Seja pelo título de festa junina ou festa de São João, os arraiais e quadrilhas já batem na porta. Com eles, também chegam as comidas típicas do período, dono de um cardápio brasileiríssimo.
Os quitutes e quitandas variam de região para região, mas o que não muda é a tradição de passar a festança de barriga cheia
Qual a origem da festa junina? Como surgiu a tradição no Brasil?
O folclorista Carlos Felipe Horta, explica que as festas juninas são milenares e aparecem desde tempos muito antigos.
“Os festejos foram iniciados durante o verão do hemisfério norte, e a origem é traçada para uma forma de agradecimento aos deuses pelo bom tempo e pelas boas colheitas”, detalha.
Com os anos, a tradição pagã foi transformada em festa católica.
A tradição da festa junina foi trazida para o Brasil pelos portugueses entre os séculos XVI e XVII, durante a colonização.
Desde a origem, a festa carrega um forte tom religioso, homenageando três santos celebrados durante o mês de junho: Santo Antônio, São Pedro e São João.
O próprio nome da festa, que referencia o mês, teria vindo originalmente de festa joanina, em menção a São João.
No Brasil, a festa se tornou multicultural. Costumes indígenas, afro-brasileiros e de países com fronteiras próximas às nossas foram agregados à festa.
“A tradição tomou conta da gente. As festas juninas têm muito a ver com a cultura popular brasileira. Tem a fogueira, tem as comidas típicas, as decorações. Sempre misturando vários elementos que fazem parte da nossa cultura”, completa o Horta.
Delícias de São João: quais as principais comidas que não podem faltar na festa junina?
Para criar as delícias típicas da festa de São João, alguns ingredientes são essenciais. Entre grãos, plantas, oleaginosas e frutas, eles protagonizam ou dão destaque para o sabor das tradicionais receitas de festa junina.
Mandioca
Conhecida também como macaxeira, aipim, uapi e castelinha pelas cinco regiões do Brasil, a planta pode ser aproveitada de várias maneiras.
Presença constante nos pratos do dia a dia dos brasileiros, o alimento aparece nos festejos juninos no formato de bolo, tapioca e no tradicional caldo de mandioca.
Amendoim
Outro item bem versátil com presença confirmada nas festanças de São João é o amendoim. A oleaginosa pode ser consumida sozinha, pura, torrada, doce ou salgada, mas também compõe pratos importantes.
Entre as receitas juninas, ela é protagonista do pé de moleque, da paçoca e pode até ser transformada em bolo.
Coco
Uma das frutas mais populares do Brasil, o coco combina com preparos doces e salgados. Entre casca, polpa e água, todas as partes do fruto podem ser aproveitadas de alguma forma.
Para quitutes juninos, o coco ralado e o leite de coco são indispensáveis para receitas como cocada e versões de arroz-doce e canjica.
Milho
Um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo, o milho é outro sinônimo de versatilidade. A colheita do grão acontece entre junho e agosto, bem na época das festas juninas, o que dá ainda mais destaque para o cereal.
Coringa, ele pode ser consumido puro, na versão salgada, e também se transforma em mingau, bolo, pamonha, canjica e, claro, pipoca!
Festa junina na região Nordeste
No Nordeste, os principais eventos de festa junina acontecem em junho, entre os dias de Santo Antônio (13), São Pedro (29) e São João (24), o principal padroeiro do festejo.
As celebrações, mais conhecidas pelo nome “festa de São João”, destacam os forrós, quadrilhas e o bumba meu boi.
A festa mais tradicional da região é realizada em Campina Grande, na Paraíba, cidade responsável pelo maior São João do Brasil.
As celebrações incluem comidas típicas da região Norte, como o baião de dois, cuscuz e caruru, que se tornaram representantes do período junino.
Baião de Dois, prato típico do Ceará, combina arroz, feijão-fradinho, carne-seca, queijo-coalho e manteiga de garrafa;
Cuscuz, o prato nordestino, é usualmente preparado com farinha de milho flocão, ou farinha de milho para cuscuz nordestino misturada com água morna;
Mungunzá é outro nome dado para a tradicional canjica, doce feito com grãos de milho-branco ou amarelo, cozidos no leite;
Pé-de-moleque, doce feito com a mistura de amendoim torrado com rapadura;
Aluá, bebida feita a partir da fermentação de grãos de milho moídos;
Caruru, prato típico da Bahia, preparado com quiabo, amendoim, azeite de dendê, camarão seco, castanha de caju, gengibre e outros temperos.
Festa junina na região Norte
A região Norte é tradicionalmente conhecida pela festa do Boi-Bumbá, que encena a narrativa conhecida como auto do boi. Realizada anualmente em junho, no Festival Folclórico de Parintins, que acontece no interior do Amazonas, a festividade é Patrimônio Cultural do Brasil.
A apresentação da disputa entre os bois Garantido e Caprichoso é bem ornamentada, incluindo as tradicionais bandeirinhas e balões juninos.
Os pratos típicos dos festejos de São João, como a festa também é conhecida por lá, incluem preparos tradicionais do Norte, como maniçoba e tacacá com tucupi. Confira outras comidas típicas juninas da região Norte:
Maniçoba, prato de origem indígena, típico da culinária do Pará e Amapá, feito com maniva, a folha da mandioca moída;
Vatapá, prato típico da culinária afro-brasileira, preparado com pão molhado ou farinha de rosca, fubá, leite desnatado, azeite de oliva e outros temperos;
Tacacá com tucupi, de origem indígena, é um caldo amarelado à base de mandioca, preparado com goma, camarão e jambu é servido bem quente em cuias;
Bolo de macaxeira, conhecido no sudeste como bolo de mandioca;
Mingau de milho, alimento de consistência cremosa feito com milho e leite;
Tapioca, parte da mandioca, usualmente preparada em forma granulada.
Festa junina na região Sul
No Sul do Brasil, a festa também inclui vestimentas e danças típicas originadas dos costumes europeus, como é o caso da tradicional Dança das Fitas. Por falar em dança, as folias juninas são embaladas por músicas como o vaneirão, o chamamé e o xote gaúcho.
O período dos festejos juninos é garantia de temperaturas baixas na região. O tempo é ideal para consumo de alimentos assados na brasa, como pinhão e os tipos de churrascos, além de valorizar o tradicional chimarrão, bebida quente feita com mate. Confira outras comidas típicas juninas da região Sul:
Pinhão, é a semente da Araucária e a parte comestível da pinha;
Quentão de vinho com especiarias, também conhecido como vinho quente;
Churrasco gaúcho, tradicionalmente feito com carne bovina em espetos de madeira cravados na terra;
Arroz carreteiro, preparo feito à base de arroz e charque, criado por carreteiros que precisavam preparar refeições;
Paçoca, doce feito de amendoim moído, açúcar e sal;
Maçã do amor, doce feito de maçãs inteiras espetadas em palitos e mergulhadas em calda de açúcar com corante vermelho ou chocolate;
Churrasco, carnes assadas no fogo ou na brasa em preparo tradicional da região dos Pampas, que inclui o Rio Grande do Sul e outros países da América do Sul;
Salsichão, de origem alemã, mistura de carnes frescas ou defumadas, moídas e temperadas.
Festa junina na região Centro-oeste
No Centro-Oeste, os festejos juninos recebem forte influência de países que fazem fronteira com o Brasil, principalmente o Paraguai. Entre os costumes agregados, temos o Cururu, que funciona como um desafio de rimas entre violeiros.
A influência paraguaia também vem no formato de danças típicas, caso da polca paraguaia, e nos pratos servidos na celebração, como a sopa paraguaia. Apesar do nome, a iguaria é um tipo de bolo salgado feito com farinha de milho e queijo. Confira outras comidas típicas juninas da região Centro-Oeste:
Pamonha doce ou salgada, de origem indígena, o quitute é feito com milho-verde triturado e cozido enrolado na palha do próprio milho;
Broa de fubá, bolo doce feito com fubá, farinha de trigo, açúcar, ovos, margarina e fermento;
Sopa Paraguaia, bolo de milho salgado muito consumido no Paraguai, Mato Grosso do Sul e no nordeste argentino;
Empadão goiano, torta salgada que pode ser feita com vários recheios;
Arroz-doce, arroz adoçado, cozido em leite e temperado com especiarias;
Bolo de amendoim, bolo doce de amendoim.
Festa junina na região Sudeste
Atendendo pelos nomes de quermesses e arraiais, as festas juninas da região Sudeste trazem fortes características da vida interiorana de São Paulo e Minas Gerais, agregando também costumes de imigrantes. Os trajes “caipiras”, com roupas de chita e tecido xadrez, são a cara das quadrilhas da região.
As festas são caracterizadas por barraquinhas, com brincadeiras como pescaria e boca do palhaço, além das de comidas típicas, que trazem os caldos e o quentão, mas também dão espaços a pratos mais modernos, como o cachorro quente. Confira outras comidas típicas juninas da região Sudeste:
Cachorro-quente, pão recheado com salsicha cozida com molho de tomate, tradicionalmente pode acompanhar milho e batata palha;
Milho assado na brasa, temperado com sal e manteiga. Também pode ser cozido, em outra forma de preparo mais simples;
Quentão, bebida alcoólica preparada com cachaça e temperada com especiarias;
Bolinho caipira, de origem paulista, salgado frito e recheado com carne, calabresa, linguiça ou frango;
Pastel, massa de farinha recheada com combinações, doces ou salgadas, e frita;
Caldos, preparos salgados que podem ser feitos com feijão, mandioca, abóbora, ou, na versão do caldo verde, com couve;
Pipoca, grãos de milho estourados que podem ser preparados doces ou salgados;
Batata-doce pode ser transformada em aperitivo ou doce para as festividades juninas;
Curau, também conhecido como mingau de milho ou canjica, doce cremoso feito com milho-verde cozido com leite e açúcar, temperado com canela e especiarias;
Pão de queijo, tradicionalmente mineira, a iguaria é feita com polvilho e queijo.
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