Uma das causas do Mal da Vaca Louca que ganhou os noticiários nos últimos dias em função da confirmação de um caso da doença, no Pará, é o consumo de ossos e restos mortais de outros animais num composto denominado como ‘cama de frango’, proibido por lei federal. Um técnico em extensão rural, que pediu para não ser identificado, contou à reportagem da Itatiaia que esse composto ainda é muito utilizado por grandes e pequenos pecuaristas mineiros. O superintendente federal da agricultura, pecuária e abastecimento em Minas Gerais, Marcílio Souza Magalhães, disse à Itatiaia que o Ministério da Agricultura tem conhecimento dessa contravenção e que desenvolve ações permanentes, junto com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), para coibir a prática. “Recebemos denúncias e fazemos buscas ativas sobre a alimentação de ruminantes com a chamada cama de frango. Centenas de produtores são autuados por ano”, revelou Marcílio, acrescentando que quando isso acontece, rebanhos inteiros precisam ser sacrificados.
O técnico em extensão rural contou que os produtores utilizam essa forma de alimentação para seus rebanhos em função do baixo custo do composto, que é feito de fezes do frango, ração, penas e pedaços de animais mortos, como pintinhos, por exemplo. Segundo ele, além do Mal da Vaca Louca, a mistura contaminada também pode causar botulismo.
“A gente alerta sobre a gravidade da prática, lembra que é crime federal, mas muitos não entendem as consequências, o impacto que pode provocar na cadeia produtiva”. De acordo com ele, a maior parte dos produtores que utilizam a ‘cama’ são pequenos produtores, mas também há grandes pecuaristas que ignoram a norma. “Eles compram a granel, normalmente um caminhão cheio”, relatou.
Mutação Genética
O superintendente do Mapa lembrou que as causas da Vaca Louca não são totalmente conhecidas e que o consumo de restos de animais mortos é apenas uma delas. Segundo ele, no caso detectado recentemente no Pará, tudo indica tratar-se de uma situação atípica, uma vez que o animal alimentava-se apenas de pasto e já tinha uma idade considerada ‘avançada’.
A doença é causada pela mutação genética de uma proteína - chamada Prion - que se desenvolve no animal, causando degeneração cerebral. “Mas o que provoca essa mutação, não sabemos completamente”. Ele alertou ainda que essa proteína pode estar em subprodutos da carne que as pessoas comem, normalmente, como ossos e até o cérebro de bovinos.
Entenda a doença
A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como ‘Mal da Vaca Louca’ degenera o sistema nervoso dos bovinos, a ponto de alterar o comportamento deles, deixando-os agressivos, arredios, com tremores musculares, tendência ao isolamento e dificuldade para andar. O cérebro dos animais simplesmente amolece, adquirindo uma consistência esponjosa e a morte é uma questão de tempo.
Crime Federal
No Brasil, é crime federal alimentar animais ruminantes com ‘cama de frango’ ou com resíduos da exploração de outros animais porque podem conter restos, desde 2004. É proibido, ainda, o uso desse tipo de ingrediente na fabricação de ração para bovinos.
Boa notícia
A boa notícia, segundo Marcílio, é que a utilização da ‘cama de frango’ por pecuaristas tem diminuído nos últimos anos primeiro porque ela não está mais “tão barata” e, segundo, os produtores têm descoberto que o composto é um excelente adubo para as plantas, sem consequências negativas. “Não há motivo para pânico. Estamos atentos”.