Há 40 anos, a ousadia de Fafá de Belém foi tanto estética quanto política. Na capa do LP lançado em 1983, ela aparece deitada de bruços, completamente nua, imersa nas águas de um rio, com olhar sensual e compenetrado, e um ramo de flores enfeitando os seus cabelos molhados.
Sem vergonha de exibir as suas formas voluptuosas, em especial o busto, Fafá conta que foi a mãe que a incentivou a não ter vergonha do próprio corpo e não se render ao perfil esguio que queriam impor a ela na época.
Como se não bastasse, esse disco histórico ainda trazia, logo de cara, a gravação daquele que se tornou o hino pelas Diretas Já. Composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, a música “Menestrel das Alagoas” homenageava o senador Teotônio Vilela, um dos maiores entusiastas na luta pela redemocratização do país. Entoando os versos de “Menestrel das Alagoas”, Fafá foi ovacionada pelos estudantes e caiu nos braços do povo.
Paraense de corpo e alma, Fafá nunca negou suas raízes, e sempre fez questão de manter essa influência no centro de sua música, tanto que, em 1996, arrebentou a boca do balão ao gravar uma canção do tradicional Festival Folclórico de Parintins, em Belém do Pará, que narra a disputa entre o Boi Garantido, representado pelo vermelho, e o Boi Caprichoso, representado pelo azul. “Vermelho”, de Chico da Silva, foi um dos maiores sucessos de toda a carreira de Fafá de Belém.
A cantora começou a carreira em 1976, com o lançamento do disco “Tamba-Tajá”, em que era forte a presença da cultura amazônica. Na sequência, ela gravou o disco “Água”, dando voz a canções de Fernando Brant, Milton Nascimento, Paulo André, Ruy Barata e Caetano Veloso, dentre outros.
“Banho de Cheiro”, de 1978, mudou para sempre a sua trajetória. Foi quando Fafá interpretou a canção “Dentro de Mim Mora Um Anjo”, de Sueli Costa com o poeta Cacaso, e que delineou o estilo ao mesmo tempo quente e sensual do canto de Fafá de Belém.
No auge de seus 66 anos, Fafá mantém intactas as características que a transformaram numa das mais celebradas cantoras da música brasileira. Com o carisma em dia e a excelente relação com o seu próprio corpo, Fafá de Belém segue agraciando os ouvintes com o calor de sua voz.
