A atriz Alice Carvalho, de 27 anos, é quem interpreta a potente Dinorah em “Novo Cangaço”, série brasileira que tem feito sucesso em ao menos 49 países e está disponível no Amazon Prime. Ela é uma das personagens que mais chama atenção, especialmente, pela força, propriamente dita, dificilmente trabalhada em mulheres em produções audiovisuais e por ser a única pessoa do sexo feminino no bando. Para conseguir dar vida à ela, Alice precisou praticar esportes, incluindo crossfit e hipismo, e mudar a alimentação. Ela se entregou literalmente de corpo e alma ao papel.
Em bate-papo com a Itatiaia, Alice conta que tem “avaliado a presença de Dinorah muito a partir dos encontros com as pessoas na rua”. Ela, que nasceu em Natal, no Rio Grande Norte, está em São Paulo a trabalho. Segundo a atriz, é impossível sair na rua sem ser abordada, e os comentários sempre são muito parecidos: “Pô, muito interessante uma mulher no meio daquele bando de homem colocando pressão, colocando moral e sendo respeitada por todos”, compartilha.
“Vejo que a Dinorah para, além do discurso que ela já traz enquanto personagem, ela traz muita força de representatividade dentro dessa série, que é predominantemente protagonizada por personagens masculinos. Ela vem quebrando estereótipos e paradigmas demonstrando novas possibilidades tanto para atrizes, como eu, quanto para personagens que podem ter mulheres inseridas em diferentes contextos”, reflete.
Na série uma personagem é vítima de abuso sexual e apenas Dinorah se manifesta. Questionada se acredita que mulheres devem ser inseridas em todos os contextos para identificar situações de assédio ou abuso, ela opina: “Eu acho que sim, mas ao mesmo tempo eu não sou tão romântica quanto a ingenuidade de certos homens. Eu acho que muitos deles entendem, compreendem perfeitamente certos tipos de violência que acontecem em certos nichos, em certos lugares”.
Para ela, a união masculina acaba fazendo com que eles se protejam e se ajudem.”Eu acho que a presença de uma mulher em ambientes onde ocorrem certos tipos de opressão, violência, profissional ou na vida mesmo - de uma maneira bem otimista - termina causando constrangimento quanto a não ação diante de uma situação de assédio, violência ou de machismo mesmo enraizado, que talvez os caras não percebam, mas no entorno tá todo mundo vendo”, comenta.
Treinamento pesado
Alice Carvalho precisou mudar completamente a rotina para viver Dinorah em “Cangaço Novo”. “Fui fazer crossfit, hipismo, levantamento de peso, fiz muay thai, jiu jitsu… Passei seis meses treinando todo santo dia entre duas a três vezes por dia. Eu acordava cedo, 5 horas da manhã pra treinar, comia feijão com arroz, whey protein [risos]... Pra ganhar condicionamento físico e também para chegar perto esteticamente do que eles pensavam para essa heroína, mais forte, né?”.
E, não para por aí. Alice fez aulas de direção de moto, carro e de tiro. “Não usamos nada verdadeiro [armas e balas], mas treinamos para entender como funcionava. Foi uma jornada muito interessante”.
Sucesso mundial
“Eu acho que estar em qualquer lugar do mundo, principalmente Brasil, é muito simbólico e significativo. Acho que é muito importante ver essa identificação, cultura diferente, mas mostra que o tribal ele é universal. Falar da sua aldeia é também falar do mundo como um todo. ‘Regionalismo’ tem uma capacidade de gerar uma identificação universal, por ser tão humana, por se tratar de questionamentos que são tão inerentes à nossa natureza humana. Então para mim é muito gratificante saber que a gente tem entrado unido e representado a vida”.
