Venda da Warner Bros para a Netflix acende alerta em Hollywood

Jane Fonda e sindicatos do setor afirmam que a concentração de mídia ameaça empregos, criatividade e até a liberdade de expressão nos Estados Unidos

A venda histórica da Warner Bros Discovery para a Netflix por 72 bilhões de dólares provocou forte preocupação em Hollywood. Mesmo antes da confirmação do negócio, que ainda precisa passar pela análise de órgãos reguladores, figuras importantes da indústria e sindicatos já demonstravam alerta diante de um dos acordos corporativos mais ousados dos últimos anos.

Horas antes do anúncio oficial, a atriz e ativista Jane Fonda publicou uma coluna no portal The Ankler em que afirmou que a crescente concentração de empresas de mídia coloca em risco não apenas empregos e a criatividade, mas também a saúde democrática dos Estados Unidos.

Na época, ainda não era público o desfecho da disputa que envolveu Netflix, Paramount e Comcast. Mesmo assim, Fonda disse que qualquer fusão desse porte representava uma escalada preocupante em uma crise de consolidação que ameaça toda a indústria do entretenimento, o público e até a Primeira Emenda da Constituição americana.

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A atriz também argumentou que a concentração reduz diversidade de histórias, enfraquece sindicatos e limita a capacidade de negociação dos profissionais. Ela destacou que quando poucas megacorporações controlam todo o processo, passam a ter poder para pressionar e dificultar a atuação de entidades como SAG-AFTRA, WGA, PGA, DGA e IATSE.

O alerta de Fonda, porém, foi além do impacto econômico. A artista acusou a administração atual de usar fusões e revisões regulatórias como ferramentas de influência ideológica. Ela mencionou o caso da fusão entre Skydance e Paramount e criticou ações do presidente da FCC, que segundo ela resultaram em investigações, demissões e cortes em programas de diversidade.

A atriz ainda relembrou episódios de censura e perseguição política em Hollywood nos anos 50, citando o envolvimento de seu pai, Henry Fonda, no Committee for the First Amendment. Para ela, ignorar os sinais agora pode deixar o setor sem indústria e sem democracia para defender.

Sindicatos reagem ao acordo

Embora a Netflix tenha apresentado a compra como uma medida favorável aos trabalhadores, vários sindicatos discordam.

O Sindicato dos Roteiristas (WGA) foi o mais direto. Em comunicado divulgado pelo The Hollywood Reporter, afirmou que a fusão precisa ser barrada. Para a entidade, permitir que a maior plataforma de streaming absorva um dos seus principais concorrentes seria exatamente o contrário do que as leis antitruste buscam proteger.

Mike Schur, cocriador de Parks and Recreation e integrante da WGA West, reforçou que a unificação das operações deve ser devastadora para os profissionais. Segundo ele, menos empresas significa menos empregos, sem exceção.

O Sindicato dos Diretores (DGA) adotou um posicionamento mais cauteloso. Durante as negociações, afirmou que se reuniria com a Netflix para entender seus planos para a Warner e reforçou que a saúde da indústria depende de concorrência real por talentos.

Já o SAG-AFTRA, sindicato dos atores, informou que só tomará posição após avaliar com cuidado os impactos do acordo. A entidade afirmou que qualquer fusão precisa representar aumento de produção, não cortes, e que o processo deve ocorrer em um ambiente de respeito ao talento envolvido.

A Producers Guild of America também declarou preocupação. Para a entidade, é essencial que autoridades e empresas encontrem meios de proteger o sustento dos profissionais, garantir criatividade, ampliar oportunidades, preservar a escolha do consumidor e assegurar a liberdade de expressão.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, foi responsável pelo site da Revista Encontro, e redator nas agências de comunicação Duo, FBK, Gira e Viver.

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