O líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, 62 anos, peça-chave na ofensiva militar russa na Ucrânia, acusou nesta sexta-feira (23) o Exército russo de bombardear suas bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar da Rússia.
O Exército negou as acusações, que chamou de “provocação”, enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Prigozhin, por tentativa de motim.
O líder do grupo Wagner, que já foi considerado um aliado do presidente russo, Vladimir Putin, ganhou influência política e se lançou em um confronto com autoridades políticas e militares que parece ter ido além da retórica.
Tropas russas “realizaram bombardeios, lançamentos de mísseis, contra nossas bases de retaguarda” na frente ucraniana, declarou Prigozhin em mensagem de áudio. “Um grande número de combatentes nossos foi morto”, acrescentou, prometendo responder aos ataques. “O comitê de comando do Grupo Wagner decidiu que é preciso conter aqueles que têm responsabilidade militar no país”, prosseguiu o chefe dos mercenários.
25 mil combatentes
“Nós somos 25.000 e iremos determinar as causas do caos que reina no país (...). Nossas reservas estratégicas são todo o Exército e todo o país”, disse Yevgeny Prigozhin, convocando “todos os que quiserem” a se unirem a seus homens para “acabar com a desordem”.
O Exército russo negou categoricamente as acusações de ataques. “As mensagens e os vídeos divulgados nas redes sociais por Y. Prigozhin sobre supostos ‘bombardeios do Ministério da Defesa russo contra as bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner’ não correspondem à realidade e são uma provocação”, afirmou o ministério em comunicado.
O Kremlin informou que Putin está a par de todos os eventos relacionados a Prigozhin e que “as medidas necessárias estão sendo tomadas”. Pouco depois, os serviços de segurança russos (FSB) anunciaram a abertura de uma investigação contra o líder do grupo Wagner por “incitação à rebelião armada”. Prigozhin explicou, posteriormente, que não pretendia protagonizar um golpe de Estado, e sim organizar uma “marcha pela justiça”.
Narrativas diferentes
A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.
Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o Exército russo estava “se retirando” no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, para o qual a contraofensiva de Kiev fracassa. “As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem”, declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.
“Não há controle algum, não há vitórias militares” de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos “se banham em seu sangue”, referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares. Putin e seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, afirmam, por sua vez, que o Exército está “repelindo” todos os ataques ucranianos.