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No ‘Encontro’, advogada de vítimas que denunciam Prior diz que ex-BBB já era ‘famoso por comportamento predatório contra mulheres’

Advogada explica que as vítimas não se conheciam e que uma delas só foi encorajada ao ver as primeiras denúncias

Maira Pinheiro faz parte da equipe que defende vítimas que denunciam Prior de estupro

“Antes de ele ser famoso no BBB, ele era famoso nos meios que circulava por ter comportamento predatório contra as mulheres”. A afirmação é da advogada criminalista Maira Pinheiro - que defende quatro mulheres no caso Felipe Prior - durante o “ Encontro com Patrícia Poeta” nesta quarta-feira (19). O ex-BBB já foi condenado há seis anos de prisão pelo estupro cometido contra uma das vítimas, porém a expectativa é de que ele também responda pelos outros três casos.

Com a exposição do caso, Maira Pinheiro tem recebido várias ameaças nas redes sociais, incluindo de morte. “Esses xingamentos atacam minha moral, sendo que tô no exercício da minha profissão. Desde que a gente repercutiu o relato das meninas, que era uma demanda delas de que essa história fosse contada, os ataques se tornaram muito frequentes em abril de 2020”.

“Depois passou a acontecer de forma orquestrada… Por um lado, a gente não quer ler, mas sou advogada, eu documento as coisas, as provas de violação de direito. Então eu tenho uma pasta na nuvem com centenas de coisas deste tipo para, talvez, adotar medidas jurídicas cabíveis. Não consegui muita coisa até então porque sou mãe, advogada autônoma e minha vida é muito corrida defendendo essas mulheres”, completou.

Ela conta que tem recebido muitas mensagens parecidas em que os ameaçadores dizem que ela é “oportunista”, porque Prior é “famoso”. “Famoso pelo quê? O que essa pessoa fez de relevante para justificar a teoria da conspiração de que quatro mulheres, que não se conhecem, se juntariam para prejudicar ele. Por qual objetivo?”, indaga.

Inicialmente, a advogada e sua equipe receberam o relato de três mulheres em abril de 2020, pouco depois, após as notícias veiculadas, uma quarta pessoa também contou ter sido vítima de Prior. “São quatro processos em andamento e, ao longo desses três anos, as pessoas achavam que ele tinha sido inocentado”, relembra.

Ameaça por telefone

Em uma madrugada, a advogada recorda que chegou a ser coagida por uma pessoa desconhecida no telefone. “Tem um inquérito policial em tramitação na capital de São Paulo apurando ameaças que recebi na madrugada de julho de 2021. Meu telefone tocou, eu sou advogada criminal, telefone toca de madrugada, eu atendi, era um número oculto. Aí a pessoa falou que era pra eu sair do caso, citou o nome e sobrenome da vítima, que era uma informação que é sigilosa, que não é de domínio público, a gente usa pseudônimos, e aí proferiu ameaças contra mim. Falou que sabia onde eu morava, que sabia onde as meninas moravam e que ia acabar com minha vida, da minha cliente e com a vida da minha filha que tinha à época 7 anos”, detalha.

Após o ocorrido, ela registrou boletim de ocorrência. “Acho que a delegacia classificou incorretamente o crime, porque é um inquérito de ameaça, mas entendo que o crime é de coação porque a finalidade da ameaça era interferir no meu trabalho enquanto advogada”, explica. Conforme Maíra, além dela, outra advogada do sexo feminino também tem recebido ameaças. Por outro lado, outros quatro advogados homens que atuam no caso não receberam nenhum ataque. “As pessoas podem responder tanto criminalmente, pelos crimes contra a honra, injúria, difamação, como também no cível, por perdas e danos”, esclarece.

Maíra conta que recebe várias mensagens de mulheres pedindo ajuda. “Esse é um dos vários casos deste tipo que eu atuo, recebo ligações, pedidos de ajuda para tratar de situações desta natureza todos os dias. Quando eu fui explicar para a minha filha porque eu estava dando entrevista eu falei: ‘a mamãe trabalha com tragédias’. E eu busco desde já a explicar para ela sobre a importância do consentimento, que ninguém pode tocar nela sem permissão e aproveito essas histórias que eu conto - até certo ponto - para falar como a nossa sociedade funciona”, afirma.

A advogada finaliza:

Entendo que os atributos que fizeram com que esse cara fosse cultuado e tivesse 6 milhões de seguidores são os mesmos que fazem dele um estuprador em série. Não é nem um pouco surpreendente que aquele cara que tinha certos comportamentos no programa, tenha cometido esses crimes no passado

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.