Uma comitiva da Fifa e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) manteve a visita à sede da CBF para avaliar o afastamento do presidente, Ednaldo Rodrigues, apesar de o dirigente ter sido recolocado no cargo na quinta-feira (4). A decisão liminar foi do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A delegação será liderada por Emilio Garcia Silvero, chefe de conformidade da Fifa, e tem previsto três dias de encontros no Brasil, entre segunda-feira (8) e quarta-feira (10). O grupo quer entender os procedimentos feitos para o afastamento de Ednaldo, em decisão do Tribunal de Justiça do Rio, o que o estatuto da Fifa não permite, mas também os movimentos para sua restituição, que tiveram participação de partidos políticos, o que as regras da entidade também vetam.
Um dos argumentos usados na ação aberta pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil) ao STF para a recondução de Ednaldo era justamente o fato de a Fifa poder suspender a CBF, o que faria Seleções e clubes serem proibidos de participar de torneios internacionais. O partido entrou na questão por ter ligação com Alcino Reis Rocha, secretário-geral da CBF que também estava afastado.
A Itatiaia apurou, entretanto, que não existia possibilidade de a Fifa suspender o Brasil, ao menos não nesse momento. Financeiramente não interessa, principalmente à Conmebol, ter seu principal filiado suspenso. Para a Copa Libertadores, por exemplo, seria trágico comercialmente perder os clubes brasileiros.
A comitiva pretende se reunir com Ednaldo Rodrigues, mas conversar também com José Perdiz de Jesus, presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que comandou interinamente a entidade de 7 de dezembro a 4 de janeiro, por decisão do TJ-RJ. Presidentes de federações e de clubes, que já se movimentavam para a nova eleição, que deveria ser marcada até 25 de janeiro, também devem ser ouvidos.
Entenda o caso
O processo que causou o afastamento de Ednaldo Rodrigues está ativo desde 2018, por iniciativa do Ministério Público do Rio de Janeiro, ainda referente à eleição de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo.
O MP questiona o estatuto da confederação por estar em desacordo com a Lei Pelé porque prevê pesos diferentes para clubes nas votações para a escolha dos presidentes. Os dirigentes das 27 federações estaduais têm peso 3 na votação, contra peso 2 dos 20 clubes da Série A e peso 1 dos 20 da B.
A Justiça anulou em 2021 a eleição de Rogério Caboclo e determinou uma intervenção na CBF, nomeando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), como os interventores. Essa decisão foi cassada pouco tempo depois.
A CBF e o Ministério Público fizeram um acordo extrajudicial e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Na nova eleição, em 2022, Ednaldo Rodrigues, que estava como presidente interino, foi eleito para um mandato completo de quatro anos, até março de 2026.
Gustavo Feijó, que era vice na época de Caboclo, acionou a 2ª instância. O pedido era que o TAC fosse anulado, e Ednaldo afastado, alegando que o juiz de 1ª instância não tinha atribuição para homologar o documento. Foi isso que foi acatado em 7 de dezembro pelo TJ-RJ. Em 4 de janeiro, o Ministro do STF Gilmar Mendes concedeu uma liminar devolvendo Ednaldo ao comando da confederação até que o plenário do tribunal analise o caso, sem data para acontecer.