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Especialista explica evolução do gramado sintético e aponta Arena MRV como referência

Sérgio Schildt destaca que indústria busca ‘estado da arte’ e está em constante evolução

Gramado sintético da Arena MRV, em Belo Horizonte

Utilizado desde maio, o gramado sintético da Arena MRV pôs fim a uma enorme dor de cabeça do Atlético na “casa própria”, que não conseguiu se adaptar à grama natural e sofreu críticas de jogadores, técnicos e da mídia desde a inauguração do estádio em agosto de 2023. Contudo, a discussão sobre a escolha pelo artificial também gera divergências no “país do futebol”. Mas, neste contexto, o Alvinegro não está sozinho.

Assim como o Galo, Palmeiras, Botafogo, Athletico-PR e Chapecoense também adotaram a grama sintética em suas arenas; o Furacão, inclusive, foi o precursor, em 2016. Contrário à ideia, o Flamengo recentemente tentou propor à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), durante reunião dos clubes, a proibição deste tipo de material; contudo, a sugestão não entrou em pauta.

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Segundo Sérgio Schildt, CEO da Recoma, empresa especializada em pisos esportivos e referência no Brasil, “a indústria vive numa busca permanente para atingir o ‘estado da arte’, em termos da oferta da infraestrutura esportiva”. A intenção é que o gramado sintético seja cada vez mais parecido com o natural.

“A infraestrutura esportiva evolui na velocidade dos computadores. Tudo o que diz respeito à grama, as análises são sempre feitas com base no retrovisor. Quando olho para o gramado do Athletico-PR, por exemplo, foi feito há dez anos. É de uma tecnologia muito anterior à atual, além de ser um gramado com dez anos de uso. Assim como acontece com um carro de dez anos de uso. Você não pode cobrar a mesma tecnologia e comparar com aquilo que se pode fazer hoje. Esta é a grande discussão técnica”, destaca Schildt à Itatiaia.

“Essa discussão é contaminada pela questão das paixões e disputas esportivas fora de campo. Há uma certa disputa para ver quem tem a melhor versão, e quem desqualifica mais o outro. Basicamente, é preciso trazer a discussão para uma análise técnica e científica, e sair desta questão clubística, do sarro e da desqualificação do outro”, acrescenta.

Sobre a Arena MRV

Schildt acompanhou de perto o processo de escolha do Atlético, durante a construção da Arena MRV. Apesar de todos os problemas que o clube passou após optar pelo gramado natural, ele afirma que em nenhum momento a cúpula abriu mão da qualidade.

“O Atlético Mineiro é uma grande referência no que diz respeito à escolha (qualidade dos produtos), tanto da grama sintética, quanto do gramado natural. Eu estive na construção da Arena MRV, onde houve uma grande discussão. O natural foi escolhido, mas se mostrou ineficaz pela situação (condições gerais do local, uso da Arena para eventos e shows, etc.). Nos primeiros jogos, foi um lamaçal, um negócio horroroso. Depois foi se aperfeiçoando a condição de uso, mas em um ano, ficou muito claro que para o modelo de negócio do clube (de Arena Multiúso), a grama natural não serviu”, observa.

Arena MRV x Ligga Arena

Perguntado sobre as diferenças entre os gramados de Atlético e Athletico-PR, na Arena MRV e na Ligga Arena, o executivo pontuou os materiais utilizados em cada estádio.

“São muitas diferenças. O gramado do Athletico-PR não tem o Shock Pad (amortecimento embaixo). Isso já dá uma diferença absurda em termos de absorção de impacto e qualidade do jogo. Ele tem um enchimento feito com fibra de coco. Os mais modernos buscam fibras naturais, como um blend (combinação de elementos). É o melhor da cortiça, com o melhor da fibra de coco, com o melhor da palha de arroz... a última versão, traz uma sensação de naturalidade ao gramado. Este enchimento é que vai na parte superior do carpete”, explica.

Lesões no sintético

Outra questão abordada com o especialista foi em relação às lesões. Muitos jogadores, como Neymar, Hulk e Dudu, por exemplo, já se queixaram do gramado sintético e atribuíram contusões ao piso artificial. Segundo ele, os estudos mostram cenário contrário.

“Os atletas que estão mais adiante na carreira, com mais idade, têm dificuldade com o jogo veloz da grama sintética. Porém, a indústria que vem perseguindo o gramado natural no estado da arte, que é um sonho de todos, ela pode estabelecer um grau de especificação que acompanhe o gramado na velocidade do jogo que se quiser. Está comprovado cientificamente que a grama sintética, atual, contra um gramado natural num estado médio, ela proporciona 14% a menos de contusões. Essa discussão está vencida”, afirma Schildt.

“Para que o gramado sintético seja aprovado para o futebol profissional, ele tem que ser quase “um camelo passando no buraco da agulha”. São mais de 16 testes diferentes, todos eles com instrumentos científicos, para que a Fifa aprove. Você testa rolagem e quique da bola, drenagem, resfriamento, a planicidade, o nivelamento, a capacidade de absorção de impacto, etc.

“Os fios do carpete e o Shock Pad, que vai embaixo do gramado, também são testados antes. Assim, é possível a aprovação da instalação. Isso não é feito no gramado natural. Ele vai na sensibilidade. Não há testes tão apurados”, finaliza.

Henrique André é repórter multimídia e setorista do Atlético na Itatiaia. Acumula passagens por Uol Esporte, Jornal Hoje em Dia e outros veículos. Participou da cobertura de grandes eventos, como Copas do Mundo (2014-18), Olimpíada (2016-2021) e Mundial de Clubes (2025).

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