Ouvindo...

Morte misteriosa contada em tweet viraliza e autor mineiro dobra a meta de pré-venda de livro

Rafael Sete Câmara publicou um teaser da história no X (antigo Twitter) e teve 1,4 milhão de visualizações; trama se passa em Belo Horizonte

Morte misteriosa da mãe conduz livro de estreia de Rafael Sete Câmara

Pouco mais de 200 caracteres foram o suficiente para fisgar mais de 1,4 milhão de “tuiteiros”. O belo-horizontino Rafael Sette Câmara publicou, na tarde do último dia 26, um tweet dando um “spoiler” do livro que vai lançar:

“Minha mãe fazia o almoço quando o telefone tocou. Ela atendeu, deixou as panelas no fogo e saiu de casa. Nunca mais voltou. O corpo dela foi encontrado em outra cidade, 36 horas depois. Isso tem 13 anos.”

A conta de Rafael tem 700 seguidores, então a expectativa era atingir conhecidos e vender cinco ou seis livros. Mas a história engajou, chegou a milhões de pessoas e decolou também os números da pré-venda. Foram quase 200 livros a mais só no dia da publicação. “Eu nunca, em nenhuma hipótese, ia conseguir imaginar nada perto do que aconteceu”, diz o escritor.

O livro “Dos que vão morrer, aos mortos” será publicado pela editora Urutau e está em campanha de pré-venda ( https://benfeitoria.com/projeto/aosmortos ). É uma tradição da editora, que já cria interesse pela história enquanto o livro vai sendo finalizado. A meta era vender 200 livros, o que já era extraordinário. Depois do tuíte que viralizou, já são mais de 330 pessoas apoiando e ainda falta uma semana para o fim da campanha (dia 13/10). “Quem sabe a gente alcança 400? Quanto mais gente conseguirmos, melhor, porque a gente garante uma tiragem maior e a história circula mais”, explica Rafael.

A história

O livro, que se passa em Belo Horizonte, é baseado na história do próprio autor, que perdeu a mãe ainda jovem por motivos misteriosos.

“A morte da minha mãe sempre foi uma coisa muito difícil de compreender. Assim como no tweet, ela estava em casa, recebeu um telefonema e atendeu. Pode ter sido qualquer coisa, pode ter sido só telemarketing, pode ter sido alguém ligando para ela. Ela atendeu, saiu de casa logo depois e foi encontrada morta no dia seguinte, em outra cidade. A gente nunca entendeu direito o que aconteceu com ela, e essa dúvida ficou muito forte em mim. Por que ela morreu? Como ela morreu? Foi suicídio? Foi assassinato? Foi acidente? Embora eu já tenha tido milhares de pensamentos ao longo desses 13 anos, é uma resposta que aprendi com o passar do tempo que eu nunca vou ter, que eu nunca vou saber”, explica o autor.

Foi durante a pandemia de coronavírus que Rafael decidiu escrever a história. O livro “Dos que vão morrer, aos mortos”, escrito por Rafael Sette Câmara, conta a história de um jovem jornalista que precisa interromper suas férias na África do Sul e voltar para Belo Horizonte para enterrar a mãe, que foi achada morta às margens do Anel Rodoviário, na região metropolitana da capital.

Apesar do forte componente biográfico, o livro é uma ficção. “Tudo o que está no livro é obviamente ficção. O personagem narrador se chama Rafael, a personagem mãe que morre no começo do livro se chama Laura. Eu me chamo Rafael e minha mãe se chamava Laura, mas o Rafael e a Laura do livro são personagens. Então é uma ficção, mas uma ficção que parte da realidade e é parte de um luto real que eu de fato senti”, explica.

Belo Horizonte

Outra personagem importante é Belo Horizonte. A cidade está estampada no título da obra, a tradução da frase em latim que adorna o pórtico do Cemitério do Bonfim – mais antigo, inclusive, que a própria cidade.

“Desde a primeira vez que entrei no Cemitério do Bonfim, 20 anos atrás, na morte da minha bisavó, aquilo me impactou muito. A Serra do Curral atrás, aqueles crucifixos um atrás do outro, um atrás do outro, até que de repente vem a cidade. Aquilo foi uma imagem muito impactante de morte para mim”, conta Rafael.

Além do Bonfim, do Anel Rodoviário e da Serra do Curral há outras ruas, praças e avenidas. A capital mineira é uma personagem pois, para Rafael, “cada pessoa que mora em Belo Horizonte é uma parte pequenininha de Belo Horizonte, mas Belo Horizonte é uma parte gigantesca de seus habitantes. Molda forma como eu falo, o que eu como, os meus hábitos, o time de futebol que eu torço”, conclui.

Luto

Mas por que o tweet viralizou? Para além da trama, Rafael acredita que o tema pegou muita gente.

“Eu acho que as pessoas abraçaram lá o fio no Twitter porque eu falei sobre dores, sobre luto, sobre não saber o que aconteceu com alguém e é uma história que todo mundo vive. Todo mundo vive o luto e a gente fala muito pouco sobre isso. Não se discute a dor de quem ficou. Um dia a pessoa tá aqui, no dia seguinte não tá mais e a vida tem que continuar e a gente vai continuando porque essa é a única coisa que a gente pode fazer. Por trazer isso que a discussão funciona tão bem lá no Twitter, começou a acontecer de muita gente me mandando as suas histórias de luto”, explica.

Em dezembro, a história completa vai ser conhecida. Para garantir seu exemplar, é só acessar o site ( https://benfeitoria.com/projeto/aosmortos ).

Coordenadora de jornalismo digital na Itatiaia. Jornalista formada pela UFMG, com mestrado profissional em comunicação digital e estratégias de comunicação na Sorbonne, em Paris. Anteriormente foi Chefe de Reportagem na Globo em Minas e produtora dos jornais exibidos em rede nacional.