Por trás de quase toda grande cantora pop, existe um grupo de bailarinos que garante um grande espetáculo para além da voz da artista. No Brasil, não é diferente.
Artistas como Anitta, Luísa Sonza e Ludmilla trabalham com um grupo de dançarinos que se empenha em construir um show que entregue performances, energia e carisma. E como é a rotina das dançarinas e dançarinos que integram o balé das maiores cantoras do nosso País?
O Estadão conversou com três mulheres que se destacam nessa função. Elas narram suas trajetórias desde o início da vida profissional até a rotina corrida de ensaios, apresentações e viagens que vivem hoje.
Amanda Araújo (Luísa Sonza)
Amanda Araújo se apaixonou pela dança quando ainda era uma criança de cerca de 8 anos. Cresceu no teatro e fazendo cursos de diferentes ritmos, mas decidiu que levaria a profissão a sério quando completou 18 anos.
Ela conheceu Luísa Sonza quando participou das gravações para o clipe da música Devagarinho, de 2018. No mesmo ano, foi convidada por Flávio Verne, atual coreógrafo da cantora, para integrar o balé e atuar como assistente coreográfica.
“Não é simples, principalmente aqui no Brasil, onde a arte é pouco valorizada”, diz Amanda sobre a dificuldade de alcançar esse patamar no país. “Foram muitos anos de estudo, aprimorando minha técnica com diversos professores a quem sou grata por me ajudarem também a chegar aonde cheguei. Acredito que a persistência é tão importante ou até mais que o talento.”
“Maluca” é a palavra que ela usa para descrever a rotina da equipe de dançarinos. “Principalmente quando a Luísa está com novas turnês e shows especiais, como este último do Rock In Rio”, destaca. A apresentação da artista ocorreu no primeiro fim de semana do festival, em setembro.
Amanda conta que, em eventos como esse, a equipe passa por ensaios diários de pelo menos quatro horas durante alguns meses para que tudo fique como planejado. “A equipe é super perfeccionista e especialmente a Luísa, que é muito exigente com o trabalho que ela quer entregar.”
Hoje com mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram, o trabalho de Amanda se ampliou do palco para as redes sociais como influenciadora digital. Boa parte desse público, contudo, chegou recentemente.
Em julho de 2022, um vídeo da bailarina em um solo de dança em um show de Luísa Sonza viralizou no TikTok. Em semanas, diversos registros de outras apresentações começaram a circular. Com isso, Amanda ganhou uma projeção que nunca havia conquistado antes.
“Como influencer, eu sempre espero que viralize, mas nunca imaginei que seria tão grande”, diz. “Foi um dos marcos da minha carreira: eu fiquei extremamente feliz com toda repercussão e estou até hoje. Esse trabalho alcançou pessoas de todas as idades e perfis, todo mundo queria dançar.”
Brunna Gonçalves (Ludmilla)
Disciplina, foco e determinação. Para Brunna Gonçalves, esses são os três pilares para quem deseja buscar uma carreira como dançarina e alcançar algo próximo ao que ela conquistou como bailarina da cantora Ludmilla.
Em meio à participação no Big Brother Brasil e o crescimento nas redes sociais, Brunna se tornou influenciadora digital, mas passou por uma cansativa rotina de ensaios e shows até que decidisse deixar de fazer parte do balé da cantora.
“Amo a dança, ela faz parte da minha vida e história. No colégio e em casa mesmo, quando tinha festa ou apresentações estava lá fazendo todas as coreografias possíveis. No início, não tive apoio dos meus pais, mas com o passar do tempo eles me apoiaram e tudo fluiu”, diz.
A profissionalização veio depois que ela passou uma temporada nos EUA, no elenco de um circo. Quando voltou ao Brasil, em 2014, participou de algumas seleções, incluindo a que a levou ao balé de Ludmilla. “E não passei de primeira, no segundo teste fui chamada para seguir no balé", lembra.
De acordo com Brunna, a rotina de ensaios e shows era muito intensa. “Principalmente quando tinha algo novo nos shows, até porque passávamos o que já fazíamos nas apresentações e adaptávamos o novo. Fora quando não tínhamos alguma gravação de clipe e de programas durante a semana”, explica.
Agora, a bailarina busca consolidar sua própria plataforma, mas continua compartilhando conteúdos de dança nas redes sociais. “Não parei — nem pretendo —, só estou empenhada agora nesses novos projetos para o digital e a televisão, que em breve vou poder dar mais detalhes”, afirma.
Ohana Lefundes (Anitta)
Ohana Lefundes começou sua trajetória de forma diferente. Ela ingressou no balé aos sete anos, mas tinha o sonho de se profissionalizar como dançarina de teatro musical.
“Nessa pesquisa de ‘o que posso fazer para agregar mais ao meu trabalho? Qual outro estilo posso fazer?’, conheci as danças urbanas. Fiz uma aula de hip-hop, me apaixonei, e depois fiz uma aula de heels, que é com salto [alto]. Aí, eu me achei”, lembra.
Foi em meio a essa procura que Ohana cruzou com o caminho do balé de Anitta, do qual faz parte desde 2016. Depois de receber o conselho de um professor, ela foi parar em uma aula de Arielle Macedo, a coreógrafa da cantora.
“Assim que acabou a aula da Arielle nesse dia, ela pediu meu Facebook e pegou meu contato. Algum tempo depois, ela me mandou uma mensagem perguntando se eu aceitaria participar do Prêmio Multishow 2016", conta a dançarina.
O resto é história. Depois do sucesso da apresentação, Ohana foi convidada a integrar o “balé da estrada”, como é chamado o grupo de dançarinos fixos da artista. Ohana entende que teve muitos privilégios para conquistar sua vaga no balé de Anitta, mas que, “assim como qualquer outra profissão”, a dança exige dedicação e entrega.
“Ainda mais em um país em que nem sempre a arte e os bailarinos são valorizados, é [preciso] muito estudo e muita perseverança, mas não é impossível”, aponta. Sobre a rotina, ela explica que, quando não está em shows ou ensaios, também precisa cuidar do corpo, que é “um instrumento de trabalho”, e criar conteúdos para as mídias digitais.
“A parte mais cansativa para mim são as viagens. A gente normalmente sai daqui [do Rio de Janeiro] de madrugada ou muito cedo da manhã, chega ao lugar à tarde e almoça. Eu costumo descansar antes do show, porque depois nós raramente temos tempo de dormir no hotel”, conta.
Para ela, trabalhar com uma artista como Anitta traz responsabilidade. “Se a gente trabalha com uma das melhores artistas do Brasil, precisa estar sempre se reinventando e estudando”, diz. “A gente precisa acompanhar esse ritmo dela, que é incansável. E isso, para mim, vem até como inspiração, porque eu vejo ela trabalhando, eu vejo ela querendo, e isso me dá mais vontade ainda de estar em um lugar melhor e de ter objetivos cada vez mais altos”, completa.