Ela queria ser cantora lírica, mas acabou se tornando uma das maiores vendedoras de disco da música popular brasileira, listada ao lado de nomes como Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia pela versão norte-americana da revista Rolling Stone.
Marisa Monte é, provavelmente, a principal contribuição de Nelson Motta para a MPB. Foi o jornalista, produtor e compositor carioca que a descobriu cantando em Roma, na Itália, quando ela estudava bel-canto.
Nelson ainda colaborou com o primeiro sucesso de Marisa Monte, quando ele traduziu para o português a música que ficou conhecida como “Bem Que Se Quis”, que entrou para a trilha sonora da novela “O Salvador da Pátria”, da Rede Globo, em 1989, e ajudou a puxar as 500 mil cópias vendidas do primeiro disco da intérprete, sucesso instantâneo entre público e crítica.
Na sequência, Marisa cristalizaria o seu lugar de destaque na música brasileira, com uma mistura azeitada de pop com baladas românticas e um estilo de cantar influenciado pela bossa nova.
A escolha criteriosa do repertório e a voz cristalina impulsionaram sucessos como “Beija Eu”, “Ainda Bem”, “Depois”, “Aquela Velha Canção”, “O Que Me Importa” e “Ainda Lembro”, com direito a regravações para clássicos de Tim Maia, Luiz Gonzaga e Lulu Santos.
Outro passo definitivo na carreira de Marisa Monte foram as parcerias com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, que culminaram no grupo Tribalistas, responsável por colocar em rotação no Brasil todo as músicas “Amor I Love You”, “Já Sei Namorar” e “Velha Infância”, entre outras.
Com 55 anos de idade, Marisa Monte mantém a perenidade de sua voz e o espírito jovial, ao consagrar um modo próprio de cantar e de se portar no palco. Em abril, ela estreou a turnê “Portas” no Mineirão e levou uma multidão de fãs a se emocionar com seus sucessos que já se tornaram clássicos, além de canções do mais novo álbum.
E que ninguém se engane, pois, a qualquer momento, Marisa Monte emplaca um novo sucesso nas rádios.
“Bem Que Se Quis” (balada, 1989) – Pino Danielle em versão de Nelson Motta
Marisa Monte era uma cantora lírica em turnê pela Itália quando foi descoberta e convencida por Nelson Motta a investir no universo da canção popular. A estreia não poderia ter sido mais animadora. Lançado em 1989, o disco que continha as iniciais da debutante (“MM”) vendeu mais de 700 mil cópias e ganhou elogios entusiasmados da crítica, transformando Marisa em um fenômeno imediato.
Além de regravar canções de Tim Maia, Os Mutantes, Titãs, Candeia e Luiz Gonzaga, ela deu voz a uma versão de Nelson Motta para o sucesso de Pino Danielle, rebatizado como “Bem Que Se Quis”. Romântica, a canção entrou na trilha sonora da novela “O Salvador da Pátria”, foi regravada por Nelson Gonçalves e tornou-se um dos maiores sucessos da carreira de Marisa Monte.
“Chocolate” (música soul, 1971) – Tim Maia
Desde que se tem notícia do seu aparecimento ainda na era pré-colombiana dos países da América Central, o chocolate não serve apenas como alimento. Claro, a sua função principal é essa, até por ser difícil negar suas qualidades tão atrativas ao paladar. Mas é, sobretudo, por outros sentidos como visão, tato e olfato, que o chocolate atende a diversas intenções.
Não por acaso está associado a celebrações como a Páscoa e o Dia dos Namorados. No universo da cultura popular é difícil uma arte que tenha escapado ao seu charme. Na música, o jingle criado por Tim Maia cujas alusões ao uso de entorpecentes são frequentemente comentadas é, sem dúvida nenhuma, a de maior impacto.
Até mesmo pelo peso que o “Síndico” imprimia às suas canções. O maior cantor de soul do Brasil era seco e claro ao dizer que nada mais servia além de “Chocolate”, na música de mesmo título regravada por Marisa Monte.
“Amor, I Love You” (balada, 1999) – Carlinhos Brown e Marisa Monte
Ao invés de resistir, Carlinhos Brown e Marisa Monte decidiram assimilar a influência estrangeira na letra de “Amor, I Love You”, cujo título e refrão falam por si. A balada foi lançada em 1999 com enorme sucesso por Marisa Monte, como parte do álbum “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”.
Com um trecho do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós, recitado por Arnaldo Antunes, serviu como embrião para a formação dos Tribalistas, que lançou seu primeiro disco em 2002. Tema da novela global “Laços de Família” e indicada ao Grammy Latino de melhor canção brasileira, foi regravada por Daniel em 2015.
“Negro Gato” (Jovem Guarda, 1966) – Getúlio Côrtes
Um gato bem mais arisco e esperto foi inventado por Getúlio Côrtes em 1966. Novamente o animal serve de metáfora para a peripécia humana. E também como estímulo ao orgulho negro, que levanta a bandeira através do felino. Não por acaso recebeu uma regravação primorosa de Luiz Melodia, versão que ficaria até mais conhecido que a de Roberto Carlos por seu caráter crítico, incisivo, e dotado daquele suingue característico.
A música foi lançada pelo grupo Renato e seus Blue Caps, e também recebeu regravações de Marisa Monte, Reginaldo Rossi e Wanderléa. Desta vez é o gato que identifica o dia a dia árido da maior parte da população brasileira. “Sete vidas tenho pra viver, sete chances tenho para vencer… (…) Eu sou um negro gato…”.
“Nu Com a Minha Música” (MPB, 1981) – Caetano Veloso
Em 1981, Caetano Veloso lançou o disco “Outras Palavras”, com músicas como “Lua e Estrela”, de Vinícius Cantuária, “Verdura”, de Paulo Leminski, “Jeito de Corpo” e “Rapte-me Camaleoa”. Também se destacava nesse repertório a delicada “Nu com a Minha Música”, anos depois regravada por Marisa Monte e Rodrigo Amarante.
Em 2021, ao completar 80 anos, Ney Matogrosso escolheu a música para intitular o seu álbum comemorativo. Embora localizada em outro tempo e espaço, ela se adequou perfeitamente ao Brasil e à humanidade de agora, renovando o recado. “Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor”, canta Ney, e que ainda cita os “operários do ABC”.
“Não É Fácil” (balada, 2000) – Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes
Arnaldo Augusto Antunes Filho, conhecido como Arnaldo Antunes, nasceu em São Paulo, no dia 2 de setembro de 1960. Poeta, músico, compositor e artista visual, ele começou a carreira no grupo de Titãs no início da década de 1980, contribuindo com canções famosas, como “Comida”, “Não Vou me Adaptar”, “Televisão”, entre outras.
Após seis discos, deixou o grupo e iniciou uma bem-sucedida carreira-solo, que também abriu espaço para projetos coletivos como os Tribalistas, ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown. O trio compôs a balada “Não É Fácil”, um sucesso atemporal, lançado no ano 2000, que diz: “Todo dia de manhã/ Enquanto tomo meu café amargo/ É, ainda boto fé/ De um dia te ter ao meu lado...”. E, a interpretação de Marisa Monte, contribuiu para ressaltar a canção.