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Claudia Leitte muda letra de música, secretário repudia e Ivete reage: ‘Retrocesso’

Cantora evangélica não cantou a parte da canção ‘Caranguejo’ que celebra Iemanjá, orixá de religiões de matriz africana

Polêmica veio à tona nesta terça-feira (17)

O nome de Claudia Leitte ficou em alta, nesta terça-feira (17), após a cantora trocar a letra de uma música durante um show. A repercussão chamou atenção do Secretário Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, que repudiou a situação, e da cantora de axé, Ivete Sangalo.

Se trata da canção ‘Caranguejo’, que, em um de seus trechos, menciona uma orixá feminina das religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Claudia, que é evangélica, trocou a frase “saudando a rainha Iemanjá" para “Eu canto meu Rei Yeshua”, que significa ‘Jesus’ em hebraico.

Secretário se pronuncia

No momento, uma multidão curtia o show e o vídeo só viralizou horas depois. Pedro Tourinho, Secretário Cultura e Turismo de Salvador, usou seu perfil no Instagram para comentar a situação. Ele explica que o desabafo não é apenas sobre a cantora.

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“Axé é uma palavra de origem yorubá, que tem um significado e um valor insubstituível na cultura e nos cultos de matriz africana. Deste mesmo lugar, e com essa mesma importância, vêm também os toques de percussão que sustentam, dão identidade e ritmo à chamada Axé Music”, iniciou.

Tourinho continua: “Sempre há tempo para refletir, entender, mudar e reparar, mesmo após os 40 anos. O papel da cultura negra no axé music, o protagonismo dos cantores brancos, com os negros na composição e na “cozinha”, são fatos que não podem ser contornados. Não é para se fazer caça às bruxas, mas sim fazer justiça e colocar tudo no seu devido lugar”.

Ivete reage

Ivete Sangalo demonstrou seu apoio ao Secretário ao curtir e comentar a publicação com uma sequência de emojis de aplausos. A também cantora de Axé foi batizada na igreja católica, mas já afirmou em entrevistas antigas que não tem uma crença definida.

Em energia e conexão, e afirma que religião não se trata apenas de rituais, mas sim de conexões individuais.

Veja o texto completo na íntegra:

“Axé é uma palavra de origem yorubá, que tem um significado e um valor insubstituível na cultura e nos cultos de matriz africana. Deste mesmo lugar, e com essa mesma importância, vêm também os toques de percussão que sustentam, dão identidade e ritmo à chamada Axé Music.

Sempre há tempo para refletir, entender, mudar e reparar, mesmo após os 40 anos. O papel da cultura negra no axé music, o protagonismo dos cantores brancos, com os negros na composição e na “cozinha”, são fatos que não podem ser contornados. Não é para se fazer caça às bruxas, mas sim fazer justiça e colocar tudo no seu devido lugar.

Homenagens ao Axé Music em 2025 têm de ser também afirmativas, trazendo os tambores para frente, os compositores para o alto. Têm de remunerar também de forma equivalente todas as cores. Têm de trazer a informação da origem daquela batida, falar de Dodô tanto quanto de Osmar. Celebrar aquele momento, trazendo luz a tudo e todos.

Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas, de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo, e é o surreal e explícito reforço do que houve de errado naquele tempo.

Se é para celebrar os 40 anos do Axé Music, que seja para celebrar com respeito, fortalecendo seu fundamento, ajustando desequilíbrios, valorizando sua verdade, avançar caminhando para frente. Não podemos admitir desrespeito, apropriação e retrocesso, novamente.”


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André Viana é jornalista, formado pela PUC-MG. Já trabalhou como redator e revisor de textos, produtor de pautas e conteúdos para rádio e TV, social media, além de uma temporada no marketing.