Ingmar Bergman (1918-2007) faz sempre o mesmo filme. Assistir a cada um deles é uma experiência única. Algumas palavras podem dar conta do seu cinema, como nostalgia, remorso, existencialismo, abandono, angústia, socorro, mas uma delas se sobressai.
Quem já teve a oportunidade de ler um roteiro escrito pelo sueco tem a possibilidade de se perguntar o porquê dele ter preferido a sétima arte à literatura. É com agudez, poesia, riqueza de detalhes, e ritmo que o diretor tece os caminhos que o levam direto para a interrogação.
Dúvida é a palavra que melhor descreve a prolífica obra de Ingmar Bergman. Não como em Godard ou mesmo Tarkovski, mas em seu sentido mais clássico. Se, em “Mônica e o Desejo”, ele questiona a juventude, com “Morangos Silvestres” pergunta-se sobre a velhice, a passagem do tempo.
“Da Vida das Marionetes” coloca em cheque o mecanismo das relações afetivas e, com o sublime “Luz de Inverno”, a dúvida atinge a existência de Deus. “A Hora do Lobo”, “Sonata de Outono”, “Gritos e Sussurros”, “A Paixão de Ana”, “Quando Duas Mulheres Pecam”, além do supracitado “O Sétimo Selo”, embaralham as mesmas peças desse jogo de xadrez.
O estilo do artista se impõe sobre outras premissas, pois a sua maneira de contar a história atingiu aquele patamar de identificação pelos maneirismos: cor, música, intérpretes e gestos estão juntos. Embora o cinema tenha se imposto como o lugar da imagem, a força dos diálogos é mais uma das características à vista nas películas de Bergman.
O que explica, em alguma medida, a admiração do norte-americano Woody Allen. Bergman, no entanto, aparece mais habilidoso no uso delas, na escolha de, em quais circunstâncias, o texto determina peso sobre a cena, como massa de gesso que afunda a superfície, e, assim, aumenta a sua profundidade.
Apesar de temática e enredo variarem, o que permanece em Bergman é a capacidade de, através de um rosto, filmar a alma de suas personagens. E a alma, como se sabe, é o campo da interrogação. Afinal de contas, ela, em si, é uma dúvida.