Ele que sempre cantou a saudade deixou o Brasil cheio de saudade há uma década. Já são dez anos sem Dominguinhos, o sanfoneiro que conquistou o país com o domínio do instrumento que ele escolheu para levar alegria e emoção ao povo, e também com melodias cheias de sensibilidade que falavam ao coração ora com dolência e sensualidade, outrora com o agito típico dos xotes e xaxados da região Nordeste.
Nascido em Garanhuns, no agreste de Pernambuco, o músico cresceu em uma família musical, com dezessete irmãos, em que, para além da pobreza, havia a comunhão através da música. Desde cedo, Dominguinhos demonstrou seu prodígio na sanfona, seguindo os passos do pai, conhecido na vizinhança como Mestre Chicão.
Com seus irmãos Moraes e Valdomiro, Dominguinhos formou o conjunto Os Três Pinguins, no qual também se aventurava no triângulo e no pandeiro. A vida do menino pobre de Garanhuns mudou quando ele conheceu Luiz Gonzaga, hospedado em um hotel da cidade para apresentações. O Rei do Baião foi quem incentivou Dominguinhos, na época ainda conhecido como “Neném do Acordeom”, a migrar para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades para sua música.
No início da década de 1950, Dominguinhos, já rebatizado com o nome que o consagraria, chegou à Cidade Maravilhosa e passou a acompanhar Gonzagão em diversas apresentações país afora. Com o passar dos anos, se tornaria célebre e até folclórico o medo de Dominguinhos de pegar avião. Ele fazia questão de cruzar o país, do Oiapoque ao Chuí, sempre de carro.
Foi somente em 1964, depois de muita labuta, que Dominguinhos inscreveu seu nome na capa de um disco. “Fim de Festa” marcou a estreia do músico que, para além de sua carreira solo, jamais deixou de acompanhar medalhões como Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Maria Bethânia, Roberto Carlos, Chico Buarque e Elba Ramalho.
Em 1973, com a esposa Anastácia, Dominguinhos compôs um dos maiores sucessos da sua carreira. “Eu Só Quero Um Xodó” recebeu gravações de Gilberto Gil, Marinês, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, e muitos outros, contabilizando mais de 100 regravações, se tornando um hino da carência amorosa e do romantismo.
Já em 1985, por sugestão de Elba, Dominguinhos diminuiu o andamento da romântica “De Volta Pro Aconchego”, feita com Nando Cordel, que se transformou em mais um sucesso atemporal para embalar os casais apaixonados. No mesmo ano, gravou com Chico Buarque a eletrizante “Isso Aqui Tá Bom Demais”, obrigatória em qualquer forró de pé de serra nos rincões e nas capitais do Brasil.
No repertório de Dominguinhos, ainda há preciosidades como “Gostoso Demais”, eternizada no canto de Maria Bethânia, e “Lamento Sertanejo”, expressões da mais pura brasilidade e de um povo acostumado a enfrentar as mazelas do dia a dia com a alma cheia de esperança.