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Alexia Putellas reforça protesto da Seleção Espanhola contra Federação: ‘Tolerância zero’

Craque da Espanha e do Barcelona reforçou o posicionamento e voltou a demonstrar apoio a Jenni Hermoso

Alexia Putellas reforça protesto da Seleção Espanhola

Diante de protestos e negociações com a Federação Espanhola de Futebol, Alexia Putellas, craque da Seleção e do Barcelona, participou de entrevista coletiva antes da estreia na Liga das Nações. No Grupo D, a Espanha enfrenta a Suécia às 13h30 (horário de Brasília) desta sexta-feira (22), no Estádio Gamla Ullevi, em Gutemburgo, na Suécia.

“Já faz algum tempo que nós aqui exigíamos que nos ouvissem, porque víamos que haviam muitas décadas de discriminação sistemática contra as mulheres”, comentou sobre a situação.

A camisa 11 da equipe espanhola estava entre as 19 das 23 atletas convocadas que assinaram um manifesto na última semana, onde abriam mão de atuar pela Seleção Espanhola até que mudanças estruturais sejam feitas na federação.

“Depois da final da Copa do Mundo, ocorreram alguns acontecimentos inaceitáveis do nosso ponto de vista, sendo a gota d'água a Assembleia subsequente. Lá dissemos que não queríamos continuar nesse caminho, que tínhamos que ter tolerância zero diante da situação que nossa colega (Jenni Hermoso) e nós vivenciamos, para não abrir precedentes caso isso aconteça novamente em nossa sociedade e no mundo”, explicou.

“Tivemos que lutar muito para sermos ouvidos, isso acarreta desgastes que não queremos ter, porque o que nos preocupa é dentro de campo, jogando, que as pessoas comemorem as vitórias conosco”, completou.

Convocadas pela técnica Montse Tomé, as jogadoras da Espanha chegaram na terça-feira (19) ao hotel da delegação, em Madrid, mesmo após manifestarem boicote à Seleção. Antes do embarque, Alexia já havia sido alvo de jornalistas. Questionada sobre como estava se sentindo, a campeã mundial foi curta em sua resposta: “Mal, como vou me sentir?”.

Apoio das adversárias

Na segunda-feira (18), quando tomaram conhecimento da convocação, as espanholas emitiram outro comunicado, onde afirmaram que continuam se considerando como não selecionáveis. Diante da situação, as jogadoras receberam o apoio da sueca Filippa Angeldahl. A Suécia também está no Grupo D, junto de Espanha, Itália e Suíça, na Liga das Nações.

“Elas têm de sentir o apoio à sua volta, que outros países as apoiam nas suas decisões. Se acham que devem boicotar para que algo aconteça, é claro que as apoiamos”, comentou em coletiva de imprensa.

Punição

Conforme informado pelo jornal Sport, as jogadoras procuraram profissionais jurídicos e sindicais para tratar da situação. Após a consulta, foram orientadas a se apresentarem.

A legislação esportiva espanhola sugere que atletas que recusarem uma convocação para a seleção nacional sem uma justificativa razoável estarão sujeitas a punições. Financeiramente, as sentenças podem chegar aos 30.000 euros (cerca de R$ 155.600). Além disso, também há a possibilidade de suspensão de dois a cinco anos.

O ministro da Cultura e dos Esportes, Miquel Iceta, afirmou durante pronunciamento que existem outras maneiras de contornar a situação, sem que as punições sejam necessárias.

“Nem imagino (punir as jogadoras), vamos encontrar soluções mais cedo, o que não podemos é continuar a cometer injustiças e a prejudicar as jogadoras”, afirmou.

“O presidente do Conselho Superior do Esporte (Víctor Franco) vai trabalhar na procura de uma solução”, acrescentou. “Que (a federação) corrija todas as deficiências desta convocação atípica, que mude as estruturas federativas para que seja um espaço de segurança, competitividade e profissionalismo a que as jogadoras têm direito”, concluiu.

Como tudo começou

A Promotoria da Espanha denunciou Luis Rubiales, presidente afastado da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), pela acusação de agressão sexual e coerção contra a atacante espanhola Jenni Hermoso.

A investigação foi aberta no dia 28 de agosto. Rubiales pode ser punido com multa ou prisão de um a quatro anos se for acusado por agressão sexual. A Lei espanhola não diferente “importunação sexual” de “agressão sexual” e pune qualquer ato sem consenso.

Além da denúncia por agressão sexual, há indícios de coerção por parte do dirigente. Segundo a Promotoria, Rubiales pressionou Hermoso para dar declarações públicas que a ação foi consentida. As autoridades espanholas ainda pedem ajuda aos órgãos australianos para saber quais são as leis do país sobre assédio e, assim, também formalizar denúncia onde ocorreu o crime.

Estreia na Liga das Nações

Nesta sexta-feira (22), a Espanha enfrenta a Suécia e, em seguida, a Suíça no próximo dia 26 (terça-feira). A Liga das nações concede vaga para a Olimpíada de Paris, torneio que a Seleção Espanhola nunca participou.

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Jornalista em formação na UFMG. Apaixonado por futebol e esportes em geral.