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Filarmônica mescla erudito e popular em concerto gratuito no Dia das Mães

Apresentação acontece na praça em frente à Sala Minas Gerais, e traz no programa peças de Chiquinha Gonzaga e Tchaikovsky

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais se apresenta em praça aberta ao público com repertório que mescla erudito e popular

“A mais vulgar e grosseira de nossas manifestações musicais” será exibida pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais neste domingo (14), em concerto especial para o Dia das Mães. Foi com essas palavras pouco elogiosas que o então senador Rui Barbosa, um dos mais prolíficos intelectuais brasileiros, ocupou a tribuna do Senado, em 1914, sem poupar a composição de Chiquinha Gonzaga, um maxixe que, hoje, ganha a reverência da nata da música erudita, como comprova o programa da Filarmônica, que a coloca lado a lado do russo Tchaikovsky e do parisiense Bizet.

O motivo do escândalo, na época, foi o fato de a primeira-dama Nair de Teffé ter interpretado o maxixe em pleno Palácio do Catete, munida de seu violão, durante uma recepção oficial do governo. Publicada na revista Careta, uma charge jocosa saiu em defesa, à sua maneira, da composição que sofria o ataque da moral e dos bons costumes.

“Não há razão para censurar o Corta-jaca, minha senhora. O tango nasceu nos cabarets escusos, mas… chegou aos salões mais finos… Fez-se por si”, diz a legenda, enquanto a ilustração revela a tal senhora sorridente, abanando-se com um leque, enquanto troca olhares com um sujeito de bigodinho sorrateiro.

Apresentada pela primeira vez em 1895, a peça de Chiquinha Gonzaga ganhou inúmeras regravações, com as mais diversas abordagens, incluindo versões com letras de Tito Martins, Bandeira de Gouveia e Machado Careca.

Criado pelos escravos trazidos da África ao Brasil, o maxixe sofria forte preconceito nos salões nobres da época, justamente por sua origem, ao mesmo tempo em que sacudia o povo nas ruas. “Corta-jaca” recebeu várias definições de gênero, e teve até o seu nome alterado (inicialmente chamava-se “Gaúcho”), até ser consagrada como uma peça clássica do repertório nacional.

Ainda prestigiando compositores brasileiros, a Filarmônica leva ao público “Batuque”, de Lorenzo Fernandez, “Mourão”, de Guerra-Peixe, e “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, com orquestração de Nelson Ayres. Um banho de Brasil, em sua infinita pluralidade, conduzido pelo maestro José Soares, que elimina as barreiras ao unir os contrastes. Ainda no programa, estão “Carmen”, de Bizet, “A Bela Adormecida”, de Tchaikovsky, e “Cancã”, de Jacques Offenbach, dentre outras. E tudo na praça, de graça, indo aonde o povo está.

Serviço.

O quê. Série “Filarmônica na Praça” apresenta a OFMG em concerto especial do Dia das Mães

Quando. Neste domingo (14), a partir das 11h

Onde. Na Praça da Filarmônica, em frente à Sala Minas Gerais (rua Tenente Brito Melo, 1090 – Barro Preto)

Quanto. Gratuito