A morte de Matthew Perry, conhecido pelo papel de Chandler Bing em “Friends”, surpreendeu o mundo na noite de sábado (28). Com a notícia, a autobiografia do ator, “Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível”, se tornou o livro mais vendido na Amazon Brasil neste domingo (29). O livro foi lançado em 2022 no exterior e, no Brasil, em janeiro deste ano.
A obra é descrita como um relato transparente e sensível do ator e inclui uma série de relatos marcantes. Perry interpretou um dos protagonistas de uma das séries mais assistidas do mundo enquanto enfrentava o vício em drogas. A produção do seriado, que também contavam com Jennifer Aniston, Lisa Kudrow, Courteney Cox, Matt LeBlanc e David Schwimmer durou dez anos, entre 1994 e 2004.
“Olá, meu nome é Matthew, embora você possa me conhecer por outro nome. Meus amigos me chamam de Matty. E eu deveria estar morto”, introduziu na autobiografia que vendeu um milhão de cópias em 2022. Leia trechos:
O prefácio da obra é assinado por Kudrow, que interpretou Phoebe em “Friends”.
“Como anda o Matthew Perry? Desde que começaram a me fazer essa pergunta, esse foi o principal questionamento que ouvi ao longo dos anos”, escreveu a amiga. “Mas a verdade é que eu não sabia muito bem como andava o Matthew. Eu me concentrava em Matthew, que me fazia rir todo dia e que uma vez por semana me fazia rir tanto que eu não conseguia respirar. Lá estava ele, Matthew Perry, brilhante, charmoso, doce, sensível, muito sensato e racional”.
A artista finaliza com uma mensagem direcionada ao amigo. “Ele sobreviveu ao impossível, mas até hoje eu não tinha a menor ideia de quanta vezes escapou por pouco. Estou feliz por você continuar aqui, Matty. Parabéns. Eu te amo”, concluiu Lisa Kudrow.
Vício e infelicidade
“Eu tinha todas as coisas exteriores possíveis. Julia Roberts é minha namorada. Não importa, você precisa beber. Acabei de comprar minha casa dos sonhos. Impossível ficar feliz com isso sem um traficante. Ganho um milhão de dólares por semana - venci na vida, certo? Quer uma bebida? Ah, lógico. Muitíssimo obrigado”.
“Eu tinha tudo. Mas esse tudo era uma ilusão. Nada resolveria aquilo. (...) Sou um dos homens mais sortudos do planeta. E, nossa, como eu me diverti. Só que nada disso era a resposta”.
Papel em Friends
Perry estava escalado para outra sitcom (comédia de TV) quando as escalações para “Friends”, então chamada “Friends Like Us”, começaram. O papel de Chandler era cobiçado por muitos atores, mas ele sentia que o pertencia.
“Quando li o roteiro, parecia que alguém tinha passado um ano me seguindo, roubando as minhas piadas, imitando meus trejeitos, fazendo uma cópia da minha visão pessimista, porém irônica, da vida. Um personagem específico me chamava a atenção: não era que eu achasse que era capaz de interpretar Chandler; eu era o Chandler”, relembrou o ator.
“Li o papel de Chandler para ela e quebrei todas as regras - para começo de conversa, não segurei o roteiro. É que eu já tinha decorado tudo. E logicamente fui bem (...). Arranquei risadas em momentos em que ninguém mais tinha arrancado. Era como se eu estivesse naqueles momentos em que fazia a minha mãe rir. E Chandler nasceu”.
Auge da carreira e fundo do poço
No livro, Perry disse que a nona temporada da série foi a única temporada de Friends em que ele estava totalmente sóbrio. Também foi a única que o rendeu indicação ao Emmy. Segundo o ator, ele achava que conseguia manter seu vício em segredo até que, um dia, Aniston disse que elenco e equipe percebiam o cheiro de álcool nele. Então, ele começou a morar em um centro de reabilitação.
“Me casei com Monica e fui levado de volta ao centro de tratamento - no auge do meu ponto mais alto em Friends, o ponto mais alto da minha carreira, o momento icônico da série icônica - em uma caminhonete dirigida por um técnico sóbrio”.
Coma e sobriedade
Matthew Perry contou no livro que, em 2019, teve uma experiência de quase morte depois de um rompimento do cólon, por uso excessivo de opióides. Segundo os médicos, ele tinha 2% de chance de sobreviver. Depois de um coma de duas semanas e uma hospitalização de cinco meses, o terapeuta o aconselhou a associar as drogas à possibilidade de ter que usar uma bolsa de colostomia para o resto da vida. “Desde então, não tenho mais interesse em consumir drogas”, escreveu.
Ao longo da obra, Matthew ressalta que, apesar do vício em aplacar a “Dor” que sentia - descrita assim, com a inicial em maiúscula -, ele diz que sempre quis continuar vivo. “Eu me rendi, mas ao lado vencedor, não ao perdedor. Não estou mais atolado em uma batalha impossível contra as drogas e o álcool. Não sinto mais necessidade de acender automaticamente um cigarro para acompanhar meu café da manhã".
“Eu nunca desisti, nunca levantei as mãos e disse: ‘Já chega, não aguento mais, você venceu”, escreve Perry. “E por causa disso, estou firme agora, pronto para o que vem a seguir”, destacava o artista.
Matthew Perry foi encontrado morto na casa em que morava, em Los Angeles, nos Estados Unidos, na noite de sábado (28). Segundo informações do TMZ, a principal suspeita é de que o ator tenha morrido por um afogamento acidental.
*Com informações de Estadão