A pesquisa em melhoramento de plantas pode se beneficiar de um novo campo da ciência chamado envirômica. Essa área do conhecimento vem ganhando relevância por permitir o processamento de dados em larga escala e aprofundamento da análise sobre como o ambiente influencia as lavouras. Estudo da Embrapa Arroz e Feijão, com aplicação da envirômica, aponta novos caminhos para o progresso genético do feijão, levando em conta as condições climáticas de cada região do Brasil e épocas de cultivo. O resultado é o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas, o que pode facilitar a vida dos agricultores.
Na pesquisa, foi realizado um estudo com a cultura do feijão (grãos carioca e preto) considerando diferentes safras e a utilização da base de dados de registros históricos de campos de melhoramento da Embrapa e parceiros nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o que representa uma cobertura de 98% da área de produção da leguminosa no Brasil.
Ao todo, foram analisados 424 experimentos de campo, provenientes do programa de melhoramento do feijoeiro, entre 2011 e 2018, sendo 241 com o grão carioca e 183 com o grão preto, avaliando a produtividade das plantas sob o impacto de variáveis ambientais como temperatura e umidade do ar, radiação solar e precipitação pluvial. Essas informações climáticas foram coletadas na plataforma de dados coordenada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e no banco de informações Nasa Power, da agência espacial norte-americana.
Um dos resultados desse trabalho indica, por exemplo, que na Região Centro-Oeste, para as três safras de cultivo (verão, seca e inverno), as variáveis climáticas com maior impacto na produtividade do feijão são a radiação solar e as temperaturas máximas e mínimas nas fases vegetativa e reprodutiva da lavoura. Comparativamente, na Região Sul, para as duas safras de cultivo (verão e seca, pois não há plantio no inverno) as variáveis climáticas de maior relevância são a precipitação pluvial acumulada e as temperaturas máximas e mínimas nas mesmas fases.
Pesquisa estima valores ótimos por região
O pesquisador da Embrapa Alexandre Bryan é um dos autores desse estudo e comenta que esses resultados podem aprimorar o melhoramento da leguminosa ao customizar novos materiais às características regionais. “Uma decorrência desse trabalho é a possibilidade de os melhoristas desenvolverem cultivares adaptados aos diferentes ambientes de produção do feijoeiro. Isso permitirá que aproveitem ao máximo as condições climáticas locais. Assim, o material poderá expressar todo seu potencial genético em termos de produtividade”, detalha Bryan.
O pesquisador aponta, ainda, outra contribuição do estudo realizado para o melhoramento de plantas. “A envirotipagem (a aplicação das ferramentas da envirômica) permite a criação do que podemos chamar de cultivares climaticamente inteligentes. Por exemplo, para a Região Centro-Oeste, no cultivo da safra da seca (entre janeiro e abril), a precipitação pluvial acumulada é um fator limitante, especialmente, na fase reprodutiva da lavoura.
O pesquisador considera a envirômica um campo promissor do conhecimento em pleno desenvolvimento e que pode contribuir, principalmente, para o aprimoramento das decisões que são tomadas pelos geneticistas em programas de melhoramento para a seleção de novas cultivares.
Conforme relata o cientista, “trata-se de uma área de trabalho que possibilita o refinamento de dados para o lançamento de cultivares voltadas não apenas para macro-regiões, mas também para localidades específicas, ambientes-alvo determinados, principalmente, quando aliam-se dados espaciais e de geoprocessamento às análises climáticas”.
(*) Com informações da Embrapa Arroz e Feijão.