Às vésperas de um novo ano civil multiplicam-se votos de felicidade e prosperidade que, muitas vezes, se tornam repetitivos e estéreis. Para além dos brindes e dos fogos, a passagem de um ano é oportunidade singular de recomeços. Recomeçar supõe fazer um balanço do caminho percorrido, delinear novos propósitos e assumir compromissos que permitam avançar. Na vida de cada pessoa, é preciso recomeçar sempre. E os novos propósitos não podem limitar-se a interesses privados. Precisam ultrapassar fronteiras domésticas e incidir na vida comunitária, cidadã e sociopolítica. Por isso, todo recomeço exige uma dimensão moral que ilumine a conduta, o exercício das responsabilidades e o desempenho profissional. Não se trata de alcançar objetivos a qualquer custo, cedendo à tentação de abandonar a ética em nome de ambições estreitas, enriquecimentos fáceis ou poder ilusório.
Recomeçar é um confronto existencial guiando-se por princípios que preservam o bem comum e a dignidade humana, estando acima dos desejos pessoais. Para os cristãos, os recomeços devem ser traçados no horizonte da esperança, virtude que impede quedas sociais e políticas e favorece avanços civilizatórios, respeito aos direitos fundamentais e conquista da maturidade cultural. O Ano Jubilar vivido pela Igreja convida todos a se reconhecerem peregrinos de esperança, chamados a recomeçar com nobreza de propósitos, sem se aprisionar a interesses meramente pecuniários ou a ambições egoístas.
A esperança cristã é luz nos caminhos da humanidade. Ela sustenta o ser humano diante dos cansaços e se ancora na certeza da salvação manifestada no Natal do Salvador. O nascimento de Jesus confirma que o futuro não depende apenas de bens materiais, poder ou reconhecimento conquistados a qualquer preço. Essa esperança conduz à lucidez de colaborar na construção de uma sociedade mais justa e solidária, enquanto se caminha para um futuro que ultrapassa os limites do tempo.
Planejar o recomeço a partir de Deus, revelado em Jesus Cristo, impulsiona a fraternidade, fecunda sonhos e elege o bem comum como prioridade. Recomeçar é assumir a necessidade de uma nova concepção de mundo, fundada no encontro e no diálogo com Cristo. Sem isso, todo recomeço enfrenta o risco de fracassar, aprisionado em horizontes estreitos.
Recomeçar, enfim, é exercitar-se na arte de viver com sentido, consciente de que o tempo passa e tudo termina, permanecendo apenas o eterno da esperança que não decepciona. É hora de planejar e recomeçar sempre, à luz dessa esperança.