Gal Costa foi uma intérprete fora de série que, ao cantar uma música, dava uma nova forma e força pra ela. Podemos ver isso claramente em dois exemplos, quando ela grava marchinhas de Carnaval que haviam feito muito sucesso nos anos 1930.
O primeiro é “Balancê”, música de Braguinha que Carmen Miranda gravou, em 1936. O outro é “Pegando Fogo”, de 1938, composta por José Maria de Abreu e Francisco Matoso, lançada pelo Bando da Lua. Essas duas composições receberam uma interpretação exuberante de Gal e ficaram, para sempre, associadas ao seu repertório. E são clássicos da MPB.
Revolução. Os méritos do histórico LP ao vivo intitulado “FA-TAL: GAL A TODO VAPOR”, devem ser divididos, primeiramente, com o compositor e poeta Wally Salomão, que dirigiu esse trabalho magnífico. Partiu dele a escolha cuidadosa do repertório e a descoberta, por exemplo, de “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, então um compositor desconhecido do Estácio que Gal foi a primeira a gravar.
Os sambas do disco seguem essa linha de redescoberta, porque tanto Ismael Silva quanto Geraldo Pereira, embora sambistas de primeira linha, nunca tiveram o reconhecimento merecido. Cabe dizer que Ismael e Geraldo são compositores de assinatura diferenciada e única na MPB.
Versátil. “Samba Rasgado” está presente em um disco em que Gal mostra toda a sua habilidade e versatilidade como intérprete, dando voz a choros de difícil complexidade como, por exemplo, “Noites Cariocas”, de Jacob do Bandolim. “Samba Rasgado”, de Portello Juno e Wilson Falcão, tem característica parecida. É uma música ágil, difícil para o intérprete respirar, em que Gal mostra, mais uma vez, a grandeza de sua intuição musical incomum...
Clássico. O grande diferencial da interpretação de Gal para “Desde Que o Samba é Samba” é o arranjo, que começa com uma pegada psicodélica e depois entra no chorinho mais tradicional, o que evidencia dois aspectos que sempre estiveram presentes na obra de Gal: a inovação e a reverência aos clássicos.
Por isso ela se transformou em uma das grandes cantoras da MPB. Além da voz brilhante como um cristal, Gal sempre soube escolher bem o seu repertório, mesclando novidades com clássicos esquecidos ou escondidos. Sem falar que essa música cheia de sensibilidade pertence a Caetano, um dos compositores que Gal mais gravou, e que mais escreveram para a voz de Gal...