Ao longo de quase 70 anos de carreira, ela angariou 200 milhões de discos vendidos e 12 prêmios Grammy. Esses são apenas alguns dos números impressionantes que resumem a conturbada e gloriosa trajetória de Tina Turner, que morreu nesta quarta (24), aos 83 anos, após enfrentar problemas de saúde, principalmente relacionados à insuficiência renal, nos últimos tempos.
Nascida em um condado do Tennessee, berço do conservadorismo norte-americano, ela começou a carreira cantando ao lado do futuro marido, Ike Turner, em 1957, de quem se divorciou no final dos anos 1970, após recorrentes episódios de espancamento sofridos por ela. O músico morreria em 2007, vítima de overdose de cocaína. Para uma cantora negra, de origem humilde, os obstáculos foram dobrados num país abertamente racista.
Coroada. Tina lançou o primeiro álbum em 1974, e, logo de cara, mostrou a que veio. A voz privilegiada era adornada por um temperamento explosivo e um domínio da plateia em cima do palco. Atributos que a consagraram como a “Rainha do Rock”, ritmo de origem negra fortemente influenciado pelo blues e pelo R&B, praias em que a cantora também se sentia à vontade. Não foi por acaso que ela influenciou gente como Janis Joplin, ícone da rebeldia.
Os sucessos se sucederam e chegaram ao ápice com “Private Dancer”, derrubando todos os recordes vigentes na indústria fonográfica e se consolidando como estrela pop com cara de diva. “What’s Love Got to Do with It”, o grande hit do disco, sublinhava aos fãs da intérprete sua inegável habilidade para o romantismo.
Estilo. No Brasil, ela se apresentou para 182 mil pessoas no Maracanã, no Rio de Janeiro, entrando, em 1988, para o Livro Guinness dos Recordes como a cantora a reunir o maior número de pessoas em um espetáculo solo.
A personalidade exuberante, os cortes de cabelo que variavam de forma e cor, e os figurinos nada convencionais foram apenas uma das muitas marcas da personalidade artística da cantora, que conversavam diretamente com o seu estilo na hora de soltar a voz: sem economias nem pudor.
Tina não era brincadeira. Uma cantora superlativa, dada ao excesso que, como poucos, simbolizou o período áureo de uma indústria do entretenimento que ainda não fechava os olhos para critérios sensíveis, alicerçando o encontro entre duas das artes mais populares da história: a música e o cinema. Como o prenúncio de uma época em que a imagem é cada vez mais decisiva, inclusive para vozes fora de série.
“I Don’t Wanna Lose You”
Composta por Albert Hammond e Graham Lyle, a canção foi lançada por Tina Turner em 1989, como parte do disco “Foreign Affair”, e ganhou um videoclipe que focava as relações entre casais, com uma pegada feminista que cativou a crítica da época. A necessidade de unir a imagem à voz era um indício cada vez mais forte da presença do universo pop na música de Tina, que não abandonava a força da interpretação nessa balada com vocação romântica, em que sua voz, como de costume, se destaca.
“What’s Love Got to Do With It”
O topo das paradas de sucesso foi alcançado com 1 milhão e meio de cópias vendidas, graças à balada “What’s Love Got to Do With It”, lançada no quinto álbum de carreira de Tina Turner, “Private Dancer”, cujo faixa-título também comoveu os fãs. Composta por Graham Lyle e Terry Britten, posteriormente a canção deu nome a um filme homônimo, uma comédia romântica filmada na Inglaterra, no ano de 2022. Para muitos, tornou-se o maior sucesso da carreira recheada de sucessos de Tina Turner.
“We Don’t Need Another Hero”
Indicada ao Globo de Ouro na categoria melhor canção e ao Grammy de melhor performance vocal feminina em 1986, “We Don’t Need Another Hero” foi composta para integrar o filme em que Tina Turner atua ao lado de Mel Gibson, outro sucesso de bilheteria. No longa-metragem, Tina dá vez à sua faceta como atriz e interpreta uma vilã bem convincente. Composta por Terry Britten e Graham Lyle, entrou no rol de sucessos intermináveis de Tina Turner.
“Let’s Stay Together”
Foi com um retorno triunfante aos palcos em 1983, que Tina Turner relançou “Let’s Stay Together”, uma canção que já havia alcançado sucesso com o cantor Al Green. Posteriormente, a faixa acabou incluída no histórico álbum “Private Dancer”. Além de Al Green, essa canção comovente e emocionante que alia a batida disco a uma letra cheia de romantismo, também foi composta por Al Jackson Jr. e Willie Mitchell. O fato é que a interpretação arrebatadora de Tina Turner a levou para um novo patamar.
“Private Dancer”
Chegamos então à “Private Dancer”, o álbum que comporta, claro, a faixa-título, composta por Mark Knopfler. Envolta em sensualidade, a canção conta com leves sussurros de Tina Turner no início. Em uma progressão ascendente, a canção chega ao ápice no refrão, um dos mais conhecidos de toda a história da música mundial. Melodia e letra encontram uma sintonia perfeita, em que os sentimentos alcançam uma síntese poucas vezes alcançada pela arte. Tudo isso, claro, graças à voz poderosa de Tina Turner.