Pelas redes sociais, chegam notícias de escassez de ovos em várias partes do mundo. Vê-se prateleiras vazias do produto em supermercados da Inglaterra, Estados Unidos, Lisboa e até na Nova Zelândia. De fato, o mundo enfrenta uma escassez global da proteína. Mas as explicações são distintas. No Brasil, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, não há risco de faltar o produto. Mas a expectativa é de uma produção menor em 2023, o que deve elevar os preços.
EUA e a gripe Aviária
Nos EUA, o problema é um surto de gripe aviária. De acordo com informações do Departamento de Agricultura, a doença já levou à morte mais de 44 milhões de aves poedeiras, cerca de 4% a 5% do plantel total do país. Segundo o jornal Los Angeles Times, a dúzia de ovos na Califórnia custa atualmente a US$ 7,37 (R$ 38,14), ante US$ 4,83 no início de dezembro e US$ 2,35 há um ano atrás.
Custos pressionados pela guerra
Na Europa, além da gripe aviária, a alta dos custos dos grãos e da energia elétrica, em decorrência da guerra na Ucrânia, também tem afetado a oferta de ovos. No Reino Unido, as principais redes de supermercado restringiram a compra de ovos, a uma dúzia por consumidor, ao longo de 2022.
A tradicional rede de pubs Wetherspoon colocou avisos no balcão de algumas de suas unidades, informando aos consumidores que, devido à escassez nacional, alguns dos ovos servidos no local poderiam ter vindo de países da União Europeia.
Diante da alta de custos e da dificuldade de repassar a inflação aos supermercados, os produtores britânicos dizem que investir na avicultura não tem valido a pena. A Associação Britânica dos Produtores de Ovos Livres de Gaiola estima que o plantel britânico de aves poedeiras encolheu 6% nos últimos 12 meses.
Resquício da demanda de Natal
A falta de ovos também tem sido sentida em Portugal."Estamos a viver a pior crise”, disse Paulo Mota, presidente da Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos (Anapo). De acordo com a entidade, a escassez deve-se ao aumento da demanda de Natal, mas em janeiro a situação deve se normalizar.
Na Nova Zelândia, uma nova legislação
No país, a questão é a transição para a criação de aves livres de gaiola. O governo iniciou em 2012 um processo gradual de eliminar a criação de poedeiras em gaiolas. O plano previa um período de dez anos para o país atingir esse objetivo, tendo como data-limite 1º de janeiro de 2023. A mudança nas condições de acondicionamento das aves elevou, no entanto, os custos de produção
Brasil não corre risco
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin, (ABPA) e do Conselho Administrativo do Instituto Ovos Brasil, garante que, por aqui, não devem faltar ovos. Mas a produção deve ser menor em 2023 elevando os preços.
“Não temos registro de escassez de ovos. Nós nunca tivemos influenza aviária e sofremos o problema do custo com mais força em 2020, devido à seca”, lembra Santin.
De acordo com o executivo, é esse pico do preço do milho lá atrás, em 2020, que explica a queda na produção de ovos no país em 2022, que deverá se repetir em 2023.
“Tivemos uma queda de 5% da produção de ovos em 2022 e estamos projetando recuo de 2% em 2023, fruto da diminuição de matrizes [aves poedeiras] no tempo do pico do milho, quando ele chegou próximo a R$ 100 a saca”, diz Santin. “Uma matriz produtora de ovos passa dois anos produzindo, então quando há um distúrbio nesse processo, os efeitos são sentidos nos dois ou três anos seguintes.”
Oferta garantida, mas preços em alta
A ABPA informa que em 2022, a produção brasileira de ovos ficou em 52 bilhões de unidades, com consumo per capita (por pessoa) de 241 unidades. Em 2023, no entanto, a produção deve recuar um pouco, ficando na casa dos 51 bilhões, com consumo per capita de 235 unidades. “Para se ter uma ideia, nós produzimos no Brasil 1.350 ovos por segundo”, diz Santin.