O Inhotim, maior museu a céu aberto da América Latina, recebe duas exposições de renomados artistas contemporâneos e uma mostra coletiva a partir de 13 de abril. Grada Kilomba apresenta pela primeira vez no Brasil a aclamada obra O Barco| The Boat (2021), enquanto Paulo Nazareth nos coloca em contato com Esconjuro (2024), exposição monográfica com trabalhos inéditos, novos arranjos e releituras de suas obras.
Já a exposição coletiva Ensaios sobre paisagem (2024) conta com trabalhos de Aislan Pankararu, Ana Cláudia Almeida, Castiel Vitorino Brasileiro e Zé Carlos Garcia. As mostras individuais acontecem nos espaços da Galeria Galpão e da Galeria Praça, respectivamente, enquanto a coletiva é realizada na Galeria Lago.
O Barco | The Boat (2021)
A portuguesa Grada Kilomba (Lisboa, 1968), radicada em Berlim, trabalha com os temas da memória, trauma e pós-colonialismo. Recorrendo a performances, vídeos, instalações escultóricas e sônicas de grande escala, a artista interroga conceitos de conhecimento, violência e repetição. O trabalho de Kilomba, também escritora, é particularmente conhecido pela prática subversiva de contar histórias e pelas suas imagens imersivas e poéticas, projetando-a como uma das mais importantes vozes de seu tempo.
Apresentada pela primeira vez no Brasil, O Barco | The Boat (2021) é uma obraperformática de Grada Kilomba, que dispõe 134 blocos de madeira queimada em uma área de mais de 220m², estendendo-se por 32 metros de comprimento. A peça desenha minuciosamente a silhueta do fundo de uma grande embarcação, revelando a arqueologia do espaço criado no fundo dos barcos para acomodar os corpos de milhões de pessoas africanas escravizadas. Descansando sobre 18 blocos de madeira ritualmente queimada sobre o fogo, jaz gravado em dourado um poema escrito por Kilomba, traduzido para iorubá, kimbundu, crioulo cabo-verdiano, português, inglês e árabe da Síria. No Inhotim, o trabalho ocupa o espaço da Galeria Galpão, antes ocupado por artistas como William Kentridge, Janet Cardiff e George Bures Miller.
A instalação é acompanhada, ainda, de uma performance dirigida por Grada Kilomba que se desdobra no Inhotim em três atos durante o período de exposição no Inhotim. O primeiro ato conta com apresentação de cantores de Gospel e Ópera, bailarinos clássicos e percussionistas. A apresentação para o público em geral é no dia 14 de abril. Nos atos seguintes, Kilomba reencena a performance com um grupo formado por artistas locais de Brumadinho e região.
Esconjuro
Partindo das relações entre história e territórios, Paulo Nazareth traz ao Inhotim a exposição Esconjuro (2024), que trabalha o período da própria mostra, entre o outono de 2024 e o inverno de 2025, ao longo de 18 meses no Inhotim. A partir da Galeria Praça e ocupando também outros espaços do Inhotim, a primeira configuração de Esconjuro é composta por obras que apontam diversas maneiras de se relacionar com a terra, seus ciclos e as transformações.
Casa de Exu (2015-2024), instalada nos arredores da Galeria Praça, foi a primeira obra construída no contexto de Esconjuro. A obra pode ser interpretada como oferenda e proteção, mas também busca confundir quem se aproxima da encruzilhada que antecipa a galeria, graças ao cheiro da aguardente da cana-de-açúcar que atinge o olfato antes dos outros sentidos.
Para Esconjuro, Paulo Nazareth deu início à formação de um bananal. A banana é uma fruta constante em todas as estações do ano, muito frequente nos quintais de casas e sítios de periferias. Bananal (2024), enquanto obra de Nazareth, se configura a partir de uma espécie de fruta que há anos habita o território, antes mesmo do Inhotim, alimentando trabalhadores da região e suas famílias. No centro dessa obra-plantação, ancorada abaixo do solo, está uma bananeira fundida em bronze.