Um banquinho, um violão e a voz de Nara Leão. Há 60 anos, em 1963, a musa da Bossa Nova estreava nos palcos para se tornar uma estrela em todo o Brasil. Nascida em Vitória, no Espírito Santo, Nara podia dizer que jamais pôs os pés em sua cidade natal.
Com menos de um ano de idade, ainda um bebê de colo, ela se mudou com a família para o Rio de Janeiro, cidade que cantaria com a dolência e suavidade de praias ensolaradas e tardes repletas de maresia, onde o amor era uma promessa viável.
Já morando em Copacabana, Nara estreou profissionalmente no teatro, ao interpretar a protagonista do musical “Pobre Menina Rica”, ao lado de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra.
Na ocasião, Nara já animava sessões musicais privadas no apartamento de seus pais, na Zona Sul carioca em que teria florescido a bossa nova de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto e seus pares. Nara seria a principal voz feminina do movimento, e não hesitaria em empunhar o próprio violão.
Apesar da voz diminuta, se fazia ouvir e impunha sua vontade na seleção do repertório, consagrando verdadeiros clássicos como “Corcovado”, “Chega de Saudade”, “Samba de Uma Nota Só”, “Garota de Ipanema”, dentre outros.
Em 1964, ela abraçaria a canção de protesto ao participar do espetáculo “Opinião”, ao lado de Zé Kéti e João do Vale. Sempre inquieta, Nara fazia questão de se posicionar contra a ditadura, sendo perseguida pelos militares, o que levou Carlos Drummond de Andrade a publicar um poema intitulado “Não Prendam Nara Leão”.
Em 1968, ela dobrou a aposta na rebeldia ao se irmanar com a Tropicália, e cantar uma música de Gilberto Gil e Caetano Veloso no histórico disco que lançou, oficialmente, o movimento. Nara gostava de novidades e tinha como principal farol de sua conduta artística a liberdade. Quando a crítica torcia o nariz para o sucesso popular de Roberto e Erasmo Carlos, ela foi a primeira a gravar um disco só com canções da dupla.
Seu pioneirismo também alcançou o universo infantil, os álbuns em dueto, com “Os Meus Amigos São Um Barato”, e a emergente canção nordestina, visualizada no disco “Romance Popular”, em que Nara cantava Fagner, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo e Moraes Moreira, sendo a primeira a gravar “Bloco do Prazer”, futuro hit de Gal Costa.
O romantismo também foi presença forte na trajetória da cantora, em versões antológicas para músicas de Chico Buarque, como “Com Açúcar, Com Afeto”, “João e Maria”, “Dueto” e “A Banda”, que levou Nara a vencer um festival de música em 1966.
Antenada, Nara foi sinônimo de modernidade desde o seu surgimento, com a bossa nova, e assim permanece, com a voz doce e precisa de quem sabe colocar no lugar exato as palavras. Em 1989, ela morreu aos 47 anos, vítima de um tumor no cérebro, mas sua voz ao pé do ouvido continua a aquecer corações.