Sabe aquela tristeza que você sente ao abrir a embalagem do morango e descobrir que quase metade dela tem sinais de deterioração ou mofo? Está prestes a acabar.
O morango ocupa o terceiro lugar na lista de maiores perdas no setor de frutas, legumes e verduras dos sacolões e centros de distribuição, conforme a 21ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro de Supermercados, feita pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), atrás apenas do tomate e da batata.
Um estudo desenvolvido pela Embrapa Instrumentação (SP) e a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) conseguiu aumentar de 5 para 12 dias o tempo de vida do morango. O resultado é fruto do avanço da nanotecnologia, que proporcionou o desenvolvimento de uma nova nanoemulsão antimicrobiana à base de diferentes compostos vegetais.
Os cientistas combinaram as propriedades dessas substâncias para gerar um material de revestimento com resistência mecânica, térmica e à água, além de propriedades ópticas e antimicrobianas. Para isso, incorporaram a uma matriz de amido de araruta nanocristais de celulose, nanoemulsão de cêra de carnaúba e óleos essenciais de hortelã-verde e palmarosa.
Com a absorção dos óleos essenciais, o revestimento foi capaz de reduzir significativamente a severidade do mofo cinzento causado pelo fungo Botrytis cinerea, um dos principais patógenos em morango, que acomete o fruto tanto em campo como na pós-colheita, e pelo Rhizopus stolonifer, responsável pela podridão mole em frutos, principalmente em pós-colheita.
Além de demonstrar uma excelente barreira contra o crescimento de fungos, o revestimento ainda foi eficaz em impedir a desidratação dos frutos e aumentar o teor de compostos bioativos benéficos para a saúde como a vitamina C e antocianinas durante o armazenamento das frutas. Entre as vantagens do uso desse revestimento, destaca-se a composição de origem totalmente vegetal e natural, sua capacidade antimicrobiana, além da simplicidade da tecnologia de obtenção.
Solução Sustentável para o mercado de morango
O estudo foi conduzido pelo bacharel em Agroecologia Josemar Gonçalves de Oliveira Filho, para a obtenção do título de doutor em Alimentação e Nutrição pela Unesp, sob a orientação do pesquisador da Embrapa Instrumentação Marcos David Ferreria.
Ele explicou que os frutos foram imersos em soluções de revestimento bionanocompósito, secos ao ar e, então, colocados em caixas plásticas e armazenados por 12 dias em temperatura refrigerada, além de serem avaliados quanto aos atributos de qualidade desde o início do experimento.
Os pesquisadores concluíram que os revestimentos de bionanocompósitos, principalmente aqueles formulados com o óleo essencial de hortelã-verde, podem ser usados como materiais de revestimento antimicrobianos para preservar a qualidade e aumentar a durabilidade de morangos frescos. Ferreira diz que revestimentos comestíveis preservam a qualidade do fruto por meio da formação de uma barreira física semipermeável na superfície do fruto, retardando a troca de gases e a umidade, reduzindo a perda de água, a respiração e as taxas de amadurecimento.
Redução do desperdício
O morango é fonte de compostos bioativos devido aos altos níveis de vitaminas C e E, além de compostos fenólicos, como as antocianinas, que são pigmentos que conferem a cor vermelha ao fruto e estão relacionados aos benefícios para a saúde. O único problema é seu tempo de vida curto no pós-colheita, devido à sua alta taxa de respiração, textura macia e sensibilidade à temperatura, choques mecânicos e vibrações, fatores que podem resultar em alto grau de deterioração por vários agentes patogênicos. Isso impacta em mudanças no pH, acidez, teor de sólidos solúveis totais, perda de cor, firmeza e massa, que reduzem a vida útil do fruto e contribuem para o desperdício de alimentos.
Meta da ONU
Tecnologias para reduzir perdas e desperdícios de alimentos contribuem com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 12) da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma de suas metas até 2030 é reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os desperdícios de alimentos chegam a mais de 30% da produção mundial anualmente, sendo considerados potencializadores da insegurança alimentar e da fome.
Tecnologia deve chegar ao mercado em até quatro anos
A próxima etapa é a finalização da tecnologia com avaliações em condições comerciais para inserção no sistema de produção e análise de aceitação no consumidor. As parcerias público-privadas têm sido utilizadas para viabilizar essa etapa com transferência de tecnologia.
“O tempo estimado para validação da nanoemulsão junto ao setor de produção e comercialização, incluindo análise de mercado e escala industrial, é de dois a quatro anos”, conclui Ferreira.
(*) Com informações da Embrapa