Nunca na história, o Sport investiu tanto em divisões de base. As aquisições dizem respeito a melhorias físicas, em infraestrutura, e também no corpo profissional. Os cinco campos do Centro de Treinamento José de Andrade Médicis, o CT do Leão, passaram, estão passando ou passarão por reformas neste ano. Apenas em um deles, o investimento para a implantação de grama sintética chega a casa dos R$ 3 milhões. “O CT é hoje um canteiro de obras”, comemora o coordenador Geral das Divisões de Base do Sport, João Marcelo Barros.
O orçamento para as divisões de base do clube chegam nesta temporada a R$ 4,2 milhões - superior aos cerca de R$ 3 milhões de 2022. Um valor ainda baixo, especialmente quando levamos em consideração, por exemplo, que o clube faturou, segundo o próprio presidente Yuri Romão, em entrevista recente, cerca de R$ 23 milhões com venda de jogadores da base no ano passado (casos do goleiro Mailson, do meia Gustavo e do atacante Mikael).
O fato é que uma mudança de percepção está em curso no Sport. Completando um ano à frente das divisões de base do clube, João Marcelo Barros tem apresentado recursos importantes a partir da sua qualificação profissional. Com MBA de Gestão na Indústria do Futebol, pela Universidade de Liverpool, o administrador tem realizado uma série de mudanças estruturais. Na mais importante delas, ajudou o Sport a recuperar o
O Sport passou a atender a todos os
Agora, o clube projeta uma expansão física para comportar os novos profissionais, que de tantos, atualmente há um projeto para novas salas exclusivas para eles. Nos planos está a construção de espaço para escritórios no mesmo espaço onde o
Obras no CT
A Itatiaia teve acesso nesta quarta-feira (23) com exclusividade ao centro de treinamentos do Sport, espaço cada vez mais restrito às visitas da imprensa. Acompanhada pela assessoria de comunicação do clube e pelos gestores da base - além de João Marcelo, esteve presente também o executivo Rafael Fernandes -, a nossa reportagem pôde ver de perto as condições dos cinco campos em que trabalham os jogadores do profissional e da base.
Campo 1: Está processo de manutenção, em fase final;
Campo 2: campo replantio quase integral do gramado, fase avançada manutenção. Previsão para ser finalizado em setembro;
Campo 3: Campo mais distante em termos condição de uso, longe do ideal. Vem sendo utilizado ostensivamente com as reforma dos demais gramados. Passará por replantio integral assim que terminar o processo no gramado 2;
Campo 4: Campo de uso primário para os profissional, com manutenção em dia, apto para uso.
Campo 5: Canteiro de obras, aplicação de gramado sintético. Projeto para fazer arquibancada, com vestiários, e salas de escritório.
Colhendo frutos
Apesar de ser um trabalho que está em curso, até certo ponto recente, o Sport tem conseguido obter bons desempenhos em competições de base. Neste ano, a equipe sub-20, comandada por Sued Lima, chegou às quartas de final da da Copa São Paulo Júnior pela terceira vez na história. Na Copa do Brasil sub-17 chegou à semifinal pelo segundo ano consecutivo.
“Todo o projeto que a gente vem construindo é mérito do longo prazo. Quando a gente acerta desde o início, o resultado começa a chegar um pouco antes. Logicamente, o resultado de campo não vai ser o basilador do nosso trabalho. Base a gente não tem que se pautar em relação ao resultado de campo, mas uma convocação, sim. Aí é mérito também do atleta, do clube como um todo, da comissão que trabalha os atletas individualmente. É muito fruto de todo o conjunto que vem acontecendo aqui. A presidência e a direção nos ajudando, nos dando incentivo e investindo cada vez mais em estrutura. Profissionais qualificados, departamentos novos de captação, performance, conjunto vários fatores”, disse o executivo Rafael Fernandes,
Além disso, o Sport também vem aumentando a participação em competições internacional. No último mês de março, o Sport participou com na mesma categoria da Viareggio Cup, tradicional torneio sub-19 disputado na Itália.
Entrevista com João Marcelo Barros
Recuperação do certificado de clube formado
João Marcelo Barros (JMB): O Certificado é uma chancela da CBF das práticas que são adotadas aqui para o futebol de base. O que oferecemos em termos de infraestrutura para o atleta, de apoio profissional. A CBF faz toda uma verificação extremamente criteriosa para fazer essa validação e não por acaso o clube levou tanto tempo. Desde 2020 que não tínhamos o CCF. Essa certificação vem primeiro para atestar essa infraestrutura e o apoio profissional que a gente tem para os atletas de base. Em termos práticos, ela nos assegura, nos dá uma segurança maior em termos da manutenção do vínculo do atleta conosco, ainda que não tenha nenhum contrato profissional.
O contrato de formação já passa a ter uma validade que o mercado, com o CCF, respeita, para não termos aquela vazão que tivemos no passado. Outros clubes simplesmente vinham aqui, identificavam atletas com alto potencial de desenvolvimento, faziam uma proposta direto para eles e os levavam. Alguns, é bem verdade, tinham ainda a prática de nos oferecer um percentual num contrato de parceria para uma eventual venda futura, mas era uma situação totalmente desfavorável e não tínhamos o que fazer. Não tínhamos o vínculo que nos assegurava a permanência do atleta e vinhamos sendo tolhidos, perdendo grandes profissionais.
Clube passou a reter atletas da base após o CCF
JMB: Essa situação de retenção de atleta é constante. Infelizmente, ainda existem pessoas com práticas antiéticas no mundo do futebol e que tentam levar vantagem, se utilizar de poderio econômico para desviar um foco de um atleta nosso. Tentam vender maravilhas que não existem, na verdade. E é constante. Agora, a gente tem essa blindagem. O atleta não é simplesmente bater à porta e dizer que está saindo. Agora não funciona mais assim. Da certificação para cá, já tivermos que utilizar desse recurso algumas vezes e a gente passa a ter um respeito do mercado por ter essa certificação. Perdemos alguns atletas ao longo desses últimos anos. Desde que estou aqui, atletas que foram para o Palmeiras, para o Vasco, e não necessariamente são clubes que adotaram práticas ilegais ou antiéticas. Inclusive, são exemplos de clubes que nos procuraram para oferecer um percentual ou tentaram viabilizar uma participação numa venda futura, mas a gente sabe que não é o ideal. A gente perde totalmente o poder de barganha numa eventual negociação. Mas tempos passados, hoje a gente caminha numa outra direção.
Investimento nas divisões de base
JMB: Essa gestão vê a base como uma saída para a situação financeira que o clube chegou nos últimos anos. Infelizmente, a gente agora está conseguindo galgar um cenário diferente. Se for ver a representatividade da venda de atletas oriundos da base, já no ano passado, é muito simples e claro o quão importante isso aqui é para o futuro do clube. Então, enxergamos que é fundamental ter uma base bem estruturada e que isso vai assegurar frutos futuros, não só para geração de receitas, mas para uso esportivo também. Exemplo que temos agora extremamente positivo de atletas que vieram da base como Fábio Matheus, Lucas André, Juan Xavier, são alguns dos bons exemplos que a gente tem. Com isso em mente começamos a fazer investimentos.
Orçamento recorde
JMB: Neste ano estamos tendo o maior investimento na história do clube no futebol de base, vai girar em torno de R$ 4,2 milhões. É um ganho substancial. A gente já vem de uma não que foi alto, próximo a R$ 3 milhões, e isso não conta o investimento que está sendo feito em estrutura física, em gramado, em reformas de escritórios administrativos. A reforma total aqui vai girar em torno de R$ 3 milhões. Só o gramado em si gira [o sintético] em torno de R$ 2 milhões. Estamos fazendo investimento de ponta em um gramado que é utilizado nas principais arenas a nível mundial. Estamos buscando realmente o que há de melhor na indústria.
CT é um canteiro de obras
JMB: O CT é hoje um canteiro de obras de investimentos que vêm sendo feito. É algo que não é comum, não é convencional de gestão de clubes de associações civis, que é a grande maioria de clubes, porque isso aqui não gera voto. Isso aqui está cercado por muros e boa parte da torcida não vê. Por não ser aquilo que vai gerar burburinho em rede social, movimento de torcedor com um atleta de nome, que vai gerar aquele engajamento, normalmente isso não é feito. E essa gestão tem feito muito isso aqui. É até uma oportunidade de o torcedor conseguir acompanhar os investimentos que vêm sendo feito. Como falei, o CT é um verdadeiro canteiro de obras. Dos nossos cinco campos, temos dois em manutenção pesada, com replantio de grama para termos uma estrutura realmente de ponta do futebol. Temos um gramado ali sendo instalada grama sintética, em meados de setembro vamos ter o gramado pronto.
Arquibancada no CT e setor de captação
JMB: A reforma que fizemos aqui é grande, até a instalação de uma pequena arquibancada para eventos de pequenos portes, principalmente jogos da base. Expansão de espaço para escritório. Hoje, não tenho espaço para comportar todos de função administrativa aqui na base. É muito bom, a gente vem expandido. O setor de captação do clube, há um ano quando eu cheguei, não tinha captação. O clube não estava no mercado prospectando, monitorando jovens atletas. Já temos projeto para expandir escritórios da base para comportar essa infraestrutura. A captação não tinhamos ninguém ano passado e hoje temos cinco profissionais. Vamos expandir. Ano que vem vamos ter pelo menos mais três observadores. Pretendemos fechar o ano com uma equipe de pelo menos quatro observadores.
Ir até os atletas para captar talentos
JMB: Temos supervisão, apoio administrativo interno, analista de mercado, temos observador e vamos expandir o trabalho de observação porque base é muito isso, estar em campo mesmo, assistindo os jogos, acompanhando projetos. É ir até onde os atletas estão, porque não vai chegar de mão beijada para a gente. Não tem muito recurso de vídeo, estatística, é estar em campo mesmo. Para se ter uma ideia, só este ano o setor de captação já monitorou e acompanhou mais de cinco mil atletas. Só em processo de seletiva aqui, tivemos quase 500 atletas sendo monitorados. Depois, o que chamamos de intercâmbio técnico. É diferente daquela antiga peneira. No passado, traziam os meninos soltavam no campo e passavam a tarde mostrando o que tem para mostrar. Mas isso não era assertivo. Como está o menino naquele dia? São garotos, como vão reagir psicologicamente com aquele cenário de teste ali de uma tarde? Então, mudamos essa dinâmica. Hoje, temos processos de avaliação de atletas que chamamos de filtro 1, quando trazemos um atleta por um período mais longo, ele fica treinando em grupos, todos sendo avaliados, por um período de três a cinco dias já com metodologia de treino que usamos aqui. Os aprovados passam para filtro 2, levando os atletas para treinar com o grupo, como vão reagir à dinâmica real, até a aprovação.
Transição base-profissional
JMB: Hoje existe uma integração muito boa. Quando Yuri [Romão, presidente] me convidou para o clube existiam duas pastas, a vice de Futebol e a vice de Base e a gente não via sentido ali em haver essa dissidência, segregação. Afinal é tudo futebol do Sport Club do Recife. Então, a sugestão foi que a antiga posição de vice de Futebol de Base se tornasse uma posição ligada à VP de Futebol, que hoje é vice presidência de Competição. Mas para promover essa integração. Fruto disso é que hoje temos todo o processo de base se comunicando com o futebol profissional. Nós desenvolvemos um caderno metodológico prático do atleta do clube. Qual o perfil de atleta que o clube procura? A gente tem todo esse trabalho de forma integrada. O que eu vou precisar trabalhar em termos de posições, de idade, para podermos suprir uma carência no profissional? E não por acaso hoje o Sport é, sem dúvida alguma, um dos melhores clubes para o desenvolvimento e geração de oportunidade para atletas de base. Isso não é João que está falando, são números que falam [de acordo com levantamento interno do clube]. O hoje, considerando os 20 clubes da Série A e os 20 da Série B é o segundo que mais tem atletas desenvolvidos localmente aqui na base sendo utilizados no profissional. São 11 atletas com minutagem na Série B. A gente só fica atrás do São Paulo, que tem 12 atletas com minutagem na Série A. Estamos empatados com clubes como Corinthians e Grêmio, que também utilizam a mesma quantidade de atletas. Mas temos atletas com minutagens extremamente importantes no profissional. Tem os mais antigos, Ewerthon, Chico, Juba e por aí vai, e tem os que subiram neste ano que ficamos felizes em ver o desenvolvimento e como já pegou a camisa e ficou em definitivo, vide o caso de Fábio Matheus, Lucas André, Juan com oportunidades também. Esse é o intuito da base, não jogamos para levantar troféu. Isso é um meio o fim é fazer com que os atletas cheguem no profissional.