado pela primeira vez, no Brasil, há pouco mais de 20 anos no Pará e é considerada ‘ambientalmente’ correta porque preserva as florestas nativas do Brasil, tornando-se uma alternativa para evitar o corte de outras madeiras nobres que correm o risco de extinção.

Além disso, a espécie oferece retorno rápido: a partir dos 12 anos de plantio, já é possível fazer os primeiros desbastes das florestas. “Essa madeira, mesmo jovem e com valor inferior ao da madeira adulta, pode ser beneficiada e encontrar seu mercado. Ao atingir idades entre 18 e 20 anos, já é considerada adulta, e tem ampla aceitação no mercado de madeiras nobres. Os ipês, outro exemplo, precisam de 40 anos para chegar ao ponto de corte”, explica o silvicultor e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano (ABPMA), Ricardo Tavares.

Ricardo prepara-se para a fase de desbastes de uma floresta plantada, com árvores entre 14 e 15 anos, de 515 hectares de mogno africano, em Pirapora, Norte de Minas. Inicialmente, ele irá deixar de cortar 210 árvores por hectare. “O mogno jovem tem que ser beneficiado para ser vendido, ou seja, tem que ser serrado e seco com qualidade. O nosso volume de madeira é grande, por isso, estou montando um centro de beneficiamento para colocarmos essa madeira nobre no mercado nacional e internacional até o final do ano”, explicou.

Alternativa ao Mogno Brasileiro

Atualmente, existem mais de 60 mil hectares plantados de mogno africano no Brasil, com as florestas presentes em 12 estados brasileiros e em quase 50 municípios. O interesse pelo mogno africano cresceu no Brasil uma vez que ele substitui bem a espécie brasileira, que está em extinção. Para garantir o melhor gerenciamento de todo este processo, vários produtores criaram, há 12 anos, a Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano (ABPMA). A instituição orienta os associados em todas as etapas, desde o plantio até a comercialização da madeira; incentiva e difunde técnicas e pesquisas; promove seminários, encontros e reuniões para discutir o futuro do mogno africano no Brasil; investe em pesquisas acadêmicas, em parcerias com as maiores universidades do país, para buscar novas técnicas para a produção da espécie; faz a divulgação da madeira para os setores de interesse.

Seminário Nacional será em agosto

Entre 2 e 4 de agosto, será realizado um grande evento nacional, em Belém do Pará, aberto a todos produtores do Brasil, associados ou não, a professores e alunos da área de silvicultura e quem está em busca de informações para iniciar seu investimento no cultivo.

“A ABPMA quer tornar o Brasil o maior produtor de floresta plantada de mogno africano do mundo. Com uma ótima adaptação no solo do Brasil e pelo grande interesse na plantação criaremos um ciclo de corte versus plantio inesgotável”, afirma o presidente da ABPMA.

Versatilidade e Sustentabilidade

De acordo com a ABPMA, a atividade florestal proporcionada pelo plantio do mogno africano atenua a pressão sobre matas nativas, recupera solos degradados e promove a conservação do solo. Os projetos viabilizam atividades locais, criam oportunidades de renda adicional e auxiliam na fixação do homem no campo.

“Estamos mostrando aos arquitetos, designers e construtores a potencialidade dessa madeira, que é sustentável, ecologicamente correta, bonita, de uma forma diferente como madeira exótica, e plantada aqui dentro, no Brasil, não sofrendo restrição de corte”, afirma a diretora-executiva da ABPMA, Patrícia Fonseca.

Sucesso entre arquitetos e decoradores

Uma prova de como o mogno africano vem chamando a atenção de arquitetos e decoradores é sua presença em mostras de arquitetura, design e decoração em todo o país nos últimos anos e também em grandes premiações.

A instalação Siré (Xirê), do designer mineiro Gustavo Greco, acaba de receber um dos maiores prêmios internacionais do segmento, o iF Design Award. A peça exposta na Casacor Minas em 2021 era composta por 515 cobogós de mogno africano, representando elementos da religiosidade africana, ligados à origem da madeira.

“O mogno africano nos pareceu a melhor escolha para dar materialidade à nossa ideia. Foi a primeira vez que trabalhamos com essa matéria-prima e ficamos impressionados com sua resistência e durabilidade. A madeira é conhecida por sua beleza e qualidade, e entre as suas vantagens estão a alta densidade e resistência à umidade, além da sua cor uniforme e atraente, que pode variar do marrom-avermelhado ao marrom-claro”, comentou Greco.

Nota da ITTO

O International Tropical Timber Organization (ITTO), órgão mundialmente conhecido por suas publicações sobre o mercado de madeiras nobres, divulgou em março desse ano, uma nota sobre o mogno africano, em que ressalta sua importância no mercado brasileiro.

“O mogno africano cultivado em plantações no Brasil está prestes a mudar o mercado de madeira. Ele representa um alto potencial de investimento para os produtores brasileiros e é uma alternativa ao mogno brasileiro, que está listado como espécie ameaçada de extinção. (...) Estabelecer plantações de mogno não apresenta problemas intransponíveis e as árvores estarão prontas para colheita após 20 anos.”

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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