Luiz Eduardo Baptista, o Bap, abriu o jogo sobre as divergências entre o Flamengo e a Libra.
Em entrevista ao Uol, Bap disse que o Flamengo é excluído de todas as decisões da Libra. Entretanto, ele destacou que o clube carioca não irá aceitar imposições na liga.
“Nesses dez meses que eu tenho tido contato com o pessoal da Libra, não houve uma única reunião onde se discutisse algum assunto na pauta sobre o futebol brasileiro. O Flamengo pediu para participar do comitê de integração com a Liga Forte e Palmeiras e São Paulo votaram contra. Então, quando você pensa em juntar Libra e Liga Forte, e você vê clubes que são, em tese, seus parceiros, acreditarem que o Flamengo não pode, ou não deve, ou eles não querem que participe de um comitê de união das ligas, quem é egoísta? Quem é excludente? Na verdade, são outros clubes que são excludentes ao Flamengo. O Flamengo nunca se negou a discutir e a participar de absolutamente nada”, disse o presidente rubro-negro.
“Então, não é verdadeiro que o Flamengo não queira participar, sobre essa história de que o Flamengo é egoísta, O Flamengo abriu mão de meio bilhão de reais em cinco anos, sem nenhuma garantia de absolutamente nada. E os nossos parceiros não querem que a gente participe do comitê de integração com a Liga Forte. Então, você veja, tem uma narrativa. Na verdade, você tem um ou dois clubes querendo mandar e eles acham que o Flamengo vai ter um comportamento dócil e ficar a reboque. Eu tenho um compromisso, como presidente do Flamengo, de fazer o Flamengo se representar à altura”, completou.
Ação judicial
O presidente do Fla também justificou a ação judicial movida pelo Rubro-Negro na Justiça do Rio de Janeiro, onde o clube carioca pediu o bloqueio de mais de R$ 77 milhões referentes a valores de direitos de transmissão.
Em decisão liminar, expedida no dia 24 de setembro, o órgão determinou que a Globo, parceira comercial da Libra e detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, depositasse o valor em juízo.
“No Brasil, o devedor é sempre beneficiado. Eu tenho um compromisso com a instituição. Você divide esse dinheiro agora, daqui a dois anos você decide na Justiça que o dinheiro é do Flamengo. De onde você vai tirar esse dinheiro dos clubes, Rodrigo? Como é que você vai reter esse dinheiro depois que ele foi recebido e foi gasto pelos clubes? Então, disso eu entendo. Nunca mais a gente veria esse dinheiro”, explicou.
“Nós estávamos com uma assembleia em aberto, discutindo este assunto, quando a Libra, por meio do Silvio Matos, orienta a Globo a pagar, sabendo que isso estava em aberto, sem consultar o Flamengo. Se não houvesse essa primeira autorização, talvez a atitude do Flamengo tivesse sido diferente. E depois de a gente protestar e de a gente notificar a Globo e a Libra, eles orientaram o segundo pagamento”, completou.
Bap falou, ainda, sobre uma tentativa de reconciliação mediada pelo advogado da Libra, André Sica. Entretanto, o presidente do Flamengo, apontou um conflito de interesse, visto que Sica também advoga para o Palmeiras e para outros clubes da Libra.
“O [André] Sica é advogado do Palmeiras, ele trabalha pro Palmeiras, a família dele trabalha pro Palmeiras há muito tempo, o escritório que entrou com o agravo lá da Libra contra o Flamengo é o escritório do Sica. Isso é um conflito evidente. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, eu jamais teria concordado com a construção de uma Libra. A Libra é verde. A Libra é toda verde. A Libra é palmeirense. O Sica é advogado do Palmeiras. Virou advogado de outros clubes. Tá certo? Ele é advogado. Ele advoga para outros clubes que estão na Libra”, disparou.
Entenda o conflito
O Flamengo conseguiu, em 24 de setembro, uma decisão liminar na Justiça do Rio de Janeiro para que a Rede Globo depositasse, em juízo, valores referentes ao segundo repasse das verbas de transmissão do Campeonato Brasileiro. As informações são do Estadão.
O montante em questão chega à casa de R$ 77,1 milhões. O primeiro repasse, realizado em 25 de julho, foi de R$ 76,6 milhões. Ainda restam mais duas parcelas a serem pagas neste ano: em novembro, e a outra ao fim do torneio. O contrato dos clubes com a Libra é válido até 2029.
A discordância entre a Libra e o Flamengo se iniciou neste ano. O ponto de atrito entre o Rubro-Negro e a liga se dá em como a entidade divide as verbas de acordo com a audiência das transmissões.
O contrato da Libra com a emissora carioca prevê uma distribuição da seguinte maneira: 40% de maneira igualitária para todos os clubes na Primeira Divisão; 30% de acordo com os resultados esportivos (posição na tabela); e os outros 30% conforme a audiência. Este último, causa a discordância específica do Flamengo.
No estatuto, a Libra destaca a distribuição dos valores da seguinte maneira: “30% (trinta por cento) vinculado à Audiência, calculada de acordo com a porcentagem de audiência de cada Clube Associado sobre o total dos Clubes Associados da Série A, por plataforma de transmissão ou streaming, ponderada pela contribuição de tal plataforma às Receitas de transmissão e streaming, através da seguinte fórmula:
Porcentagem de audiência de cada Clube: (Soma do número de indivíduos que assistiram os jogos ao vivo do Clube como mandante e visitante + 2) / pelo número total de indivíduos que assistiram os jogos da Série A do campeonato na plataforma.”
Vale destacar que o acordo entre Libra e Flamengo foi assinado pelo ex-presidente do clube carioca, Rodolfo Landim. O mandatário deixou o comando do clube no fim de 2024.
O vínculo entre a liga e a Globo, por sua vez, não determina quanto a emissora pagará por cada plataforma que transmite os jogos - seja TV aberta, TV fechada ou pay-per-view. O contrato diz que há uma remuneração na ordem de R$ 1,17 bilhão por temporada da Série A pela compra de todo o direito de transmissão.
O Flamengo entende que o estatuto não é suficiente para determinar o pagamento do percentual determinado à audiência. Assim, sugere que os valores referentes ao repasse sejam divididos de acordo com a quantidade de registros destinados a cada clube no pay-per-view.
Ou seja, se, por exemplo, o Rubro-Negro detiver 35% dos cadastros, então deveria receber 35% sobre os valores de cada parcela da audiência.
Em agosto, o clube carioca propôs uma reunião para debater o tema. No entanto, obteve somente o apoio do Volta Redonda - os demais votaram contra a proposta do Flamengo. Ainda assim, o Rubro-Negro partiu para as vias judiciais apoiado pelo artigo do estatuto da Libra que determina haver unanimidade nas decisões que tratem questões de distribuição de dinheiro.